«A principal preocupação é saber se tudo o que é cientificamente possível é igualmente correcto, do ponto de vista ético»
O Vaticano reagiu com cautela ao anúncio sobre a produção de uma célula artificial, na passada Quinta-feira, nos Estados Unidos da América.
O director da Sala de Imprensa da Santa Sé, Pe. Federico Lombardi, disse ser “necessário saber mais” sobre o tema para poder tecer algum comentário.
Também o presidente emérito da Academia Pontifícia para as Ciências, D. Elio Sgreccia, usou a palavra “cautela” ao comentar o assunto.
Uma equipa norte-americana, chefiada pelo biólogo Craig Venter, anunciou a produção, pela primeira vez, de uma célula controlada por ADN elaborada pelo ser humano. Este passo deixa a ciência mais próxima de criar vida artificial.
Craig Venter foi, em 2000, co-responsável pela primeira sequência do genoma humano.
Agora, explica, o cromossoma foi produzido a partir de quatro frascos de substâncias químicas e um sintetizador, vai ajudar a compreender os mecanismos da vida e a produção de vacinas.
Alguns membros da hierarquia católica italiana manifestaram-se perplexos e inquietos perante o anúncio, que, dizem, abre caminho à criação de organismos artificiais.
“Nas mãos erradas, trata-se de uma descoberta que amanhã poderá levar a um salto para um desconhecido devastador”, considerou o presidente da Comissão para os Assuntos Jurídicos, da Conferência Episcopal Italiana, D. Domenico Mogavero, em declarações ao jornal «La Stampa».
Do ponto de vista ético, D. Domenico Mogavero adverte que “é a natureza humana que concede a sua dignidade ao genoma humano, e não o contrário. O pesadelo a combater é a manipulação da vida, ou seja, a eugenia”.
Por sua vez, o Arcebispo de Chieti-Vasto, D. Bruno Forte, afirmou que a principal preocupação é saber se tudo o que é cientificamente possível é igualmente correcto, do ponto de vista ético.
“A resposta não se destina unicamente aos cristãos, mas a todo o ser humano”, considerou o Arcebispo.
Sustentando que a Igreja olha para pesquisas do género “não com preconceito, mas sim com atenção e simpatia”, o Arcebispo de Chieti-Vasto afirmou admirar as capacidades da inteligência humana manifestadas de forma singular e elevada.
Ao anunciar o feito científico, o biólogo Craig Venter sublinhou que a criação da primeira célula artificial mudou seu ponto de vista de definição da vida e de seu funcionamento.