Quaresma é marcada por apelos em favor da partilha e da solidariedade por parte dos Bispos do nosso país (actualização) A crise económica e financeira mundial que ganha impactos particulares na sociedade portuguesa é a preocupação dominante dos Bispos portugueses. As consequências sociais são uma realidade próxima de quem acompanha a vida em cada diocese, traçando um quadro de atenção aos mais pobres, sejam famílias carenciadas, os sem-abrigo ou crianças. A atenção cristã e solidária está patente nos destinos das renúncias quaresmais de 2009. D. Manuel Quintas, bispo do Algarve, indica que os cristãos não podem “ficar surdos ao clamor dos pobres ou fechar o coração diante do sofrimento dos outros” perante a “insegurança e a instabilidade geradas pela crise financeira, económica e social em que vivemos”. Já D. Manuel Pelino, Bispo de Santarém, dá conta de um “momento de profunda crise da economia que se traduz numa crise social que a todos atinge e preocupa. Cada vez há mais necessitados”. Mas se as mensagens se revestem de alertas, não ganham a forma de lamentos. Vários bispos afirmam que a crise constituiu uma oportunidade para mudar de vida. D. Manuel Pelino indica ser uma ocasião para “rever o modelo de sociedade e o estilo de vida pautado pelo consumismo desenfreado”. O bispo de Santarém evoca em especial os cristãos, para quem esta situação é um convite “a pôr em prática o estilo de vida evangélico, mais simples e austero, menos consumista e menos egoísta, menos centrado em cada um e mais solidário”. Também D. Januário Torgal Ferreira, bispo das Forças armadas e de Segurança apela “à coerência e à moderação”. D. António de Sousa Braga, bispo de Angra, fala num “salto de qualidade na civilização humana”. Já o bispo de Viana do Castelo, D. José Pedreira afirma que a crise com que os portugueses são confrontados e “intimamente tocados pela preocupante situação económica e social” deve ser encarada, “segundo a perspectiva cristã” com serenidade e alicerçada na “esperança”, mobilizadora de esforços colectivos “em favor dos cidadãos afectados pela crise, na convicção de que depois da tempestade virá a bonança”. A diocese de Leiria – Fátima, com vista à praxis cristã, elegeu o centro de acolhimento da paróquia da Sé de Leiria e a Comunidade Vida e Paz, concretamente na ajuda aos sem-abrigo, pois, indica o bispo, “num ano marcado pela crise sócio-económica as primeiras vítimas são os mais pobres”. A diocese de Lisboa volta-se para as crianças da Casa do Gaiato, apostada em continuar a obra do Padre Américo que promoveu a educação e reintegração de crianças e jovens em risco. Coimbra vai apoiar também os mais pequenos da Casa de Mira da Obra do Frei Gil, privilegiando ainda as crianças, cujos pais estão desempregados, com uma colónia de férias. As crianças de Setúbal vão ter também a ajuda do Ordinariato Castrense, que vai apoiar a Congregação das Missionárias da Caridade. Famílias carenciadas A preocupação com a Igreja doméstica é recorrente no episcopado português. Afectadas por créditos e endividamentos, desemprego ou empregos precários, são muitos os casos que chegam aos responsáveis diocesanos, quer directamente quer também através das Caritas. Algumas dioceses, já consequência do aumento da pobreza e dos pedidos de ajuda, constituíram, em anos anteriores, Fundos Sociais diocesanos. Angra dispõe também de um Fundo de Solidariedade de ajuda às famílias em maiores dificuldades apostada em quebrar o “fosso entre pobres e ricos”. D. Jorge Ortiga, centrando a ajuda na Caritas Arquidiocesana, vai criar um espaço capaz de recolher, durante todo o ano, tudo o que “seja útil aos pobres (material) e que, para nós, seja desnecessário”. Será a Casa Alavanca a dar resposta aos inúmeros casos de desemprego que o Arcebispo de Braga acompanha. D. Jorge sublinha mesmo que a situação social “pede alguma coisa dos cristãos”. Também Viana do Castelo vai endereçar à Caritas diocesana parte da renúncia quaresmal. Explica D. José Augusto Pedreira, Bispo de Viana do Castelo, que este “será um reforço para atender a situações mais prementes”. A diocese de Setúbal decidiu mesmo