Igreja no Sudão

Homilia do Bispo Auxiliar de Cartum na Sé Patriarcal de Lisboa Hoje é o primeiro Domingo do Advento em que Deus nos convida a aguardar a sua vinda à nossa vida e também à vida dos outros. É um tempo de espera. Na nossa sociedade, actualmente, esperar aborrece-nos e por vezes chega a irritar-nos, devido à pressa com que queremos fazer as coisas e ao tempo que temos para as fazer. A primeira leitura de hoje, do profeta Isaías, exprime a mensagem da Igreja para o Advento de forma incisiva, falando de uma visão em que todas as nações da terra se dirigiam para o monte do Senhor em Jerusalém, para descobrir Deus e os Seus caminhos. Ir até Deus leva as pessoas a abandonar as suas atitudes violentas e a converter as suas armas em instrumentos que possam ajudar e conduzir a humanidade por caminhos de justiça e paz. Assim, “os dias que hão-de vir” são dias de espera e pode ser um momento criativo que nos ajude a crescer espiritualmente, a fim de nos permitir avançar em direcção às montanhas do Senhor em Jerusalém. Quando esperamos, entramos em contacto com um aspecto essencial da nossa humanidade que é o facto de dependermos de Deus e uns dos outros. Esperar é também um acto de amor. Ao esperar pelos outros demonstramos-lhes o nosso respeito tornando-os livres. Depender de Deus ou conferir uma dimensão espiritual à nossa humanidade é o que o Advento nos exige: dar espaço a Deus e ao Seu Espírito na nossa existência diária. Por outras palavras, sem Deus o nosso esforço e comportamentos humanos ficam incompletos. A espera do Advento é o processo da tomada de consciência desta verdade. É um tempo para intensificar a nossa procura de Deus através da escuta meditada da Sua Palavra, para nos arrependermos quando nos apercebemos de como falhámos em defender a paz e a justiça nas nossas relações com os outros. O plano de Deus é de que o Seu Reino se estabeleça no meio de nós. A graça do Advento é a Esperança, e sermos capazes de reconhecer e acolher Deus presente no mundo. Desta forma, estaremos sempre preparados, tal como Noé, para o encontro com Deus em qualquer momento, quer na solidão de uma meditação tranquila da Sua Palavra ou no rosto do nosso próximo. Devemos também realizar os nossos deveres conscientes da Sua presença, de que Deus também tem algo a dizer sobre o que fazemos e o que somos. Que a Eucaristia nos ajude a todos durante este tempo de Advento e nos conceda a fortaleza para reconhecermos Deus presente em nós e no mundo onde trabalhamos e vivemos. Eu venho do Sudão e sou bispo auxiliar da Arquidiocese de Cartum. O Sudão saiu recentemente de uma prolongada guerra civil que durou quase 50 anos, ou 20 anos dependendo da perspectiva. As causas da guerra foram complexas: raciais, económicas, religiosas (embora as instâncias internacionais tenham desvalorizado este aspecto) e políticas. Como qualquer outra diocese do sul do Sudão preocupada com os refugiados e os deslocados, a Arquidiocese de Cartum tem ainda um considerável número de pessoas deslocadas (cerca de 2 milhões) e ocupou-se principalmente da educação das crianças. Actualmente há paz mas ainda só está no papel. Há certos pontos-chave do acordo que ainda não foram implementados pelo Governo de Cartum. A questão da diversidade religiosa no país não foi convenientemente tratada e provavelmente permanecerá um factor de divisão. A Igreja do Sudão não agiu sozinha para ajudar o povo. Muitas organizações católicas não-governamentais da Europa e da América ajudaram-na generosamente. Uma delas foi a Ajuda à Igreja que Sofre. Foi para celebrar a sua fundação,há 60 anos, que eu vim ao vosso amado país, e para agradecer em nome de todos os seus beneficiários. Que a vinda de Cristo que celebramos nesta época, realize a sua missão em nós através da instauração de um Reino de verdade e vida, de santidade e graça, de justiça, amor e paz. Sé Patriarcal de Lisboa, 2 de Dezembro de 2007 D. Daniel Adwok

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