Organismo laical defende «reconhecimento de dois Estados que correspondam aos direitos dos povos israelita e palestiniano»

Lisboa, 11 jun 2025 (Ecclesia) – A Comissão Nacional Justiça e Paz (CNJP), da Igreja Católica em Portugal, condenou hoje os “crimes de guerra” na Faixa de Gaza, a respeito do conflito entre Israel e o Hamas, pedindo a intervenção da comunidade internacional para defender os direitos da população no território palestino.
“É tão inegável a barbárie dos atos de 7 de outubro de 2023 quanto o direito de defesa de uma nação. Porém, essa reação desde há muito excedeu critérios de legítima defesa e proporcionalidade. Provocou, e continua a provocar, a morte de várias dezenas de milhares de palestinianos inocentes”, lê-se na nota enviada à Agência ECCLESIA, acrescentando que a reação de Israel “tem assentado em práticas, que se qualificam como crimes de guerra e contra a humanidade”.
O texto começa por lembrar que esta guerra “foi desencadeada como reação aos deploráveis ataques terroristas do Hamas que vitimaram cidadãos israelitas inocentes”, alguns dos quais continuam como reféns, uma realidade que condenam “firmemente e que exige uma resolução imediata”.
“A Comissão Nacional Justiça e Paz repudia as práticas desumanas e desrespeitadoras do direito da guerra e espera, da parte dos governos da União Europeia – pedindo em especial ao governo português -, ações concretas de suspensão da cooperação com o governo de Israel, sob pena de incoerência com os princípios de defesa dos direitos humanos que regem essa União”, desenvolve o organismo católico português.
Consideramos por isso, como tantas vozes internacionais que se fazem ouvir cada vez mais alto, que devem ser levados a sério os propósitos do governo israelita, com o apoio do governo norte-americano, de eliminação e deportação coletiva da população residente na faixa de Gaza.”
O organismo laical da Conferência Episcopal Portuguesa apela a todas as comunidades religiosas, “em particular a comunidade católica”, para que “continuem unidas na oração pela paz naquela região do mundo”, e em todos os contextos feridos pela guerra.
“Dando testemunho de que a fé não pactua com a indiferença nem com a violência, mas é caminho de reconciliação, justiça e compromisso com a dignidade de todos os seres humanos”, acrescenta a CNJP.
Exprimimos também a nossa solidariedade para com todas as pessoas da Terra Santa, em especial as que (sobre)vivem na Faixa de Gaza, e renovamos o propósito de rezar para que, apesar de tudo, elas não percam a esperança de um futuro de justiça e paz.”
Com a sua nota sobre a situação na Faixa de Gaza, a Comissão Nacional Justiça e Paz associa-se, “plenamente”, ao secretário-geral da ONU, o português António Guterres, no sublinhar de que o caminho para uma paz justa para a Terra Santa “só pode ser alcançado através do reconhecimento de dois Estados que correspondam aos direitos dos povos israelita e palestiniano”.
Um relatório da Comissão Internacional Independente de Inquérito mandatada pelo Conselho de Direitos Humanos da ONU, divulgado esta terça-feira, concluiu que as forças israelitas utilizaram ataques aéreos, bombardeamentos, incêndios e demolições controladas para danificar ou destruir mais de 90% das escolas e edifícios universitários em Gaza.
Essa destruição, ocorrida após os ataques terroristas liderados pelo Hamas contra Israel em 7 de outubro de 2023, tornou impossível a educação de mais de 658 mil crianças, “muitas das quais estão fora da escola há quase dois anos”, indica o texto.
“Estamos a ver cada vez mais indícios de que Israel está a realizar uma campanha concertada para destruir a vida palestina em Gaza”, disse Navi Pillay, presidente da comissão.
A Liga Operária Católica – Movimento de Trabalhadores Cristãos (LOC/MTC) de Portugal divulgou também hoje uma Moção de Solidariedade com o Povo Palestiniano, aprovada “por unanimidade”, no seu congresso nacional, realizado nos dias 7 e 8 de junho, no Seminário Diocesano de Leiria.
Já a Plataforma Portuguesa das ONGD manifestou hoje a sua posição, em comunicado, referindo que “Gaza e a sua população vivem uma crise humanitária profunda, marcada por graves violações do Direito Internacional”.
“O bloqueio à ajuda humanitária está a deixar milhares de pessoas – incluindo crianças – à fome”, assinala a nota, que condena ainda os “reiterados ataques a trabalhadores humanitários”.
Segundo a plataforma, um escritório da Médicos do Mundo foi atacado esta terça-feira, provocando a morte de oito pessoas, incluindo 4 crianças.
“Apelamos aos decisores políticos, ao nível nacional, europeu e internacional, que exijam o fim imediato do bloqueio, o respeito pelas convenções humanitárias e a responsabilização de quem as viola”, apontam as organizações não-governamentais para o desenvolvimento.
CB/OC
![]() A Comissão Nacional Justiça e Paz propõe também que, “ao longo do mês de junho, e em jeito de oração”, se juntem a voz das comunidades cristãs “a todas as pessoas de boa vontade”: ‘Escuta, Israel, o clamor que se ergue do pedaço de terra que transformaste em campo de concentração. Lembra-te, Israel, de como o nosso Pai Abraão se abeirou do Altíssimo para lhe pedir clemência da cidade inteira ainda que nela apenas houvesse dez homens justos. “Destruirás o justo com o injusto?” (Gn 18, 23). E lembra-te de como por causa dos dez justos o Senhor poupou Sodoma (Gn 18, 31). «A misericórdia e a verdade vão encontrar-se, vão beijar-se a paz e a justiça; da terra há de brotar a verdade, e a justiça espreitará do céu» (Sl 85, 11-12). Lembra-te, Israel, dos duros cativeiros que sofreste e não queiras pagar o mal com o mal, nem curar as tuas feridas com crueldade.’ |