«A realidade da pessoa migrante atravessa toda a pastoral da Igreja», destaca Eugénia Quaresma
Lisboa, 18 nov 2025 (Ecclesia) – A diretora da Obra Católica Portuguesa das Migrações (OCPM), da Igreja Católica em Portugal, disse que “saíram muitas sugestões de continuidade” do primeiro fórum deste setor, alertou para a “desumanização da pessoa migrante” e um contexto “mais adverso” hoje.
“Temos aqui muito, muito para trabalhar, e despertar para esta realidade foi um dos propósitos, como é que podemos fazer mais e melhor. Outra dimensão muito importante, ligando às conclusões, foi que precisamos de trabalhar não só a narrativa, o modo como falamos da realidade migratória dentro da Igreja, e também na sociedade civil”, disse Eugénia Quaresma, esta terça-feira, dia 18 de novembro, à Agência ECCLESIA.
A diretora da Obra Católica Portuguesa das Migrações acrescentou que não podem perder “a dimensão da humanidade, da dignidade humana”, e exemplificou com a questão da legislação, referindo que não falam “contra as leis”, mas sugerem que “as leis não percam este lado humano”, porque pode existir “rigor, a regulação, a gestão”, mas também “humanidade na forma como os serviços aplicam esta lei”.
“Era a crítica há 20 anos, dizíamos que a lei era boa, precisava de ser bem aplicada na prática, é a questão da aplicabilidade que temos que trabalhar, como é que isto está a acontecer no terreno. Foram detetadas nesta análise que há situações que estão a acontecer ao nível do país, e que, se calhar, precisávamos de criar um canal de comunicação para chegar mais facilmente ao governo”, desenvolveu a entrevistada, indicando que esta reflexão foi partilhada também no Fórum Migrações da Igreja Católica, realizado este sábado.
Eugénia Quaresma partilhou, sobre o cuidar da linguagem, “muita preocupação com os discursos mais extremistas ou de ódio mesmo”, de desumanização, como alguns que tem ouvido “de desumanização da pessoa migrante”, e salienta que é importante também não perder “a memória histórica”, onde as comunidades da diáspora podem ajudar, aqueles que “há mais de 50, 60 anos, influenciaram o país onde estão”, e são também influênciados.
A Conferência Episcopal Portuguesa realizou o I Fórum Migrações, com o objetivo de sensibilizar e formar as comunidades cristãs para o fenómeno migratório, e reuniu 70 pessoas – bispos, de agentes pastorais das dioceses com ligação à dinâmica das migrações, de organismos nacionais da Conferência Episcopal e de congregações religiosas -, no sábado, dia 15 de novembro, no Centro Pastoral Paulo VI, em Fátima.

“A importância foi de envolver toda a Igreja e querer começar pelos setores que mais diretamente trabalham com esta realidade, e responderam muito bem, as dioceses responderam muito bem, e sentimos a necessidade de continuar esta reflexão. Saíram também muitas sugestões de continuidade do que é que preciso agora fazer na prática e é juntar essa reflexão e passar à ação”, assinalou a entrevistada.
A Obra Católica Portuguesa das Migrações que no âmbito interno tem mais a missão de “promoção do encontro”, e colaboraram “com muita alegria” neste Fórum Migrações, convocado pelo Conselho Permanente da CEP, apresentou o Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, da Santa Sé, que está dividido em três fases de trabalho: escuta e diálogo, reflexão e investigação, comunicação e restituição.
“Começamos por esta escuta e diálogo de todos os intervenientes no terreno que puderam estar presentes; isto também é uma orientação da Pastoral da Mobilidade provocar os outros setores: a realidade da pessoa migrante atravessa toda a pastoral da Igreja, e em algumas dioceses estes setores pastorais já estão a trabalhar em conjunto, noutros estão a despertar para esta realidade que é necessária”, desenvolveu a entrevistada.
Segundo a diretora da OCPM, os participantes deste fórum saíram “mais inspirados para continuar” a aplicar os quatro verbos ‘acolher, proteger, promover e integrar’ em relação aos migrantes, alertando para o “contexto adverso, mais adverso, mais difícil, mais polarizado” que existe hoje, e ao qual não estavam “habituados para esta realidade”, e afirma que isso exige que voltem “à fonte, ao Evangelho”.
“O migrante é um irmão, o migrante é uma irmã e eu acredito que nos vem ajudar a arrumar a casa, não vem para estragar, vem porque precisa de algo, e quer somar, não quer subtrair.”
CB/OC
