Igreja/Política: Foco dos políticos nos problemas reais das pessoas é o «maior antídoto contra qualquer inimigo das democracias» – Gabriel Albuquerque (c/vídeo)

Professor da Faculdade de Direito da UCP olha para o exercício da política, num momento em que portugueses são novamente convocados para eleições legislativas

Foto: Lusa

Lisboa, 24 mar 2025 (Ecclesia) – Gabriel Albuquerque, professor da Faculdade de Direito da Universidade Católica Portuguesa (UCP) e autor do livro ‘Ao Leme de Portugal’, defende que os políticos se deveriam centrar nos problemas reais que afetam os cidadãos no quotidiano, beneficiando a democracia.

“Os políticos terem como foco último da sua atuação os problemas concretos das pessoas, os problemas reais, será provavelmente o maior antídoto contra qualquer forma e contra qualquer inimigo das democracias”, afirmou o docente, em entrevista à Agência ECCLESIA.

Segundo o professor da UCP, os cidadãos confiam mais nos representantes quando estes conseguem cumprir o tratamento dos problemas que afetam o dia a dia dos portugueses, salientando que “se os políticos tiverem essa premissa bem assente” a “democracia beneficiará em muito”.

Em declarações no âmbito das eleições legislativas, agendadas para 18 de maio, na sequência da crise política que culminou na queda do Governo português, o professor da UCP assinala que atualmente assiste-se a uma “certa fratura social”, a uma “certa individualização da sociedade e da comunidade política”, em que determinados grupos se preocupam mais com os próprios do que uma visão coletiva de comunidade.

“É um momento precisamente desafiante para voltarmos a seguir este repto, quer do Papa Paulo VI, quer reiterado pelo Papa Francisco, de olharmos para um serviço à comunidade como um todo”, referiu Gabriel Albuquerque.

O professor da UCP destaca que “perspetivar a política como uma forma de serviço traz muitas consequências, tem muitas implicações”, indicando que muitas vezes “é quase um contraciclo e é uma perspetiva em contracorrente” com aquilo que se assiste pelo mundo fora.
“Assistimos a invasões, a guerras que são espoletadas precisamente por causa desses orgulhos e por causa dessas ambições individuais e não tanto pela perspetiva do bem dos povos, do bem das comunidades, que deveria sempre presidir ao serviço e à causa pública nesta ótica da política como uma forma de caridade”, sublinhou.

Sobre a instabilidade política, o autor fala que esta resulta da “dificuldade do diálogo e do consenso”, realçando que “não é algo exclusivo de Portugal”, sendo “praticamente comum a todas as democracias ocidentais”.

“A nossa cultura democrática deveria primar mais pelo encontro, pela capacidade de diálogo e por encontrar dominadores comuns. E em torno desses dominadores comuns construir um projeto de país no qual o grosso dos cidadãos se reveja”, ressaltou.

Para Gabriel Albuquerque, em Portugal, a “generalidade das pessoas não difere muito nas suas opiniões em relação a temas estruturais”, considerando que é “possível chegar a consensos”, no entanto “os representantes estão mais preocupados em encontrar as diferenças em busca talvez de ganhos políticos”.

Relativamente à participação dos jovens na vida política, o docente da UCP considera que é “injusto a opinião que muitas vezes é reiterada e vinculada” de que “não têm predisposição política ou não têm interesse político”.

“A verdade é que os jovens se interessam muitas vezes por causas políticas, nomeadamente por causas cívicas como uma componente política e vemos o envolvimento dos jovens em relação à questão ambiental e entre outras, não só, em questões de solidariedade, por exemplo, em empenhos em causas sociais”, exemplifica.

De acordo com o docente, “cada vez mais novos agentes políticos de uma nova geração” ocupam espaço mediático, algo “fundamental para o rejuvenescimento da democracia e para que a democracia continue a mostrar que tem adesão junto das comunidades e junto dos mais jovens”.

‘Ao Leme de Portugal’ é o nome do livro da autoria de Gabriel Albuquerque, baseado em biografias de presidentes da República e de primeiros-ministros desde 1974, bem como a descrição dos seus governos.

O professor da Faculdade de Direito da UCP começou a escrever a obra com apenas 17 anos, porque tinha interesse pela política e não encontrava um espelho que “mostrasse com alguma realeza aquilo que tinha sido o sistema político durante os últimos 50 anos”.

“Aquilo a que me propus na altura foi de fazer um estudo sobre os principais protagonistas, portanto aqueles que tinham conduzido o barco do país”, explica.

Gabriel Albuquerque enfatiza a importância dos atuais políticos revisitarem aqueles que lhes antecederam o caminho, acreditando que este é um exercício que é feito.

“É comum nós vermos como a história se repete e como episódios semelhantes da nossa atividade política contemporânea têm muitas semelhanças com períodos da nossa história recente destes últimos 50 anos”, refere.

O quadro constitucional português é “plural” e “rico” que, segundo o professor da UCP, permite “soluções bastante diversas” e que “tem apresentado uma grande capacidade de elasticidade e que se tem adaptado bem aos diferentes desafios”.

“Essa elasticidade depois permite que os políticos olhem para o passado e consigam retirar ilações de soluções que foram apresentadas para encarar os desafios do futuro”, realça, em entrevista emitida esta segunda-feira, no Programa ECCLESIA (RTP2).

HM/LJ/OC

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