criar um Fundo de emergência social para ajudar algumas pessoas mais carenciadas, “gente que cai no desemprego, endividada, forçada a deixar a casa comprada com sonho, sem o suficiente para satisfazer as necessidades maiores”, explica D. Gilberto Reis, Bispo da cidade. O bispo de Setúbal manifesta preocupação pela crise “económica e financeira e ética, que veio piorar a situação dos irmãos mais necessitados e está a gerar «novos pobres»”, sublinhando ainda ser uma “situação preocupante a que nenhuma pessoa física ou colectiva, dentro ou fora da Igreja se deve alhear”. Também a Caritas da Guarda irá receber parte da renúncia quaresmal da diocese para ajudar as “famílias vítimas do desemprego e algumas a viverem situações de pobreza envergonhada”. O bispo diocesano, D. Manuel Felício, afirma-se “sensibilizado com o número de desempregados que todos os dias cresce no nosso meio”. A Diocese do Funchal destina metade da renúncia quaresmal deste ano para apoiar o Fundo Social Diocesano. Ajuda internacional Conscientes que a crise não afecta exclusivamente os portugueses e dando continuidade aos laços que a Igreja no nosso país mantêm com as Igrejas lusófonas, os bispos portugueses destinam parte da renúncia quaresmal ao países lusófonos. Aveiro vai ajudar a “Igreja de Benguela que desde há vários anos partilha com Aveiro o dom dos seus sacerdotes”, explica D. António Francisco dos Santos, bispo da cidade dos moliceiros. Portalegre e Castelo Branco vão ajudar São Tomé e Príncipe, num projecto aviário na Roça “Bôbô Fôrro”, uma exploração agrícola e pecuária pertencente à Caritas daquele país africano. Também Lisboa mantém um “Fundo de Ajuda Inter-Eclesial”, através do qual presta ajuda a Igrejas mais pobres espalhadas pelo mundo. A diocese da Guarda optou por ajudar directamente as Irmãs da Liga dos Servos de Jesus, que iniciam um projecto missionário no Sumbe, em Angola. A diocese do Funchal optou pela Diocese de Lichinga, em Moçambique, “através de um projecto de ajuda humanitária”, explica D. António Carrilho, bispo da diocese. A renuncia quaresmal da Diocese de Bragança-Miranda vai ajudar a Igreja de Bafatá na Guiné-Bissau. “Criada em 2001 e pastoreada por um bispo brasileiro, D. Carlos Pedro Zilli, esta jovem Diocese conta com o nosso contributo para a consolidação das suas estruturas de acção pastoral, a formação de clero próprio e a manutenção das suas obras sociais de apoio à população”, explica D. António Montes Moreira. Seminários diocesanos A atenção aos futuros sacerdotes não é esquecida pelos Bispos portugueses. Viana do Castelo para endereçar parte da renúncia quaresmal “à manutenção dos seminários diocesanos, suavizando assim os encargos económicos dos pais dos nossos alunos”, explica D. José Pedreira. Também a Arquidiocese de Évora lembra o seu Seminário de S. José em Vila Viçosa. D. José Alves, Arcebispo de Évora, explica que este seminário foi alvo de obras de grande restauro, “a fim de o tornar mais funcional e acolhedor para os jovens que aí começam a sua caminhada para o sacerdócio”. As obras estão concluídas mas não estão pagas, adianta o Arcebispo que apela à generosidade do povo cristão para com o local que “irá ser o primeiro e principal beneficiário dos sacerdotes que aí iniciarem a sua formação vocacional”. O mesmo exemplo segue a diocese de Viseu que optou por ajudar também o seu Seminário. “As dificuldades são enormes e as despesas com as obras de há anos, estão muito longe de estarem satisfeitas. Neste momento, urge satisfazer esta dívida, sem o que se torna impossível o equilíbrio das contas diocesanas”, explica D. Ilídio Leandro, bispo de Viseu. Também Bragança-Miranda destina parte da renúncia quaresmal à “reabilitação do pavilhão residencial do Seminário de S. José de Bragança, actualmente em fase de conclusão”, escreve o Bispo. Ajuda às sociedades islâmicas A diocese de Beja destina a renúncia quaresmal de 2009 aos cristãos que vivem em sociedades islâmicas. D. António Vitalino, Bispo de Beja, elege as terras evangelizadas por São Paulo e os cristãos, em particular, que “são vítimas de perseguições e expoliados dos seus bens”.