Organismos católicos entendem que a pobreza deveria ser «o» tema do qual «depende a construção de uma sociedade mais humana, mais coesa e mais próspera»
Lisboa, 05 ago 2024 (Ecclesia) – A Comissão Nacional Justiça e Paz em conjunto com 11 outras comissões do organismo católico publicaram hoje uma nota a apelar a que “luta contra a pobreza seja assumida como o desígnio nacional nos próximos anos”.
“Tem de haver um consenso em torno do respeito pelo igual valor e dignidade de todos e um consenso de que existem circunstâncias que nenhuma pessoa deveria suportar”, pode ler-se na mensagem enviada à Agência ECCLESIA.
A Nova School of Business and Economics publicou em maio o relatório “Portugal, Balanço Social 2023”, indicando que no ano passado a taxa de risco de pobreza era de 17%, o que significa que “há cerca de 1,8 milhões de pessoas em risco de pobreza” no país, alertam os organismos.
As Comissões nacional, Comissão Justiça, Paz e Ecologia da Conferência dos Institutos Religiosos de Portugal (CIRP), e diocesanas – Aveiro, Braga, Bragança-Miranda, Coimbra, Évora, Lamego, Santarém, Setúbal, Viana do Castelo, Vila Real, – destacam que “é sabido que a erradicação da pobreza é uma tarefa complexa e que deve ser feita por meio da intervenção coordenada de várias frentes (educação, saúde, habitação, políticas de emprego, formação profissional e proteção social), de forma a promover um desenvolvimento humano integral”.
Em 2022, seriam necessários cerca de três mil milhões de euros para retirar de imediato todas as famílias da pobreza em Portugal (1,5 % da despesa estimada no Orçamento do Estado para 2024, para um termo de comparação).
“Mas a erradicação da pobreza não é apenas uma questão de dinheiro. Não se avançará no sentido de uma erradicação plena da pobreza sem a mobilização de todos, tendo em vista a construção de uma sociedade assente no respeito pelo outro, na entreajuda e na intransigência contra tudo aquilo que coloque qualquer pessoa em situação indigna de vida”, adverte a mensagem.
As Comissões Justiça e Paz defendem que “o respeito pleno pela dignidade humana só é garantido se, a cada momento, todas as pessoas se encontrarem em condições de honrar a sua humanidade”.
“Ou seja, só é garantido se, a cada momento, todos tiverem condições de gerir a sua vida sem condicionamentos ditados pela necessidade ou pela situação de extrema vulnerabilidade”, acrescentam.
Para os organismos católicos, “ninguém deveria ficar indiferente” perante estes números e, na cena política, “este deveria ser tomado nos próximos anos como ‘o’ tema central, do qual depende a construção de uma sociedade mais humana, mais coesa e mais próspera”.
“Só um consenso em relação ao bem comum pode gerar uma transformação dos paradigmas sociais, económicos e políticos”, frisa a mensagem.
De acordo com os organismos católicos, “também os cristãos não podem ser indiferentes à pobreza”, “seja com proatividade no combate a situações de desumanidade com que se deparam, seja contrariando sentimentos de desamor e distância em relação ao próximo, o empenho no amor ao outro deve ser assumido como central no processo de conversão pessoal e na vida das comunidades”.
“Não há amor a Deus sem amor ao próximo”, sublinham.
LJ