Manuel Braga da Cruz e António Matos Ferreira sublinham necessidade de defender centralidade das pessoas
Lisboa, 05 dez 2013 (Ecclesia) – António Matos Ferreira, diretor do Centro de Estudos de História Religiosa, e Manuel Braga da Cruz, antigo reitor da Universidade Católica Portuguesa (UCP), destacaram à Agência ECCLESIA a importância da primeira exortação apostólica do Papa.
“Este Papa não é muito difícil de compreender. É mais complicado o que fazemos todos os dias”, revela António Matos Ferreira.
Para o diretor do Centro de Estudos de História Religiosa (CEHR) da Universidade Católica Portuguesa (UCP), o Papa Francisco na exortação apostólica ‘A alegria do Evangelho’ explica que a “experiência cristã faz-se por um processo de identificação profunda a Jesus” e os cristãos são chamados a uma aprendizagem “sabendo sempre os riscos que correm” e que o que “Jesus coloca não é necessariamente” o que cada um gostaria ou pretenderia.
Segundo o responsável, Francisco diz que é necessário “uma economia de partilha, onde haja trabalho em que as pessoas se possam realizar” e onde exista “uma redistribuição dos bens através do trabalho, daquilo que é no fundo o ato criador” que “todos transportam como filhos de Deus”.
Manuel Braga da Cruz, ex-reitor da UCP, refere por sua vez que o Papa “fala muito da alegria, da necessidade de transmitir com alegria, com convicção aquilo em que se acredita” e diz que, do ponto de vista pastoral, a ‘Evangelii Gaudium’ “é muito animadora, entusiasta”.
Noutro sentido, considera que Francisco tem chamado a atenção “de uma forma muito veemente” para a insuficiência dos mercados na regulação económica e para a “necessária subordinação do poder financeiro/económico ao poder politico”.
“A economia existe para o Homem e não o Homem para a economia, os mercados só por si são incapazes de regular a vida coletiva e portanto têm de estar subordinados ao poder político”, analisa o antigo reitor da UCP.
Na sociedade atual o papel e a ação das comunidades cristãs “pode ser sempre múltiplo” começando pelo simples “acolher as pessoas”, considera António Matos Ferreira, para quem é “importante” a forma como as pessoas “vivem e concretizam” o que a “Igreja fala e diz abstratamente”.
“Enquanto a Igreja for um meio, um sinal, uma mediação dessa realização das pessoas eu acho que tem todo o papel e pertinência”, desenvolve o diretor do CEHR que destaca as alterações de um espaço público diferente de há 30 ou 20 anos e que “revela fragilidades”.
“Na realidade politica mas também eclesial, da vida daquelas pessoas que se valorizam e se reconhecem como crentes e nomeadamente como católicos. Porque as próprias pessoas procuram novas formas de estarem presentes nesse espaço”, acrescenta.
Segundo Manuel Braga da Cruz, a Igreja tem um papel muito importante a desempenhar em momentos de crise como o atual, que são “momentos de incerteza, de dúvida, de angústia” porque “anuncia algo que não é dúbio, que não é incerto, algo que não é dramático mas é pacificador, tranquilizante e que dá ânimo às pessoas para enfrentar as dificuldades que estão a viver”.
O antigo reitor da UCP destaca três níveis de contributos da Igreja na sociedade portuguesa: O social “sobretudo em ações de solidariedade que são relevantíssimas”; “uma presença muito importante no mundo cultural” para as pessoas “verem” que os momentos de crise “podem ser momentos de renascimento, de reconversão” e a nível politico a Igreja “tem chamado a atenção para a necessidade de atender para os mais carenciados”.
CB/OC