«Ficou na terra o seu exemplo como homem, padre» e vida de entrega aos pobres – Padre Manuel Mendes
Lisboa, 14 jul 2021 (Ecclesia) – A Igreja Católica em Portugal vai assinalar entre hoje e sábado os 65 anos da morte do Padre Américo, fundador da Obra de Rua, recordado como um “profeta” pelo padre Manuel Mendes, responsável pela Casa do Gaiato de Miranda do Corvo (Diocese de Coimbra).
“É um profeta do nosso tempo, estamos a celebrar 65 anos da sua viagem para o céu e ficou na terra o seu exemplo como homem, padre, cuja vida foi entregue aos pobres”, disse à Agência ECCLESIA.
Américo Monteiro de Aguiar, conhecido como padre Américo, institui a Obra da Rua em janeiro de 1940, com a fundação da primeira Casa do Gaiato; o sacerdote nasceu em Galegos, Penafiel, a 23 de outubro de 1887, e faleceu no Hospital de Santo António, Porto, a 16 de julho de 1956, na sequência de um acidente de viação, tendo sido sepultado na Capela da Casa do Gaiato de Paço de Sousa, Penafiel.
O padre Manuel Mendes sublinha que o venerável padre Américo “é uma figura emblemática da Igreja Católica em Portugal no século XX” e que a sua vida é “superior á sua obra.
“Ele queria que cada pessoa tivesse uma casa, tivesse pão, tivesse roupa, tivesse saúde. O analfabetismo era um problema que o preocupava, gostava que os rapazes estudassem e fizessem o exame da 4.ª classe”, acrescenta.
O responsável pela Casa do Gaiato de Miranda do Corvo destaca que o fundador “fez milagres todos os dias”, na promoção de um rapaz, de um pobre, de um doente, procurando que fossem santos, porque “a vocação à santidade é de todo o cristão”.
A 14 de julho de 1956, o padre Américo sofreu um acidente de automóvel em São Martinho do Campo, que se viria a revelar fatal.
Esta tarde, vai decorrer um “momento de oração, junto às alminhas Padre Américo”, a partir das 17h00, seguida da celebração da Eucaristia na igreja paroquial, presidida pelo padre João Pedro Bizarro, postulador da causa de canonização.
A data iria ser assinalada com uma Missa no Hospital de Santo António, presidida pelo bispo do Porto, D. Manuel Linda, mas a celebração foi adiada por causa da pandemia.
No próximo sábado, vai ser realizada a conferência ‘Padre Américo – Místico do Nosso Tempo’, às 11h00, no Seminário Maior de Coimbra, proferida pelo padre José da Rocha Ramos; a partir das 12h00, o bispo diocesano, D. Virgílio Antunes, preside à Eucaristia, no mesmo local.
“Vamos lembrá-lo porque a causa de beatificação é para apresentar um modelo, um exemplo, à Igreja, de serviço aos pobres e também de vocação ao ministério presbiteral”, desenvolveu o padre Manuel Mendes.
A 12 de dezembro de 2019, o Papa Francisco aprovou a publicação do decreto que reconhece as “virtudes heroicas” do Padre Américo, um passo central no processo que leva à proclamação de um fiel católico como beato, penúltima etapa para a declaração da santidade.
“Santo já é para nós, o povo já o beatificou e canonizou. Esperamos e estamos numa fase orante, temos um boletim, o ‘AMA’, onde vão sendo publicadas graças que as pessoas vão recebendo”, acrescentou o entrevistado na emissão desta quarta-feira do Programa ECCLESIA (RTP2), referindo que o processo de beatificação, introduzido em 1986, “foi relativamente rápido”.
O fundador da Obra da Rua, uma das figuras mais conhecidas da Igreja Católica em Portugal no século XX, dedicou a sua vida aos mais pobres, especialmente os jovens em risco, acolhidos nas Casas do Gaiato, e aos doentes incuráveis.
Numa nota divulgada pelo cinquentenário da morte do sacerdote, a Conferência Episcopal Portuguesa sublinhava a “conversão radical a Deus e ao serviço dos pobres” que o levou a ordenar-se padre aos 36 anos, “entregando-se desde logo a visitar cadeias, hospitais e os tugúrios de famílias marginalizadas”.
Na obra “O Padre Américo e a Obra da Rua” (Aletheia Editores), Marcelo Rebelo de Sousa, presidente da República Portuguesa, evoca um “cidadão atento aos dramas da infância excluída ou em exclusão”, em particular as crianças.
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