Formação permanente e organização diocesana ajudam trabalho «altamente valorizado» Uma pastoral das prisões mais organizada nas dioceses e uma permanente formação para um trabalho amplamente valorizado nos institutos prisionais. Dois objectivos principais que no final do encontro que juntou capelães e visitadores de estabelecimentos prisionais “espalharam o entusiasmo porque saímos todos carregados de boas ideias e preocupações”, dá conta o Padre João Gonçalves, coordenador dos capelães dos estabelecimentos prisionais. Alicerçados numa reflexão sobre a consciência de estar preso, “realizada pelo Director Geral dos Serviços Prisionais, Rui Sá Gomes”, pretendia-se fundamentar o porquê de “prender pessoas”, explica Pe. João Gonçalves. A privação da liberdade por um período de tempo, dá a possibilidade à pessoa “reclusa de se reconstituir e de se preparar para a reinserção social”. Foram também abordadas as necessidades e dificuldades sentidas por parte quer dos capelães quer dos visitadores, tanto na assistência prisional como também no processo de reinserção, que em Portugal atinge uma taxa superior a 50 %. “A reincidência é alta, a dificuldade de reconstrução de laços familiares que se perderam durante a detenção ditam muitas vezes a adaptação dos reclusos à vida fora da instituição prisional”, explica o coordenador dos capelães, acrescentando que “são pessoas que têm a vida e sobretudo têm a personalidade desestruturada e nem sempre a prisão reabilita as pessoas”. O ambiente prisional de um modo geral “não dá respostas ao problema da reconstituição da própria personalidade e nem sempre ajuda a pessoas no processo de reinserção social. Os apoios que se encontram no exterior nem sempre são suficientemente fortes e estáveis. Dentro dos estabelecimentos prisionais a falta de resposta de profissionalização ou de cursos de formação, constituem razões que nos preocupam muito”, manifesta Pe. João Gonçalves. Exército silencioso Mas há óptimos exemplos de reinserção ou uma inserção “porque em alguns casos é mesmo uma primeira inserção social”. Os bons exemplos têm de ser conhecidos, “porque de facto existem”. Com a ajuda tanto de psicólogos, visitadores, capelães e educadores conseguiram “reencontrar um optimismo e reconstruir interiormente”, destaca Pe. João Gonçalves. Casos de sucesso que dignificam e enaltecem o trabalho tanto de capelães e profissionais, como de pessoas voluntárias que fazem da sua vida fora das prisões uma visita constante aos reclusos. “É um trabalho altamente valorizado”, sublinha, tanto pelo Ministério da Justiça, da Direcção Geral dos Serviços Prisionais, mesmo da parte dos estabelecimentos prisionais. “Somos um pequeno exército silencioso que vai penetrando nas prisões para ajudar e acima de tudo ouvir as pessoas”, destaca, sendo esta a “primeira função”. “Somos muito queridos e desejados” acrescenta, “e tanto as chefias como os guardas vêem em nós um complemento do exterior, estabelecendo uma ligação descontraída”. No final do encontro de dois dias os participantes foram desafiados a investir na formação, tanto de capelães como dos voluntários, é importante “não descurar a parte humana”. “A pessoa precisa de «habilidade» afectiva, psicológica e social para visitar as prisões e dialogar com os reclusos”. O conhecimento da legislação é imprescindível, assim como dos regulamentos internos de cada estabelecimento prisional. Mas é também importante reflectir em aspectos concretos quando se fala “numa verdadeira pastoral prisional e o que se pretende com as visitas”, explica. Para isso as noções de psicologia e “conhecimentos da doutrina da Igreja e do evangelho ajudam a perceber que Deus sempre demonstrou uma atenção muito grande com as pessoas em sofrimento”. A formação permanente pede uma reciclagem com vista a um renovamento de vontade e entusiasmo nesta pastoral”. Para uma efectiva pastoral das prisões o coordenador dos capelães adianta que era importante estar englobada nos secretariados diocesanos da pastoral social em todas as dioceses, independentemente de haver ou não estabelecimentos prisionais, pois “pastoral das prisões engloba também as famílias”. Esta seria uma forma de esta pastoral não estar “entregue quase exclusivamente ao capelão e aos visitadores”.