Igreja/Política: «As ideologias, às vezes, atrapalham muito, porque nos cegam», afirma bispo de Lamego

D. António Couto comenta situação política em Portugal, com aproximação das eleições legislativas, e o contexto internacional, marcado por guerras

Foto Agência ECCLESIA/PR, D. António Couto, Bispo de Lamego

Lamego, 11 abr 2025 (Ecclesia) – O bispo de Lamego afirmou que, por vezes, as ideologias interferem com a capacidade de ver a realidade, comentando a aproximação das eleições legislativas, que acontecem a 18 de maio.

“Acho que as ideologias, às vezes, atrapalham muito, porque nos cegam”, referiu D. António Couto, em entrevista à Agência ECCLESIA.

Depois da queda do Governo, os portugueses são chamados a ir às urnas para eleger os deputados na Assembleia da República e D. António Couto mostra-se cético quanto ao surgimento de entendimentos entre as várias propostas partidárias para “construir um mundo novo”.

“Infelizmente, para ser realista, eu duvido muito que as pessoas se vão entender e vão perceber que, juntos, devemos trabalhar para construir um mundo novo e o melhor possível para mim, para ti e para todos”, declarou.

Para o bispo de Lamego, todos vão andar com “esperanças cegas” até ao dia 18 de maio, “pensando que vão conseguir o melhor resultado possível”.

“Só pensam nisso! Não pensam em mais nada, não pensam, de facto, em construir um país civilizado, em que a gente se entenda”, salientou.

Em contexto de eleições, D. António Couto olha para a construção de um mundo melhor para todos como “um caminho difícil”, considerando que chegar a um entendimento com centenas, milhares ou milhões de pessoas é um “desafio” a que o ser humano “não deve fugir”.

“Quando um de nós entra a desprestigiar o outro, nós também saímos desprestigiados. Isto é, eu perco muito da minha humanidade quando ocupo o meu tempo a não a fazer uma coisa produtiva e bela e boa”, destacou.

Num mundo caracterizado pelo crescimento dos extremismos e populismos e em que são aplicadas tarifas aduaneiras por parte dos EUA, D. António Couto entende que é “difícil saber” para onde é que se caminha.

“Quando há um tirano que domina tudo o resto, controla tudo o resto, tem tudo na mão, e os outros apenas são objetos que devem cumprir as normativas que vierem do dito tirano, seja ele quem for, de facto a nossa vida esbate-se completamente”, referiu.

D. António Couto admite que a humanidade está, de certo modo, “a negar-se a si mesma”.

Olhando para guerra na Terra Santa, no Médio Oriente, o bispo de Lamego afirma que, hoje, tem muita dificuldade em perceber que “irmãos” que conheceu e com quem conviveu, no tempo em que foi estudante em Jerusalém, “são objeto da mira de armas sofisticadas” e “são mortos”.

O bispo da Diocese de Lamego defende que os habitantes da Palestina “têm direito à sua terra” e olha para o que tem acontecido no Médio Oriente como “massacres”.

“Eu vejo aquilo com muita pena. Com muita pena, sobretudo porque alguns rostos devem ter passado por mim, muito provavelmente. Isso custa-me a aceitar. Sobretudo isso”, relatou.

A resolução do conflito está, de acordo com o responsável católico, nas mãos “da inteligência e do bom senso”, “da reflexão” e “de chamar as pessoas à sua responsabilidade”.

Apesar de haver quem o faça, o bispo de Lamego assinala que também há “jogos ao contrário”: “Há outros que provocam no sentido de ‘vamos terminar, vamos liquidar, vamos pela força’, acrescentando que a força cria “imensos problemas”.

“Nós usamos a palavra ‘força’ para dizer, ‘bom, eu tenho poder, eu tenho dinheiro, eu tenho armas, posso liquidar esses planos todos’”, explicou.

Para D. António Couto, o que está a acontecer em várias geografias do mundo, como na Ucrânia, no Irão, no Médio Oriente, na Síria, no Líbano, na Cisjordânia,” são ações de força”, “força abrupta”.

“Se nós não abrirmos os olhos rapidamente, eu acho que podemos chegar a esse mundo estúpido, que não faz nenhum sentido, em que haja um fulano que mande em tudo, que diga tudo, que tem a única palavra e o resto não conta”, afirmou.

O bispo de Lamego considera que o mundo está diante do risco de “absolutismos”, antecipando lutas entre eles.

“Um absolutismo único será sempre muito complicado, muito difícil, a não ser que um consiga aniquilar tudo o resto e passar por cima de tudo o resto”, realçou.

PR/LJ

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