«Dignidade dos imigrantes que trabalham nesse setor é uma preocupação», afirma padre Miguel Neto

Fátima, 19 nov 2025 (Ecclesia) – O diretor da Pastoral do Turismo – Portugal (PTP), da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) afirmou que os migrantes têm um peso “muitíssimo” grande para este setor de atividade, e alertou para que vê “os imigrantes apenas como carne humana”.
“Há que quebrar o preconceito, os imigrantes não estão nem a substituir-nos, também não estão a retirar o nosso emprego, quando chegam a Portugal também não recebem imediatamente um subsídio, não há nenhuma regra, e estávamos a discutir isso aqui da AIMA. É preciso quebrar essas fake news, ter essa literacia, e estão a contribuir para a Segurança Social”, disse o padre Miguel Neto, à Agência ECCLESIA.
O diretor da Pastoral do Turismo – Portugal da Igreja Católica explicou que migrantes que estão a trabalhar em território nacional têm um peso “muitíssimo” grande neste setor de atividade, como a hotelaria e a restauração.
“A questão da restauração é muito importante, a questão da mão-de-obra mesmo da construção para a habitação, para os empreendimentos turísticos, e a questão da hotelaria. A nível da Pastoral do Turismo temos que lidar também com a questão da dignidade dos imigrantes que trabalham nesse setor, isso é uma preocupação nossa”, acrescentou o sacerdote algarvio, recordando que nas Jornadas da PTP vão tratar desse tema com base na ‘Frateli Tutti’ (dias 13 e 14 de fevereiro de 2026, no Santuário de Cristo Rei).
Não ver os imigrantes apenas como carne humana que estão aqui para trabalhar, mas como pessoas que vieram de países que muitas vezes até são explorados por nós, pela nossa roupa que vestimos, pelas componentes eletrónicas, e que vêm aqui procurar uma vida melhor e são pessoas. Essa é a primeira coisa, dar a conhecer, e o turismo, como indústria da paz.”
A Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) realizou o I Fórum Migrações, com o objetivo de sensibilizar e formar as comunidades cristãs para o fenómeno migratório, e reuniu 70 pessoas – bispos, agentes pastorais das dioceses com ligação à dinâmica das migrações, de organismos nacionais da CEP, e de congregações religiosas -, no sábado, dia 15 de novembro, no Centro Pastoral Paulo VI, em Fátima.
“Uma experiência eclesial riquíssima, porque não fazia ideia daquilo que as outras dioceses faziam a nível de integração dos imigrantes, de aulas de português, de integração até de comunidades muçulmanas; é importante que a Igreja mostre aquilo que é a sua cultura cristã, a verdadeira cultura cristã, que é a cultura do Evangelho”, destacou o padre Miguel Neto.
A cultura do Evangelho que é acolher aqueles que estão cá, acolher aqueles que nos visitam, aqueles que querem partilhar o mesmo país que nós, e também mostrar aquilo que são as nossas vidas.”

O sacerdote algarvio afirmou-se também “bastante crítico” sobre quem se apropria da identidade cristã para defender um discurso racista e xenófobo, e alertou para “o risco de um catolicismo sem ser cristianismo”: “O fundamento daquilo que é o cristianismo que eu pratico, que eu celebro, é a Sagrada Escritura, e na Sagrada Escritura Jesus Cristo acolheu”.
A partir da experiência partilhada no I Fórum Migrações da CEP, o diretor da Pastoral do Turismo – Portugal destacou também a realidade das IPSS, onde a migração “tem um peso e tem imenso”, a nível de cuidado com os idosos”, até porque muitas comunidades migrantes “têm um respeito pelos idosos que, muitas vezes, na sociedade ocidental, já é um pouco descartável”.
O primeiro ‘Fórum Migrações’ convocado e organizado pelos bispos católicos de Portugal vai estar em destaque no Programa 70×7 este domingo, às 17h30, na RTP2.
CB/OC
