Igreja/Política: Vaticano critica planos para um «novo Médio Oriente» sem o povo da Palestina

Editorial do portal «Vatican News» rejeita qualquer proposta que vise deslocação forçada da população, na véspera de encontro entre Leão XIV e presidente de Israel

Foto: Lusa/EPA

Cidade do Vaticano, 03 set 2025 (Ecclesia) – O portal de notícias do Vaticano publicou hoje um editorial com críticas a planos para um “novo Médio Oriente” que excluem da equação o povo da Palestina.

“Certas propostas de desenvolvimento, que impõem aos palestinos um futuro decidido por eles e talvez até sobre eles, ou pior, contra eles, não são mais do que uma prova adicional de arrogância e cegueira. O futuro dos palestinos pode e deve ser decidido apenas com eles, nunca sem eles”, refere o texto, assinado por Andrea Tornielli, diretor editorial do Dicastério para a Comunicação (Santa Sé).

A nota contesta, em particular, as “evacuações voluntárias”, que coloca na linha das atuais “deslocações forçadas, destruição total, mortes sem fim, hospitais atingidos, assassinatos diários de quem está na fila para um pedaço de pão, o bloqueio de qualquer perspetiva política clara para dar ao povo palestino dignidade e um lar na sua própria terra”.

“O que está a acontecer está, infelizmente, destinado a criar a próxima geração de ódios e corre o risco de ser mais uma antecâmara de mais uma futura onda de violência”, adverte o editorial.

O texto condena o “horror” do ataque do Hamas contra Israel, a 7 de outubro de 2023, “um ato terrorista desumano que se deve condenar sem reservas”, contestando a “reação desproporcionada” das forças israelitas, considerando que “ultrapassou todos os limites eticamente aceitáveis”.

“Se analisarmos a guerra desencadeada em Gaza tendo em conta o que está a acontecer no resto da Palestina, naquilo que outrora se chamava Cisjordânia, não podemos deixar de pensar que, para além da reação ao massacre de 7 de outubro, existem também outros objetivos”, denuncia o Vaticano.

A expansão dos assentamentos, as agressões contínuas e impunes dos colonos, as declarações públicas de alguns ministros do governo israelita que desejam o fim da Autoridade Palestina, a anexação de todos os territórios e a deportação dos palestinos levam-nos a pensar que o objetivo vai muito além da eliminação do Hamas ou da garantia de segurança para o Estado de Israel.”

O editorial observa nos planos para um novo Médio Oriente “não parece haver lugar para o povo palestino”, questionando propostas de construção de “resorts de luxo”.

“É triste constatar a fraqueza da comunidade internacional e dos organismos multilaterais, incapazes de travar esta deriva, à qual se junta a ignorância voluntária de qualquer convenção internacional, do respeito pelas regras e pelos comportamentos morais. A única linguagem que resta é a da força, nas palavras antes mesmo do que na ação militar”, pode ler-se.

Não se pode construir nenhum futuro baseado na força, na falta de respeito pela vida do homem, na sua aspiração a uma existência digna e segura. Desejamos isso – e reiteramos com convicção – para os israelitas, continuando a pedir a libertação imediata de todos os reféns ainda presos nos túneis de Gaza, como fizeram nos seus apelos primeiro o Papa Francisco e depois o Papa Leão. Desejamos o mesmo para os palestinos. Pedimos que os reféns sejam tratados de forma digna e humana e, ao mesmo tempo, que os palestinos de Gaza sejam tratados de forma digna e humana.”

Nesta quinta-feira, Leão XIV vai encontrar-se com o presidente israelita, Isaac Herzog, que se vai reunir ainda com o secretário de Estado do Vaticano, cardeal Pietro Parolin.

Herzog esteve no Vaticano por ocasião da Missa de início do pontificado de Leão XIV, a 18 de maio.

O diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Matteo Bruni, referiu, em nota enviada aos jornalistas, que “é prática da Santa Sé aceitar pedidos de audiência dirigidos ao pontífice por chefes de Estado e de Governo, não é prática enviar-lhes convites”, respondendo assim a polémicas sobre a iniciativa de promover o encontro.

OC

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