Prefeito do Dicastério para a Cultura e Educação sublinhou necessidade de acompanhamento humano da inteligência artificial

Lisboa, 20 jun 2024 (Ecclesia) – O cardeal português D. José Tolentino Mendonça recebeu na noite de quarta-feira o Prémio Pessoa 2023, numa cerimónia que decorreu na Culturgest, em Lisboa.
No seu discurso, o poeta e biblista alertou para os riscos de “delegar o futuro nas mãos de um processador de algoritmos” da inteligência artificial, observando que a humidade deve depender das “convicções e dos sonhos de comunidades sensatas e não de um pilotamento automático”.
“A inteligência artificial, para estar realmente ao serviço das pessoas deve ser associada a uma inteligência que não é a das máquinas, mas é a multímoda inteligência humana que torna, por exemplo, possível em nós o espanto e a poesia; a gratidão e o perdão; a alegria, a compaixão ou o amor”, disse, numa intervenção citada pela Rádio Renascença.
O cardeal português assinalou ainda que o aumento da idade média de vida “representa um património imenso” que desafia a “trabalhar num projeto de sociedade que privilegie a ativação da esperança e a deseje fraternamente repartida, acessível a todos, protagonizada por todos”.
Estou convencido de que tal acontecerá na medida em que ganharmos consciência do papel crucial que representa a comunidade, cujo lugar deve ser reabilitado. Comunidade que, por sua vez, é feita de uma constelação de comunidades, saudavelmente diversas, mas com competências para estabelecer interseções justas, diálogos abertos e colaborativos, possibilidades e práticas de reconhecimento e de encontro”.
D. José Tolentino Mendonça foi ainda condecorado pelo presidente da República com a grã-cruz da Ordem Sant’Iago da Espada.
“A singularidade de José Tolentino Mendonça está na dependência daquilo a que designaria como um princípio poético. Não me refiro apenas à sua poesia publicada que fez dele um dos poetas maiores da sua geração e do Portugal contemporâneo”, referiu Marcelo Rebelo de Sousa.

“Estou a pensar num certo propósito, num certo tom, num certo afeto ou afeição que encontramos nas crónicas como nas homilias, nos diálogos como nos discursos, nas entrevistas como nos ensaios bíblicos, ou nas meditações, o princípio de um humanismo transfigurado, atento aos detalhes e aos enigmas da vida concreta de todos – mas mesmo todos – e entrevendo sempre a hipótese, o desejo ou a certeza do Divino”, acrescentou o chefe de Estado.
Antes da cerimónia, em declarações aos jornalistas, D. José Tolentino Mendonça sublinhou a importância de “tudo aquilo que seja possível fazer para estimular o papel da criação”, de “tudo o que puder ser apoio aos artistas e ao mundo da cultura”.
“Penso que isso é muito importante para que a cultura não seja um parente pobre, mas seja de facto aquilo que é: um fator extraordinário de desenvolvimento e aproximação entre as pessoas”, indicou.
O cardeal Tolentino Mendonça já tinha sido condecorado, em 2001, com o grau de comendador da Ordem do Infante D. Henrique e, em 2015, com o grau de comendador da Ordem de Santiago d’Espada, que se destina a distinguir o mérito literário, científico e artístico.
“Merece obviamente ser grã-cruz, e não é por excesso, é por defeito, em nome de Portugal”, declarou Marcelo Rebelo de Sousa.
OC