Igreja: «O povo sofre bastante», afirma irmã Helena Queijo, de regresso a Portugal, após nove anos de missão no Haiti

Religiosa recorda experiência missionária, num país marcado pela violência de gangues armados

Lisboa, 11 abr 2025 (Ecclesia) – A irmã Helena Queijo, de 60 anos, está de regresso a Portugal após nove anos de missão no Haiti, onde assistiu à violência e ao sofrimento da população, num dos países mais pobres e violentos do mundo.

“O povo sofre bastante, porque muita gente está na sua casa, isto na capital, e os bandidos chegam e fazem-nos sair. E quando não os matam… eles têm de fugir e são obrigados a ficarem escondidos na rua uns tempos, mas sempre com a esperança de poderem recuperar a casa”, afirmou a religiosa, em declarações à Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS).

A irmã falava de tudo o que acontece quase todos os dias, especialmente em Port-au-Prince, devido aos ataques de gangues armados, acrescentando que “muita gente perdeu os bens, perdeu a casa”.

A população perdeu praticamente tudo e foi forçada a fugir, uns para norte, outros para sul e muitos também para Jacmel, a cidade situada perto da missão das irmãs espiritanas, na zona sudeste do país.

Quando chegou ao Haiti, em 2016, a irmã Helena recorda que não havia presidente e agora, nove anos depois, o cenário é o mesmo.

“Na história do Haiti praticamente todos os presidentes foram assassinados”, relata, sublinhando que “esta violência não é recente”.

Após 15 dias de ter regressado a Portugal, para tomar conta dos pais idosos, que vivem no norte de Portugal, a portuguesa recebeu a notícia do assassinato de duas religiosas, perpetrado dia 31 de março, lamentando a situação.

“Oh meu Deus! Não conhecia essas irmãs… Que Deus tenha piedade deste povo…”, reagiu.

As duas irmãs estavam na cidade de Mirebalais quando, devido aos ataques de gangues armados que proliferam no Haiti, foram obrigadas a refugiar-se com outras pessoas numa casa, acabando por ser descobertos e mortos pelos atacantes.

A irmã Helena dá conta que a violência não é recente e não exclui ninguém: “Eles não raptam somente estrangeiros ou padres ou irmãs, mas também o próprio povo simples. É uma instabilidade e insegurança muito grandes”.

A religiosa lembra alguns dos casos, como a “invasão” de escolas e do hospital de São Francisco de Sales, e irmãs que foram obrigadas a fugir e a “tirar o hábito para passarem disfarçadas no meio do povo, para poder escapar”.

“Também as irmãs de Madre Teresa de Calcutá, que fazem um bom serviço, tiveram que evacuar os doentes e sair… Há zonas marcadas que começam a ser ocupadas. Os espiritanos tiveram de sair da outra casa que tinham, de formação, e esconderem-se mais no centro da capital, numa casa de retiros, porque estavam ameaçados”, recordou, adiantando que “um dos chefes dos gangues é um ex-polícia…”.

O arcebispo de Port-au-Prince e presidente da Conferência Episcopal Haitiana também sublinhou a falha no combate aos gangues.

O país “está em chamas e a sangrar”, descreveu, numa declaração na semana passada ao portal de notícias do Vaticano, indicando que nos últimos dias a situação de insegurança agravou-se acentuadamente na sua arquidiocese.

“Aqui, 28 paróquias foram completamente fechadas e o trabalho pastoral de outras 40 continua de forma lenta e precária porque muitos bairros da cidade estão nas mãos dos gangues armados”, explicou.

Depois de anos dedicada ao serviço das populações locais, da educação das crianças e das suas famílias, no Haiti, a irmã Helena Queijo faz uma retrospetiva da experiência missionária.

“Para mim, o balanço é positivo no sentido da lição, do trabalho missionário que fiz. E com a graça de Deus e a proteção que Ele me concedeu, pude fazer o que Ele me pediu em cada dia. Gostei muito”, manifestou.

LJ

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