Jornalista Austen Ivereigh e a investigadora Elena Lasida partilharam a importância desta encíclica «para a Igreja e para o Mundo», e sonharam com o futuro da ecologia integral

Ourém, 25 out 2025 (Ecclesia) – A Associação ‘Casa Velha’, e oito entidades, realizaram hoje um encontro dedicado aos 10 anos da Encíclica Laudato Si’, do Papa Francisco, para ‘celebrar o caminho, animar à ação’, com oradores, testemunhos e partilhas onde sonharam um futuro integral.
“As respostas das nações às alterações climáticas não têm sido suficientes, é fácil, perder a esperança, mas, eu vejo um crescimento muito importante a nível da comunidade, da Igreja de diocesana, que é simplesmente estar aqui esta tarde, como estava numa conferência no Vaticano há algumas semanas, a ouvir bispos, religiosas, as histórias de paróquias, que todos estão a fazer coisas, talvez, pequenas, nas suas comunidades”, disse Austen Ivereigh, em declarações à Agência ECCLESIA.
O jornalista inglês, conhecido como o biógrafo do Papa Francisco, realça que coletivamente se está “a viver o fracasso do multilateralismo de cima”, mas está a ser criado “o multilateralismo desde baixo”, das comunidades, que, considera, “a longo termo, vai ser mais eficaz”, porque é ali que começa a conversão que “ainda não se vê refletida na política, mas é para o futuro”.
A Associação ‘Casa Velha – Ecologia e Espiritualidade’, e várias orgamnizações parceiras, comemoraram os 10 anos da publicação da Encíclica Laudato Si’, do Papa Francisco, com um encontro para ‘celebrar o caminho, animar à ação’, este sábado, dia 25 de outubro, em Vale Travesso (Ourém).
“Eu acho que foi a grande profecia dele, No caso da ecologia e no caso da sinodalidade, eu acho que foi profético. Ele enfatizou uma coisa que a maioria dos católicos não estavam dispostos a aceitar ou não viam. Profético, é a palavra principal”, afirmou Austen Ivereigh.
Para falar da ‘importância da Laudato Si para a Igreja e para o Mundo”, a organização convidou também a teóloga Elena Lasida, que considera positiva a primeira década da encíclica ecológica e social do Papa Francisco, porque “marca um antes e um depois”, existiu “todo um entusiasmo ao principio, que diminuiu um pouco”, mas há algo que começou e que vai continuar.
“Eu penso que há uma evolução permanente nestes 10 anos; há muitas experiências de poder estabelecer uma relação mais forte entre a comunidade e a terra, entre distintas comunidades, mas parece-me que há muito por fazer todavia, mas o processo está iniciado”, disse a também economista, à Agência ECCLESIA.
Rita Sacramento Monteiro, da Associação ‘Casa Velha’, explicou que pareceu importante assinalar este décimo aniversário do “documento vivo” publicado em 2015 “porque é preciso celebrar”, e reconhecer o “muito caminho que se fez e que inspirou a Laudato Si”, desde processos individuais, mas também processos coletivos.
“E a partir da Casa Velha, que é lugar da ecologia e espiritualidade, que tem exatamente na sua missão contribuir para o desenvolvimento humano integral, a partir da relação com a terra e com tudo o que nos rodeia, da boa relação connosco, com o outro, e com Deus, pareceu-nos que este era o lugar que fazia sentido para acolher mais perto da terra este grupo de pessoas que quer celebrar a Casa Comum da qual fazemos parte e que quer sonhar os próximos 10 anos”, desenvolveu.
Para Elena Lasida é “difícil antecipar” o futuro, mas espera que os próximos 10 anos “todo este processo que começou gere instituições novas, una nova forma de ser Igreja”, e considera que “todo este caminho sinodal se abre a isso”, e instituições novas também a nível político e a nível económico, de âmbito nacionais e internacionais.
“Eu espero os que próximos 10 anos sejam anos de experimentação, de novas formas de viver coletivamente, humanos e não humanos”, acrescentou a teóloga e economista.
Sobre os próximos 10 anos, o jornalista Austen Ivereigh começou por destacar que “o apoio do Papa Leão XIV à Laudato Si tem sido fundamental”, e deu como exemplo o projeto ‘Borgo [bairro] Laudato si’, na residência pontifícia de Castel Gandolfo, nos arredores de Roma, que está a “enviar uma mensagem muito importante” aos bispos do mundo e às dioceses, porque “se o bispo do Roma pode fazer isto com a sua própria terra, na sua diocese, o que é que podem fazer os bispos nas suas dioceses”.
“Espero que nos próximos 10 anos, se fizermos esta mesma entrevista em 10 anos, que existam muitos mais exemplos do que há agora, de uma Igreja que tome muito em sério este testemunho da ecologia integral”, acrescentou, destacando também o exemplo dos bispos irlandeses que também devolveram “uma parte da terra, não importa que seja pequena, à natureza”, como podem criar espaço para que a natureza volte a ser frutífera.
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O encontro ‘10 anos Laudato Si’ – celebrar o caminho, animar à ação’ foi organizado em parceria com a Universidade Católica Portuguesa (UCP), a Comissão Nacional Justiça e Paz (CNJP), a Rede Cuidar da Casa Comum, a Companhia de Jesus (Jesuítas) e as Escravas do Sagrado Coração de Jesus. “Vemos que foi feita muita coisa, ou seja, não só porque entre nós há organizações que surgem a partir da encíclica, mas também porque todos nós, nas nossas organizações e a partir da missão de cada um, reconhecemos os muitos processos que a Laudato Si impulsionou. Também reconhecemos que há dentro da Igreja resistências ou desconhecimento ou uma ideia fragmentada do que é esta encíclica”, disse Rita Sacramento Monteiro, da ‘Casa Velha’. Do programa constaram ainda ‘Rodas de escuta: partilha de ecos’ (12h15), ‘Laudato Si’ em ação’ (15h00) e a ‘Oração com a Criação’. “Também nos parece que é preciso cada vez mais celebrar, reconhecer e partilhar entre as dioceses, comunidades, paróquias, organizações que já têm práticas de ecologia integral, que vão desde questões ambientais a questões sociais, questões económicas, questões relacionais, propostas espirituais, é preciso partilhar mais, valorizar e dar a conhecer para animar, porque o testemunho tem que ser um testemunho de sentido, um testemunho de esperança para que também mais católicos queiram conhecer, queiram se atrever e queiram-se pôr neste (6:51) processo de conversão ecológica”, acrescentou a entrevistada, da Associação ‘Casa Velha – Ecologia e Espiritualidade’. Os participantes pensaram e reconheceram “o muito que já se fez, o muito que vivem nas suas famílias, nas suas comunidades, paróquias, dioceses e organizações”, e o que é que podem ser “caminhos futuros”, e, agora, a organização do encontro vai escrever uma carta com “esta ideia de um sonho coletivo” para a Igreja em Portugal e ao povo de Deus, que são “todos nós”, de reconhecimento do “caminho percorrido e a pedir mais arrojo, a pedir que mais pessoas se atrevam a cruzar com este documento vivo”, e que “entendam que o grito da terra e o grito dos pobres é um só grito”. “A ecologia integral não é uma ecologia verde ou só um ambientalismo, a Igreja com esta encíclica vai para além do ambientalismo e propõe uma visão integrada, integral e holística e desafia-nos à coerência”, salientou Rita Sacramento Monteiro. |









