Igreja: «Migrar ou ficar» é uma «chamada de atenção à liberdade» – Eugénia Quaresma

Diretora da Obra Católica Portuguesa de Migrações defende que a «escolha é limitada», «entre a morte e a vida, escolhe-se sempre a vida»

Foto: Eugénia Quaresma, diretora da Obra Católica Portuguesa das Migrações, ECCLESIA/JCPLisboa, 12 mai 2023 (Ecclesia) – Eugénia Quaresma, Diretora da Obra Católica Portuguesa de Migrações, recebeu a mensagem do Papa para o Dia Mundial do Migrante e do Refugiado, como uma “chamada de atenção à liberdade” e que pode servir para olhar se as “políticas estão a proteger os cidadãos e a promover o desenvolvimento”.

“Já conhecíamos o tema e a primeira coisa que me ocorre é que em Igreja trabalhamos o direito de emigrar mas também temos de olhar o direito de não emigrar, esta dimensão é pouco falada e quando o Papa propõe as fotos que acompanham a Mensagem é uma chamada de atenção à liberdade, trazem a dimensão da liberdade”, explica a entrevistada à Agência ECCLESIA.

A Mensagem para o 109.º Dia Mundial do Migrante e do Refugiado, evocado no último domingo de setembro, este ano a 24 de setembro, tem como título “Livres de escolher se migrar ou ficar” e Eugénia Quaresma aponta que “na escolha entre a morte e a vida, escolhe-se sempre a vida, no entanto “a escolha é limitada”.

“Quase não há liberdade de escolha, que liberdade é esta? A mensagem volta-nos a conduzir para as causas da emigração e pedidos de refúgio mas há também aqui o lado da responsabilidade, eu tenho o direito de ficar onde nasci mas é preciso ver em que condições, até que ponto as políticas estão a proteger os cidadãos e a promover o desenvolvimento”.

Segundo Eugénia Quaresma, com esta Mensagem o Papa quer “denunciar que a garantia de liberdade não está a ser vivida por todos” e que as políticas condicionam “o modo como as pessoas vivem e isso nem sempre é assegurado”.

“Esta Mensagem permite, a meu ver, olhar para as congregações religiosas e fundações que trabalham a questão de desenvolvimento nestes países de origem, e gostaria de evidenciar o trabalho que a Igreja faz nesta área que permite as pessoas ficarem e permanecerem, seja na saúde, educação, desenvolvimento de infraestruturas, tudo é importante e pesa no momento da decisão”, afirma.

Na sua Mensagem o Papa refere as circunstâncias que levam à migração, como “o medo, desespero, guerra e a pobreza”, barreiras que, segundo a entrevistada “precisam de ser derrubadas”

“Não podem ser só os países ricos e desenvolvidos a ter esta liberdade, os países em vias de desenvolvimento, que têm riquezas e precisam de viver esta liberdade, não lhes é concedida porque há barreiras políticas, humanas e até legislativas”, aponta.

Eugénia Quaresma defende ainda que “as vias legais e seguras para quem sai, é uma bandeira forte que o Papa está atento” porque é também “uma forma de limitar o tráfico humano e evitar a emigração clandestina”.

“Com a visão de uma só família humana temos a obrigação de criar canais para que as pessoas possam desenvolver-se e regressar; em algumas mentalidade não somos capazes de reconhecer o irmão, nem o que ser humano precisa, estamos fechados e é preciso abrir horizontes”, afirma.

SN

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