D. José Traquina diz que Igreja não pode ter «medo de trabalhar com os jovens»
Leiria, 18 jul 2023 (Ecclesia) – João Barreiro, do projeto «Explica-me» da Cáritas Jovem de Leiria, diz que é importante dar espaço aos jovens para a falha, sendo este um caminho construtor de compromisso com a realidade.
“Há muita tendência para que os adultos pensem, com facilidade, que algo que os jovens propõem não vai funcionar. O caminho não pode ser esse: há que experimentar. Às vezes é preciso dizer que não e balizar, mas é necessária flexibilidade para a falha, deixar fazer, ver o que corre bem e mal e avançar”, pede o jovem de Leiria, ligado à instituição de ação social da Igreja católica.
No podcast «O Amor que Transforma», da Cáritas portuguesa e da Agência ECCLESIA, João Barreiro indica que foi a possibilidade de experimentar e entender, desde cedo pelo seu percurso no Corpo Nacional de Escutas que o ser Igreja implicava um compromisso social, que o ligou à Cáritas, envolvendo jovens na ação social.
O projeto «Explica-me» junta voluntários e famílias identificadas pela Cáritas, cujos filhos têm insuficiência escolar ou deficit de acompanhamento e junto dos jovens obtêm explicações.
“A tónica que sublinhamos é não ser um centro de explicações, mas que haja uma relação entre o jovem e o explicador. Só criando relação e espírito de comunidade se consegue avançar”, precisa.
Hoje, João Barreiro dá conta que os seus amigos e as relações mais fortes que tem foram construídas nos projetos da Cáritas de Leiria e fala na importância de importância de ouvir os jovens.
“Chegou uma pessoa para fazer voluntariado na Cáritas mas a única coisa que eu tinha para ela fazer era dobrar roupa. Isso não é algo chamativo, não vai criar compromisso. Por isso é importante ouvi-los para com a sua vontade e capacidades ajudar a resolver e ajudar quem precisa”, recorda.
D. José Traquina, presidente da Comissão Episcopal Pastoral Social e Mobilidade Humana, diz que a Igreja não pode ter “medo de trabalhar com os jovens” e gostaria que a realidade juvenil da Cáritas de Leiria fosse estendida a outras geografias.
“Não fica bem aos adultos na Igreja que tenham medo da participação dos jovens. Espero que esta experiência de Leiria seja motivadora para a Cáritas em Portugal: que seja uma possibilidade em aberto que possam ter um núcleo juvenil onde o jovem tenha autonomia e protagonismo. Porque se eu o chamar para ele fazer o que eu quero, não serve”, traduz.
O bispo de Santarém indica ser necessário um “grande apelo à consciência” para que se passe “da capacidade de ver, de analisar a realidade humana” para uma missão pessoal: “Perguntarmo-nos que missão temos perante isto?”
“A fé cristã deve traduzir-se em missão e vocação. Desejo que os jovens sejam generosos na sua capacidade de ler a vida à luz da mensagem cristã, perceber o tanto que há para fazer e qual o seu lugar”, convida.
O responsável entende ser necessário “cuidar da identidade da Cáritas como organização” propondo uma “espiritualidade da ação” ao invés do que chama “assistencialismo cuja ação se esgota em si mesmo e desaparece”, reconhecendo ainda que o trabalho é valorizado com a experiência dos mais velhos e a inovação dos mais novos.
No podcast «O Amor que transforma» D. José Traquina e João Barreiro recordam o processo de crescimento na fé e a forma como descobriram o seu compromisso na Igreja.
LS