Fundação Gulbenkian vai receber uma exposição com «tesouros do Santo Sepulcro»
Lisboa, 07 mar 2023 (Ecclesia) – O Centro Cultural Franciscano, em Lisboa, recebeu esta segunda-feira a apresentação da ‘Sala das Ofertas de Portugal’ e do projeto ‘Museu da Terra Sancta’ (Jerusalém), onde foi divulgada uma exposição com os “tesouros do Santo Sepulcro”, na Fundação Gulbenkian.
“Estamos aqui para lançar publicamente o Projeto do Terra Sancta Museu, é o primeiro museu cristão que vai recolher e apresentar obras de todos os lugares santos doados por diversas nações, por diversos reis e imperadores”, explicou frei Rodrigo Machado Soares, da Custódia da Terra Santa Jerusalém, à Agência ECCLESIA.
O frade franciscano destacou que “Portugal é muito importante” porque ofereceu presentes de “suma importância para a coleção ligada aos lugares santos”, como uma bacia de prata que “o custódio da Terra Santa usava para lavar os pés dos peregrinos, era uma forma de acolher, de receber”, quando chegavam à Cidade Santa.
Frei Rodrigo Machado Soares salienta que este não é “um património morto” mas um tesouro vivo que ainda é utilizado “para o culto divino, para o fim para o qual foram feitas”.
“Os presentes, dons de Portugal, não vão estar apenas numa sala, vão estar noutras salas, como na ‘Sala dos Peregrino’ a bacia, ou na ‘Sala Didática’ que é muito importante onde vai estar a mitra doado por D. Maria I. Esta sala dá a conhecer a função do objeto e, ao mesmo tempo, é lugar de encontro e de diálogo para os cristãos, muçulmanos e judeus. É um lugar onde podemos apresentar um pouco aquilo que temos como património mas ao mesmo tempo qual é a sua função”, desenvolveu.
O frade franciscano da Custódia da Terra Santa explica ainda que ser cristão nesta região “é sempre um desafio, é sempre tornar o Evangelho, às raízes e começar de novo”.
Eles não estão em vias de extinção, são poucos os cristãos, mas não estão por terminar, têm essa semente viva, sempre de novo, de recomeçar, e creio firmemente que esse projeto vai ajudar”.
O diretor do Museu Calouste Gulbenkian, que também participou nesta apresentação, disse aos jornalistas que “Portugal tem uma parte substancial nas doações reais ao Santo Sepulcro”, e que este “é um grande projeto da Custódia”, de finalmente dar expressão pública do tesouro que foi acumulando e custodiando.
“Seria estranho que Portugal ficasse aquém dos outros países, basicamente é essa a relevância que acho que não é pequena”, referiu António Pimentel.
Esta sessão de apresentação do projeto da Sala das Ofertas de Portugal e do Museu da Terra Sancta, no Centro Cultural Franciscano, em Lisboa, foi promovida pela Custódia da Terra Santa e a Ordem de Cavalaria do Santo Sepulcro de Jerusalém.
À Agência ECCLESIA, Bartolomeu da Costa Cabral, lugar-tenente da Ordem de Cavalaria do Santo Sepulcro de Jerusalém em Portugal, disse que este projeto de dimensão internacional “vem tapar uma lacuna em Jerusalém, a existência de um museu cristão católico”.
“Para a Ordem é importante porque tem uma grande ligação à Terra Santa, um dos objetivos é apoiar a presença cristã na Terra Santa”, acrescentou, recomendando também a todos os católicos que, “pelo menos uma vez na vida”, visitem a Terra Santa, nas peregrinações que fazem “as pessoas vêm completamente modificadas, é uma experiência única”.
Portugal é um dos países europeus que mais contribuiu num conjunto de realezas e casas reais para dotar a Terra Santa de dons, de dádivas significativas que prestigiassem a grandeza e o significado da Terra Santa. Isso aconteceu durante séculos”.
“A Fundação Gulbenkian desafiou e convidou a Custódia da Terra Santa a apresentar, no âmbito de uma exposição que estamos a organizar para o final deste ano, os tesouros do Santo Sepulcro em Lisboa”, disse o diretor do Museu Gulbenkian, em declarações à Agência ECCLESIA e à Rádio Renascença.
António Filipe Pimentel assinalou que existem as peças que “dizem muito” a Portugal, como o “lampadário de ouro de D. João V”, bacia de lava-pés de D. Pedro II, que ainda hoje é utilizada na celebração de Quinta-feira Santa, e as peças são “até ao século XX” com um “Missal encadernado a prata oferecido pelo Senhor D. Duarte Nuno”, pai de Duarte Pio de Bragança, no anos 30 do século passado.
O historiador de arte destaca que os “tesouros do Santo Sepulcro” tinham saído “uma única vez” da Terra Santa para uma exposição no Castelo de Versalhes (França) “e não mais seriam apresentados”, mas por causa da pandemia Covid-19 e da intervenção arqueológica que estão a fazer no “edifício antiquíssimo”, onde “as surpresas arqueológicas são muitas”, atrasou as obras de reabilitação e permite apresentar estas peças em Lisboa.
“Acervo incrível de peças extraordinárias que para além do aspeto religioso e do significado estético, tem também o significado histórico e político. Durante séculos a Terra Santa funcionou como grande teatro da diplomacia internacional, é o local onde as próprias cortes rivalizavam em ofertas para que se repercutissem nas cortes europeias”, desenvolveu o diretor do Museu Gulbenkian.
O padre João Lourenço, especialista em Sagrada Escritura, assinalou que existe uma obra chamada ‘Paraíso Seráfico’ que narra as delegações de frades que “todos os anos eram escolhidos pela realeza para levar dons à Terra Santa”, que eram da coroa e das casas nobres, dos ajuntamentos e dos municípios.
“Muitos desses dons têm feito história, mas pelo seu valor, pela sua quantidade, não estavam em exposição acessível à contemplação das pessoas, estavam guardados. Agora, no Convento de São Salvador, o convento geral do Governo da Custódia da Terra Santa, foi possível encontrar um grande espaço onde vai ser construído um museu para colocar essas peças”, acrescentou o religioso franciscano.
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