Igreja: Sociedade desafia a «pensar a encarnação do cristianismo, desconstruindo algumas construções» – João Duque

Teólogo falou sobre «O tempo pós-cristão – uma oportunidade para a fé» nas jornadas do clero das dioceses do centro do país.

Foto: Agência ECCLESIA/LFS

Fátima, 28 jan 2025 (Ecclesia) – O teólogo João Duque considera que a sociedade atual tem desafios que exigem “pensar a encarnação do cristianismo de outro modo”.

“Estamos perante desafios que exigem pensar a encarnação do cristianismo de outro modo, desconstruindo algumas construções do tal tempo cristão. É nesse sentido que será tempo pós-cristão, também muito desafiante para o cristianismo em geral e sobretudo para os líderes cristãos”, disse hoje o professor da UCP à Agência ECCLESIA, após a conferência ‘O tempo pós-cristão – uma oportunidade para a fé’, nas jornadas do clero das dioceses do centro do país.

AS jornadas têm como tema ‘Comunicação da fé em tempos de mudança’ e decorrem no Centro Pastoral Paulo VI, em Fátima, com a participação do clero de Aveiro, Coimbra, Guarda, Leiria-Fátima, Portalegre-Castelo Branco e Viseu.

João Duque realçou que o cristianismo “fertilizou” a cultura ocidental.

Se verificarmos muitas das realizações artísticas contemporâneas, que nunca deixaram de o ser, mas contemporaneamente até com alguma insistência, fazem referência explícita a muitos elementos da tradição cristã”.

Na questão do valor da democracia, do valor da liberdade humana, do valor da emancipação, “há muitos teóricos não cristãos que admitem que de facto é a marca do cristianismo na nossa cultura”, sublinhou o orador nas jornadas que decorrem de 28 a 30 deste mês.

Na linguagem simbólica existe o perigo da “petrificação”, especialmente “dentro das próprias comunidades”.

“A transformação do rito em rotina, da não-significação do rito é o normal que acontece em qualquer comunidade, sobretudo quando o rito se torna, por assim dizer, evidente, completamente evidente, a ponto de neutralizar o efeito disruptivo de muitos elementos desse rito”, disse o teólogo.

Em plena caminhada sinodal, João Duque realça que as mudanças vão depender “muito das comunidades”.

“Há bons sinais agora no início, não sei se depois irão afrouxar ou não”, acrescenta.

Para os padres, as mudanças vão ser “uma grande oportunidade” porque o futuro vai ser “muito exigente, muito desafiante, muito problemático” mesmo do ponto de vista “de saúde e até de saúde mental, para os atuais líderes eclesiais enquanto presbíteros relativamente isolados”.

Os párocos devem ajudar a dinamizar “o mecanismo sinodal nas paróquias” para depois se integrarem “com equipas, abandonarem a solidão que agora os marca muito e portanto se orientarem para uma liderança colegial sinodal”, proferiu.

“Acredito que eles vão ser suficientemente inteligentes para não abandonar a dinamização deste processo sinodal” e a eventual “perda de poder é uma falsa questão e uma ilusão” porque “os líderes têm a autoridade que lhe derem e eles terão muito mais autoridade se a souberem ter”, afirmou o professor da UCP.

Como o ser humano “não tem futuro sem esperança”, a inteligência artificial pode ajudar “como instrumento”.

“Não partilho a posição dos utopistas extremos que dizem que a humanidade, dada a sua maldade comprovada ao longo de muitos séculos e até milénios, não tem legitimidade para continuar a existir”, referiu.

Se a humanidade souber lidar com a inteligência artificial, esta pode “resolver muitos problemas”.

“Os problemas essenciais da humanidade, como vimos até hoje, a tecnologia não os conseguiu resolver”, acrescenta João Duque.

A temática da comunicação da fé no mundo em mudança está no centro destas jornadas e as redes sociais fazem parte desta dinâmica comunicacional, mas “nada de alarmismos”.

“É preciso perceber os problemas e as vantagens das redes sociais, como tivemos que perceber os problemas e as vantagens da escrita, como tivemos que perceber os problemas e as vantagens de todos os outros meios, mas nada de alarmismo”.

Um dos problemas que as redes sociais podem “acentuar relativamente aos meios de comunicação anterior é o abandono da corporeidade e da relação corpórea”, finalizou.

LFS/OC

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