Livro-entrevista com o cardeal Jorge Bergoglio, hoje Francisco, chega às bancas em Portugal
Lisboa, 16 abr 2013 (Ecclesia) – O cardeal Jorge Mario Bergoglio, hoje Papa Francisco, defendeu a necessidade de uma “cultura do trabalho” para superar as consequências da crise económica, sustentando que a “dádiva” é insuficiente.
“É muito importante que os governos dos diferentes países, através dos ministérios competentes, fomentem uma cultura do trabalho e não da dádiva”, declarou, num livro-entrevista que chega hoje às bancas em Portugal, com edição das Paulinas.
O então arcebispo de Buenos Aires, eleito sucessor de Bento XVI a 13 de março, evocava a crise que os argentinos viveram no início deste século e admitia que há momentos em que é necessário “recorrer à dádiva para sair da emergência”.
“Mas depois é preciso ir fomentando fontes de trabalho porque, não me canso de o repetir, o trabalho oferece dignidade”, disse Jorge Bergoglio aos jornalistas Sergio Rubin e Francesca Ambrogetti, com quem conversou ao longo de mais de dois anos sobre vários temas.
O novo Papa critica, por outro lado, a destruição do “descanso dominical”, sublinhando que quem trabalha “deve ter tempo para descansar, para estar em família, para ter prazer, ler, ouvir música, praticar um desporto”.
“Uma das coisas que pergunto sempre aos pais jovens, na confissão, é se brincam com os seus filhos”, acrescenta.
‘Papa Francisco. Conversas com Jorge Bergoglio’ aborda questões relacionadas com as origens, crescimento e vocação do primeiro pontífice do continente americano na história da Igreja Católica.
O Papa explica, por exemplo, porque é que sabe cozinhar e como a sua mãe mostrou resistência à decisão de entrar para o seminário por achar que “tudo tinha acontecido demasiado depressa”.
O religioso jesuíta diz-se “um pecador a quem a misericórdia de Deus amou de uma maneira privilegiada” e confessa que está sempre a colocar-se “mais perguntas”.
Jorge Mario Bergoglio diz não gostar de vestir a pele de “adivinho”, quando questionado sobre uma eventual revisão da disciplina do celibato sacerdotal, na Igreja Católica, e questiona as teorias que relacionam a sua eliminação com um “aumento de vocações”.
“Continuo de acordo com o que disse Bento XVI [agora Papa emérito]: o celibato mantém-se e estou convencido disso”, precisou.
O novo Papa, de 76 anos, revela ainda que a morte é “uma companheira quotidiana” porque tem a consciência de que não vai viver “outros setenta”.
“Começo a considerar que tenho de deixar tudo, mas vivo isso como uma coisa normal, não estou triste”, observa, antes de acrescentar que “nunca” pensou fazer um testamento.
OC