Igreja/Pandemia: Comunidades começaram por transferir realidade física antes de «habitar o ambiente digital» – Padre Luís Miguel Figueiredo Rodrigues

Responsável da Arquidiocese de Braga sublinha processo que levou a perceber diferenças entre os vários espaços, nos sucessivos confinamentos

Braga, 12 mar 2021 (Ecclesia) – O padre Luís Miguel Figueiredo Rodrigues, da Arquidiocese de Braga, disse à Agência ECCLESIA que a suspensão das celebrações comunitárias, que aconteceu pela primeira vez há um ano, gerou um processo que ajudou a “habitar” o digital.

“A primeira reação, em março do ano passado, foi ir para o digital fazer o que já fazíamos fisicamente. Em vez de estarmos todos no templo, na sessão de catequese, na mesma reunião, estamos todos ‘zoomados’”, disse o responsável, em declarações à Agência ECCLESIA.

A 13 de março de 2020, a Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) determinou a suspensão da celebração comunitária das Missas por causa da pandemia, antes da proclamação do estado de emergência por parte das autoridades nacionais; essa suspensão terminou a 30 de maio, véspera da Solenidade do Pentecostes.

O presidente da Comissão para a Educação Cristã na Arquidiocese de Braga recorda que, no confinamento, surgiram novas propostas, sobretudo na área formativa, de “habitar o ambiente digital”, percebendo que “é diferente do ambiente físico, presencial, ‘face to face’”.

O sacerdote fala em propostas evangelizadoras “muito interessantes”, para serem realizadas “no físico que era possível, que são as famílias” e destacou a “liturgia familiar, que tinha também uma dimensão catequética”, desenvolvida pelo ‘Laboratório da fé’ da Arquidiocese de Braga, mas sentiu-se a ausência do grupo, sobretudo na Catequese.

“A ligação à comunidade não é individual mas sim grupal, um grupo de amigos, um grupo de família. A fé num individuo sozinho não tem condições de se desenvolver”, apontou.

Para o especialista da Arquidiocese de Braga, a migração para o digital acelerou a tendência, que se observava nos últimos anos, sobre “o que se considera comunidade e aquilo que é pertença à comunidade”.

Agora, o indivíduo está junto daqueles que se sente mais identificado, quer seja uma comunidade que está a três quilómetros da sua área de residência, quer seja uma comunidade que pode estar noutro continente”.

O padre Luís Miguel Figueiredo Rodrigues entende que a situação criada pela pandemia e os vários confinamentos acaba por “reorganizar” os conceitos de comunidade e de pertença; o digital tem de “encaminhar para uma comunidade concreta”.

“Podemos ter muitos likes (gostos), muitos seguidores, mas não criamos vínculo e a fé não é uma questão de conhecimento, é uma questão de vínculo, vínculo com Jesus Cristo através de uma comunidade concreta”, salientou.

Lembrando o Papa São João Paulo II, o especialista da Arquidiocese de Braga afirma que o “grande desafio” que a Igreja tem “no ambiente digital, e noutros ambientes”, é não cair “num secularismo interno”, organizar com os “critérios do mundo”.

“Não vou avaliar a minha atividade no digital consoante o número de seguidores, consoante o número de likes, ou o retorno que o algoritmo da web devolve. Avalio uma proposta de acordo com a qualidade de vínculo que gerou entre aqueles a quem foi dirigida”, assinalou.

Com a presença as paróquias no ambiente digital e a transmissão das Eucaristias, o sacerdote da Arquidiocese de Braga refere-se também a uma “forma diferente de entender a celebração do domingo na ausência do presbítero”.

“Estes ganhos, se os soubermos aproveitar quando a situação pandémica passar, em bom rigor, podem trazer, vantagens para as nossas comunidades eclesiais”, conclui o padre Luís Miguel Figueiredo Rodrigues, destacando também a formação à distância.

CB/OC

No contexto das desigualdades, o padre Luís Miguel Rodrigues afirma que “toda a transformação tem de ser inclusiva” e não se pode fazer uma “transformação digital das práticas eclesiais” sem se ter em conta que há pessoas que por qualquer “motivo não têm acesso”.

“Mal de nós comunidades paroquiais se não somos capazes de gerar sinergias que criam dinâmicas de partilha. Aquilo que fazíamos com a alimentação, e depois com o vestuário e outras necessidades que as pessoas tinham e não estavam resolvidas, se o recurso digital é uma efetiva necessidade é uma das dinâmicas que a paróquia é chamada a realizar a sua solidariedade”, desenvolveu.

 

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