Igreja/Portugal: Bispo das Forças Armadas e de Segurança convida capelães militares a «escutar» o povo «com paciência», num tempo em que «todos falam» e «opinam»

D. Sérgio Dinis presidiu à celebração da Missa Crismal na Igreja da Memória, em Lisboa

Foto: Agência ECCLESIA/LJ

Lisboa, 16 abr 2025 (Ecclesia) – O bispo das Forças Armadas e de Segurança convidou hoje os capelães militares,que participaram na Missa Crismal, na Igreja da Memória, em Lisboa, a escutar a palavra de Deus e do povo.

“Caros padres, a nossa vocação não é um peso, é uma bênção. Mas é uma bênção que precisa de ser renovada no coração. Por isso, hoje somos convidados a voltar à fonte. A escutar. Sim, a escutar. Não podemos ser pastores que não escutam”, afirmou D. Sérgio Dinis, na homilia da celebração.

Para o bispo das Forças Armadas e de Segurança, os capelães devem em primeiro lugar “escutar a Palavra de Deus”, “escutar Deus no silêncio”.

“Pergunto-vos, como ministros da Palavra de Deus, quando foi a última vez que deixámos a Palavra julgar-nos, consolar-nos, reanimar-nos. Quando foi a última vez que saboreámos, e não apenas preparamos uma homilia?”, questionou.

D. Sérgio Dinis destacou também a importância de “escutar o povo”, isto é, “os militares, os polícias e civis, as mulheres e os homens” que estão confiados aos capelães.

“Escutar com paciência. Vivemos num tempo em que todos falam, em que todos opinam, mas poucos escutam de verdade. Mas como escutar bem se a nossa agenda está sobrecarregada, se o telefone não para, se temos mil coisas para fazer?”, referiu.

Talvez seja aqui que, segundo o responsável pelo Ordinariato Castrense, se joga a fidelidade á vocação dos capelães: “ter tempo para escutar – mesmo quando parece que o tempo falta para tudo”.

“Escutar não é ‘perder tempo’, é semear futuro. É deixar que a Palavra do outro nos toque, e que, através dela, também Deus nos fale”, sublinhou.

O bispo das Forças Armadas e de Segurança salientou que “escutar requer tempo, atenção, silêncio interior” e exige que cada um saia de si próprio para entrar “na realidade do outro – com respeito, com humildade, com abertura”.

“Os verdadeiros ouvintes são raros. Muitos falam, poucos se deixam tocar pela dor do outro. O sacerdote que escuta é alguém que se dispõe a caminhar com. Não se limita a responder: acolhe, contempla, sofre com, espera com”, assinalou.

D. Sérgio Dinis pediu aos capelães para não terem “medo de escutar também as vozes que discordam e desconcertam, que ‘desafinam’, que desafiam e que ferem”.

“São essas que nos tornam mais humanos, mais humildes, mais próximos do Senhor Jesus”, referiu, citando depois o documento do Sínodo que diz que a escuta “é um ato profundamente cristológico – é fazer como Jesus, que se detinha com cada um, que não despachava ninguém, que escutava antes de falar”.

Foto: Agência ECCLESIA/LJ

“A escuta verdadeira transforma-nos. E quando escutamos, o nosso povo sente-se amado”, enfatizou D. Sérgio Dinis, justificando que antes de qualquer doutrina ou norma, o que cura o coração é a proximidade.

De acordo com o bispo das Forças Armadas e de Segurança, o tempo que se dedica “aos outros – mesmo que pareça ‘perdido’ – é sempre fecundo”.

“Escutar é mais do que ouvir: é deixar que o outro entre no nosso coração. É deixar que Deus fale onde e como Ele quiser”, afirmou.

No final da homilia, o bispo pediu aos capelães que, ao renovarem as promessas sacerdotais, o façam com a “humildade de quem sabe que não é perfeito”, mas com “a confiança quem sabe que é amado por Deus”, que “é sustentado pelo Espírito”, “que não caminha sozinho”.

“Fomos ungidos por Alguém que caminha connosco. Que o nosso ministério não depende apenas das nossas forças. Como nos lembra a Spes non confundit, o nosso serviço é alimentado pela esperança. E essa esperança não engana”, disse.

D. Sérgio Dinis exortou todos a pedir a Maria, Mãe dos Sacerdotes, que os ensine “a escutar como ela”, “a escutar Deus com atenção, “a escutar os acontecimentos com sabedoria e “a guardar tudo no coração”.

Na Eucaristia, animada pelo coro da Guarda Nacional Republicana, foram benzidos os santos óleos – dos enfermos, dos catecúmenos e o santo óleo do Crisma.

Em declarações à Agência ECCLESIA, D. Sérgios Dinis abordou os desafios que os capelães militares enfrentam, referindo que poucos são os sacerdotes que “se dedicam única e exclusivamente ao serviço das Forças Armadas e das Forças de Segurança”.

“Eles acumulam muitos outros trabalhos pastorais, mesmo nas suas dioceses de origem, onde estão incardinados e, por isso, muitas vezes é questão da falta de tempo. Mas esta escuta deve ocupar um lugar de primazia”, enfatizou.

O bispo das Forças Armadas e de Segurança reforçou que “escutar o outro significa, acima de tudo, ter tempo para ele e ver que não é um tempo perdido”.

Ordenado bispo a 26 de janeiro de 2025, D. Sérgio Dinis refere que já teve a oportunidade de se encontrar com as chefias dos diferentes ramos das Forças Armadas, “com a tutela política, quer da administração interna, quer da Defesa Nacional”.

Foto: Agência ECCLESIA/LJ

“Já tive a oportunidade de visitar alguns dos nossos militares, mas estou longe ainda, muito longe de tomar conhecimento de toda esta diocese, que é uma diocese muito dispersa e não é somente dispersa. Cada ramo tem as suas características muito peculiares e, portanto, é necessário tempo, proximidade, para fazer esse conhecimento. Isso vai demorar tempo”, indicou.

Quase três meses depois de ter tomado posse, o novo responsável do Ordinariato Castrense faz um balanço “muito positivo” deste período e dá conta que as Forças Armadas e as Forças de Segurança “pedem mesmo a presença da Igreja”.

“Isto a um bispo dá um ânimo muito grande. Saber que somos queridos, que consideram a nossa missão importantíssima, para que eles possam melhor servir também os cidadãos”, expressou.

LJ/OC

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