Igreja: Patriarca de Lisboa sublinha «força profética de desinstalar» das relíquias de São Vicente

«A sua vida foi realmente um êxodo para Deus, para os outros, e podemos dizê-lo hoje com gratidão, também para nós» – D. Rui Valério

Lisboa, 18 set 2023 (Ecclesia) – O patriarca de Lisboa afirmou que o Ano Vicentino que a diocese está a celebrar, pelos 850 anos da chegada das relíquias de São Vicente à cidade, deve “desinstalar” as comunidades católicas.

“Perante as venerandas relíquias de São Vicente, professamos, realmente, como elas próprias são um testemunho vivo da fé na Ressurreição; constituem um fortalecimento da esperança na vida eterna; interpelam-nos a um renovado ardor para a caridade e para o serviço ao próximo”, disse D. Rui Valério, na homilia da celebração a que presidiu este sábado, na catedral diocesana.

O patriarca de Lisboa realçou que São Vicente (séc. III-IV) escutou as vozes e os gritos de todos, os “famintos que clamavam por pão, por verdade e por respeito pela sua fé”.

D. Rui Valério explicou que o mártir “sempre abdicou de viver para si”, de centrar-se sobre si próprio e a sua vida foi “um êxodo para Deus, para os outros”.

Nesse longínquo e ao mesmo tempo próximo século IV, nessa distante e tão vizinha Saragoça, o Diácono vivia, pela diaconia e pelo serviço, não somente para os pobres e famintos, mas vivia nos pobres e nos famintos; pois, quando se vive em Cristo, também os irmãos e as suas condições, as suas alegrias e angústias, se tornam nossa morada”.

As relíquias de São Vicente chegaram a Lisboa no dia 15 de setembro de 1173 e ficaram depositadas na igreja de Santa Justa; no dia seguinte, foram transladadas para a capela-mor da Sé.

“A sua chegada trouxe uma chama de esperança à alma de um povo que, precisamente na dádiva desse advento não só se sentiu mais protegido, como se reconheceu abençoado pela presença de uma referência para a vida. Aquele Mártir fez-se presente, tornou-se um companheiro de viagem. Assim, também do humilde ponto de vista meramente circunstancial, o mistério pascal envolve-nos totalmente, fazendo-se encarnação da comunhão maior que Deus quer ter com cada um de nós”, desenvolveu.

São Vicente é o padroeiro principal da cidade de Lisboa e da diocese: diácono e mártir, morreu no século IV, em Valência, as suas relíquias chegaram a Portugal, no século VIII; D. Afonso Henriques prometeu que, se Lisboa fosse conquistada aos mouros, traria as ossadas de Sagres, e, segundo a história, a nau foi protegida por dois corvos.

O patriarca de Lisboa assinalou que se no passado São Vicente “se impelia a si próprio a fazer da abertura e aproximação a Jesus Cristo”, e na força dessa abertura e aproximação “liderava o Povo de Deus para o fazer sair dos confins das suas rotinas e ir ao encontro dos irmãos, dos necessitados”, também hoje, as relíquias “assumem a força profética de desinstalar, de impelir a agir como ele”.

“A subir para a nau da evangelização e a fazermo-nos ao largo missionário para toda a nossa amada Lisboa”, acrescentou D. Rui Valério, na homilia pelos 850 anos da chegada das relíquias de São Vicente.

O Patriarcado de Lisboa iniciou na sexta-feira a celebração do ano jubilar Vicentino, que decorre até 16 de setembro de 2024, com uma conferência em que D. José Tolentino Mendonça evocou a importância da figura de São Vicente.

“Um acontecimento, como o que aqui se evoca, desafia-nos a assumir o risco de estender o olhar para lá do imediatismo e confrontar-nos com aquilo de que somos herdeiros”, disse o cardeal português, prefeito do Dicastério para a Cultura e a Educação (Santa Sé), numa conferência intitulada ‘São Vicente, uma herança para a Lisboa do futuro’, que decorreu na sala do arquivo dos Paços do Concelho da Câmara Municipal de Lisboa (CML).

CB/OC

Lisboa: Cardeal Tolentino Mendonça destaca importância de São Vicente na história da Lisboa (c/fotos e vídeo)

 

 

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