Igreja/Política: Maria de Lourdes Pintasilgo «poderia ter escrito a Laudato Si», diz António Marujo

Jornalista apresentou a reedição do livro «Cuidar o Futuro», escrito pela antiga primeira-ministra

Lisboa, 23 fev 2018 (Ecclesia) – O “diálogo mensal” no Graal sublinhou, esta quinta feira, a memória de Maria de Lourdes Pintasilgo, ao apresentar a reedição do seu livro “Cuidar o Futuro”.

António Marujo, que apresentou a obra, recordou a dimensão política e cristã da autora e considerou que “Maria de Lourdes Pintasilgo poderia ter escrito a Laudato Si”, a encíclica do Papa Francisco em que se propõe uma ecologia integral.

O jornalista mostrou-se convicto de que o texto do documento pontifício “não seria muito diferente, tendo em conta as convicções de ambos, e a forma com partilham uma visão do mundo com muitos pontos em comum”.

“Cuidar o Futuro” resulta de um relatório publicado em livro em 1998, elaborado pela Comissão Independente para a População e Qualidade de Vida a que Maria de Lourdes Pintasilgo presidiu entre 1992 e 1997, sob a égide das Nações Unidas.

Traduzido em diversas línguas e publicado em português em 1998, sob o título “Cuidar o Futuro”, resulta de um trabalho de investigação que parte do contacto direto com os “problemas da população” a nível mundial, a consequente elaboração de uma nova visão tendo em vista estimular uma ação urgente.

Este estudo influenciou profundamente a vida cívica de Maria de Lourdes Pintasilgo, que importa recuperar para o presente de forma a combater algum esquecimento em que a sua memória parece ter caído.

António Marujo considera que tal se deve à “mediocridade de alguns setores políticos nacionais, que nunca valorizaram o seu contributo”.

Maria de Lourdes Pintasilgo chegou a ser proposta, por diversos países, para Diretora geral da UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, mas tal não foi acolhido pelo governo da altura.

“Um exemplo da mesquinhez e da mediocridade portuguesa, que se reflete nalguns âmbitos da nossa vida coletiva”, considera António Marujo que entende que isto acabou por condicionar a divulgação do seu pensamento.

O jornalista afirma que em causa não estão apenas as ideias de um político, mas alguém que “enquanto crente tem uma profundíssima visão do que é o papel dos cristãos no mundo contemporâneo”.

António Marujo considera Maria de Lourdes Pintasilgo “uma grande mística do cristianismo contemporâneo” e está convicto de que “o seu modo de ver e de viver os problemas, ainda nos pode iluminar muitos caminhos para a ação”.

Margarida Santos, que preside à ‘Fundação Cuidar o Futuro´’, considera que este livro “é uma mensagem para o mundo” e neste momento é muito importante regressar ao pensamento político de Maria de Lourdes Pintasilgo porque “é algo global que toca na vida das pessoas”.

Lourdes Pintasilgo foi a primeira mulher (a única até ao momento) a assumir o cargo de primeira-ministra em Portugal; liderou o V Governo Constitucional, de 31 de julho de 1979 a 3 de janeiro de 1980.

A Fundação Cuidar o Futuro foi fundada em 13 de julho de 2001 pela associação Graal. Inspira-se na filosofia da Cultura e Ética do Cuidado e assume o legado de Maria de Lourdes Pintasilgo de promover pontes entre o pensamento e a ação, que sejam estruturantes para a melhoria sustentada da Qualidade de Vida.

LFS/HM

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