Igreja: Mudanças implementadas pelo Papa Francisco são um legado «absolutamente irreversível», afirma jornalista Elisabetta Piqué

Correspondente no Vaticano defende que há um antes e depois do pontífice sul-americano na Igreja, destacando proximidade e serviço aos últimos

Agência ECCLESIA/LS

Roma, 25 jan 2024 (Ecclesia) – A jornalista argentina Elisabetta Piqué afirmou hoje que as mudanças implementadas na Igreja católica ao longo do pontificado do Papa Francisco são um legado “absolutamente irreversível”.

“Se não se tornar irreversível é porque vai haver um enorme retrocesso na Igreja Católica”, afirmou, em declarações aos jornalistas, após um dos encontros «Diálogo com a cidade» com o título «Contar a Igreja a partir de Roma», que decorreu na Aula Giubileo de LUMSA, em Roma, no contexto do Jubileu da Comunicação, que termina este domingo.

A jornalista e correspondente no Vaticano considera que o Sínodo sobre a sinodalidade é também um dos aspetos que não tem retrocesso, realçando que este é um processo que não terminou.

“Penso que aqueles que participam o entenderam, para dar muito mais espaço, não só às mulheres, aos leigos, aos batizados, na tomada de decisões, e isto é irreversível, a maneira de ser Igreja”, indicou.

Elisabetta Piqué destaca que a “cultura do diálogo, a cultura do encontro, mas sobretudo a proximidade” são aspetos revolucionários do pontificado do Papa Francisco.

“Este é um Papa próximo, um Papa também livre, que não tem medo de dizer ‘bem, hoje não me sinto bem, tive febre, por isso desculpem, não vou ler este discurso’”, exemplificou, acrescentando que Francisco dá voz aos que não a têm.

A jornalista argentina realçou a preocupação do Papa Francisco face à “diferença abismal” que “continua a crescer entre os ricos, os muito ricos e os pobres, os cada vez mais pobres” e da insistência que tem em repetir a importância do diálogo num mundo “onde há cada vez mais polarização”.

“[O Papa] não se cansa de defender os últimos, os migrantes, e de dizer que as guerras são o produto do comércio das armas, das indústrias que lucram com o comércio das armas, que se gastássemos o que se gasta num ano com a indústria das armas, poderíamos alimentar milhões de pessoas que não têm o suficiente para comer”, sublinhou.

Apesar de não ter a liderança para colocar fim às “guerras vergonhosas” na Ucrânia e na Terra Santa, Elisabetta Piqué defende que o Papa tem a “coragem de continuar a apelar às partes para se sentarem para dialogar, continua a apelar à diplomacia para agir num mundo em que as organizações internacionais multilaterais estão cada vez mais desacreditadas”.

“[O Papa] diz que sim, que tem de haver mudanças nestas organizações multilaterais para que elas funcionem. Obviamente que não funcionam, mas também tem de haver mudanças nos políticos que têm de ousar dar passos e sentar-se com aqueles que pensam de forma diferente, e que têm de se sentar e falar uns com os outros. E não estou a falar apenas da Ucrânia, obviamente, estou a falar do conflito entre Gaza e Israel”, afirmou.

A jornalista lembra que o Papa liga todas as noites para a Paróquia de Gaza, enfatizando que Francisco está próximo da realidade.

Em 2025, Elisabetta Piqué diz que o pontificado de Francisco é hoje aquilo que esperava.

“Quando, no início do pontificado, me pediram para escrever uma biografia, eu queria que essa biografia tivesse a palavra revolução no título. Francisco, vida e revolução. Obviamente não estava a falar da revolução cubana, mas da revolução do Evangelho de Jesus. Não creio que me tenha enganado, porque houve uma revolução aqui”, referiu, sustentando que esta é visível no primeiro mês deste ano, aludindo à nomeação de Simona Brambilla para liderar o Dicastério para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica.

Foto: Agência ECCLESIA/LJ

“Era impensável, há 10 anos ou há 100 anos, que houvesse uma mulher prefeita na Cúria Romana. É algo que nunca aconteceu antes. E isto faz parte do processo, claro, pouco a pouco. Não foi assim de repente, mas ele tem vindo a colocar mulheres em posições de liderança. Embora o Vaticano continue a ser, obviamente, uma instituição dominada por homens”, referiu.

A jornalista argentina Elisabetta Piqué defende que, “sem dúvida”, que existe um antes e depois de Francisco na Igreja, salientando que “é o primeiro Papa que vem do sul e traz uma visão das periferias para o centro”.

“É o primeiro Papa do fim do mundo a dar voz aos que não têm voz. Bento XVI e João Paulo II fizeram o mesmo, e todos os Papas sempre disseram que a Doutrina Social da Igreja é estar a favor dos últimos e dos mais pobres, mas a forma como ele o faz é também de acordo com os tempos, o que é muito compreensível, e também com a coragem de empreender as mudanças de que falava antes”, disse, referindo-se à questão das mulheres e do abuso de menores.

Questionada sobre se considera que o Papa está preocupado com o sucessor, Elisabetta Piqué diz que Francisco tem a lucidez de um homem de 60 anos e espera que continue por muitos mais.

“Por outro lado, durante todos estes anos, criou um colégio de cardeais que vai eleger o seu sucessor. A maioria deles já foi nomeada por ele, o que não significa que vamos ter um novo Papa Francisco, mas podemos esperar que ele continue, como dissemos antes, que este processo de mudança e abertura continue com o seu sucessor”, reforçou.

O Jubileu do Mundo das Comunicações é o primeiro grande evento do Ano Santo 2025, o 27.º jubileu ordinário da história da Igreja, tem como tema ‘Peregrinos de Esperança’ e foi proclamado pelo Papa Francisco na bula intitulada ‘Spes non confundit’ (A esperança não engana) e teve início no dia 24 de dezembro de 2024, com a abertura da Porta Santa na Basílica de São Pedro, e termina no dia 6 de janeiro de 2026.

LS/LJ

Partilhar:
Scroll to Top