Igreja: Natal de Leste chega a 7 de janeiro

Comunidade cristã de rito bizantino radicada em Portugal celebra o nascimento de Jesus

Lisboa, 06 jan 2012 (Ecclesia) – Milhares de cristãos católicos e ortodoxos do rito bizantino celebram este sábado o nascimento de Jesus, em diversas regiões do país, seguindo o calendário introduzido no ano 45 a.C. pelo imperador romano Júlio César.

Depois de um período de 40 dias de jejum, iniciado a 28 de novembro, cerca de 60 mil imigrantes ucranianos, em sintonia com outras comunidades vindas da Europa de Leste, de países como Rússia, Geórgia e Roménia, entram esta noite num espírito de “alegria e comunhão”, disse à Agência ECCLESIA o coordenador da capelania nacional ucraniana em Portugal, padre Ivan Hudz.

Segundo o rito bizantino ou oriental, “à primeira estrela da noite” de 6 de Janeiro, as famílias reúnem-se nas suas casas, à volta da mesa de jantar, antes de seguirem para a missa vespertina.

A ementa, onde não pode entrar nenhum tipo de carne ou gordura animal, é composta por 12 pratos que aludem aos 12 apóstolos de Jesus e às 12 tribos de Israel, um número que na Bíblia está associado ao conceito de plenitude.

Em vez do bacalhau, que faz parte da tradição portuguesa desta quadra, o prato principal é o “kutia”, doce à base de trigo cozido com mel e sementes de papoila moída, ingredientes usados na doçaria oriental e que também têm um significado especial.

“O trigo, ou o pão, simboliza a riqueza; o mel é aquilo que dá sabor e doçura à vida e a semente de papoila está associada à tranquilidade”, explica o padre Natanael Harasym, que acompanha dezenas de famílias ucranianas radicadas em Torres Vedras, na diocese de Lisboa.

As diferenças estendem-se da gastronomia à espiritualidade, já que a celebração eucarística de rito bizantino é mais longa, quase toda cantada e os padres estão separados da assembleia para sublinhar a distinção entre as realidades celestes e terrenas.

Por outro lado, enquanto a tradição cristã ocidental privilegia o nascimento de Jesus, a 25 de dezembro, as igrejas orientais realçam a sua epifania ou manifestação aos povos, festa que no calendário liturgico da Igreja Católica Romana se celebra no segundo domingo a seguir ao Natal. 

Apesar destas diferenças, o coordenador da capelania ucraniana em Portugal, padre Ivan Hudz, que trabalha há 10 anos na região do Alentejo, tem encontrado muitos exemplos de unidade entre cristãos do rito bizantino e ocidental.

“Eu já celebrei o Natal segundo o rito latino e muitos ucranianos que estiveram aqui também participaram nas celebrações de dia 24 e 25 de dezembro, partilhando esta alegria com colegas e amigos portugueses, com quem trabalham”, salienta aquele responsável.

“Este intercâmbio de ritos e tradições só nos enriquece”, completa o sacerdote Natanael Harasym, para quem “a unidade e o ecumenismo começam nos pequenos gestos”.

O coordenador da capelania nacional ucraniana em Portugal acredita que “este Natal vai ajudar a renovar o lado humano” de uma comunidade que se “tem perdido nos últimos anos”.

“A emigração é um fenómeno que, de um lado, abre horizontes e dá possibilidade às pessoas de melhorarem materialmente a sua vida, mas correndo atrás destas luzes, perdem-se outras coisas”, sublinha o padre Hudz, que desafia as pessoas a aproveitarem esta festa para fazerem uma “revisão de vida”.

O rito bizantino é uma das liturgias da Igreja Católica, embora seja menos conhecida pelos fiéis do Ocidente.

O nome advém de Bizâncio, cidade localizada na actual Turquia, que, sob a denominação posterior de Constantinopla (hoje Istambul), tornou-se a capital do Império Romano do Oriente e pólo de expansão do cristianismo.

Em Portugal, o programa de natal dos cristãos de rito bizantino e ortodoxo vai congregar comunidades de emigrantes de Leste radicadas nas dioceses do Porto, Viseu, Lisboa, Leiria-Fátima, Setúbal, Évora, Beja e Algarve.

JCP 

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