Presidente da Conferência Episcopal alerta para «sinais claros» de radicalização, nos vários níveis da sociedade
Fátima, 08 abr 2024 (Ecclesia) – O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) alertou hoje, em Fátima, para “sinais claros” de radicalização social e política, 50 anos depois do 25 de Abril, criticando a “manipulação irresponsável” do descontentamento popular.
“Que os fundamentos da democracia não sejam postos em causa, seja pela desilusão e apatia de quem vê a deficiente solução de problemas ligados a dimensões básicas como a educação, a saúde e a habitação, seja pela manipulação irresponsável do justo descontentamento e do protesto”, apelou D. José Ornelas, no discurso de abertura da 209ª Assembleia Plenária da CEP.
O bispo de Leiria-Fátima sublinha os “ideais” de abril de 1974 como “uma gratificante ocasião de renovação e de afirmação dos valores que devem marcar o presente e o futuro”.
“A imagem emblemática dos cravos no cano das armas ilustra a festa da liberdade, da vida e da esperança que marcou e continua viva no património identitário do nosso povo. Foi possível instaurar, progressivamente, a justiça social, fomentar o desenvolvimento em tantos lugares e devolver dignidade à vida de tantas mulheres e tantos homens”, aponta.
É bom ver que o ideal de Abril nos deu a possibilidade de sermos um parceiro ativo e apreciado na busca de soluções humanizadoras para o presente e o futuro do nosso planeta e da humanidade que o habita”.
O presidente da CEP saúda o “bom funcionamento da democracia” em Portugal, num momento de vários processos eleitorais.
“Os cidadãos têm o direito de esperar que aqueles que são eleitos, sem pôr em causa as legítimas diferenças de análises e de propostas, saibam encontrar soluções concretas justas e viáveis para acudir à gravidade dos problemas, colocando o bem dos cidadãos e do país acima de interesses partidários ou corporativos”, acrescenta.
O bispo de Leiria-Fátima sublinha que, após décadas de emigração, Portugal é hoje “um país de acolhimento”, pedindo que sejam criadas “condições justas, dignas e capazes de assegurar a fraternidade, a paz e o sucesso” para quem procura uma nova vida no país.
Para o responsável, neste momento há “sinais claros de uma radicalização social, política e até religiosa, que não é exclusiva de Portugal”.
A intervenção aludiu ao processo sinodal 2021-2024, lançado pelo Papa Francisco, apontando à segunda sessão da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, que vai decorrer de 2 a 27 de outubro.
Até 15 de maio, Conferência Episcopal Portuguesa vai “pronunciar-se sobre a auscultação nacional”, que decorreu após a sessão de 2023, visando “uma Igreja sinodal em missão”.
“O sonho de uma Igreja mais participada, onde todos possam ser corresponsáveis de acordo com os seus ministérios e carismas e todos possam ser acolhidos, escutados e considerados, no respeito pela dignidade fundamental do batismo, é um desejo ardente que contribuirá para uma maior comunhão e um vigor renovado para a missão”, apontou D. José Ornelas, um dos delegados da CEP nesta assembleia sinodal.
A reunião dos bispos termina com uma conferência de imprensa, esta quinta-feira, às 15h00.
OC
A CEP, entidade representativa da Igreja Católica em Portugal, foi formalmente reconhecida a seguir ao Concílio Vaticano II, em 1967, com a ratificação pela Santa Sé dos primeiros Estatutos aprovados na Assembleia Plenária de 16 de maio, revistos posteriormente em 1977, 1984, 1999, 2005 e 2023.
De acordo com o Direito Canónico, este é o agrupamento dos bispos das dioceses de Portugal que, sob a autoridade do Papa, “exercem em conjunto certas funções pastorais em favor dos fiéis do seu território”. A Assembleia Plenária é o órgão colegial máximo da CEP. |