Francisco critica exploração dos países mais pobres e fim do «medo» face à diversidade cultural
Roma, 17 fev 2017 (Ecclesia) – O Papa Francisco disse hoje em Roma que é necessário deixar de ter “medo” dos imigrantes e da diversidade cultural na Europa, falando durante uma visita à mais jovem universidade pública de Roma.
“As migrações não são um perigo, são um desafio para crescer”, assinalou, num discurso improvisado sublinhado, em várias ocasiões, pelas palmas dos professores e estudantes da ‘Roma Tre’.
Francisco sublinhou que a Europa foi “feita de invasões, migrações” e falou da sua própria experiência, como alguém que vem de uma terra onde grande parte da população descende de imigrantes, a Argentina, um país “mestiço”.
“É preciso pensar melhor no problema dos imigrantes”, defendeu, aludindo sobretudo às deslocações da África e do Médio Oriente em direção à Europa.
O Papa sustenta que abordar estas matérias não é entrar no campo da “política partidária”, mas é ler a realidade, na qual as pessoas “fogem da guerra, ou há fome e fogem da fome”.
A solução ideal, acrescentou, é que “não haja guerra e que não haja fome”, promovendo políticas de paz e “investimento” nos países de origem.
Francisco evocou as suas viagens à ilha de Lampedusa (Itália) e Lesbos (Grécia) para falar dos dramas do Mediterrâneo.
“O nosso mar, o ‘mare nostrum’, hoje é um cemitério. Pensemos nisso quando estivermos a sós, como se fosse uma oração”, apelou.
O Papa convidou a acolher os imigrantes como “irmãos e irmãs”, em primeiro lugar.
“São homens e mulheres como nós”, precisou.
Depois, “cada país deve ver qual é o número que pode acolher” e, em seguida, “integrar” estas populações.
Francisco denunciou ainda a exploração de recursos dos países mais pobres, evocando um episódio acontecido num encontro no Vaticano.
“Um primeiro-ministro de um país de África disse-me no ano passado que o primeiro trabalho que fez no seu país foi a reflorestação do seu país, porque as ditas multinacionais foram lá e desflorestaram tudo, exploraram”, referiu.
O Papa sublinhou que cada imigrante tem a sua própria cultura e deve acolher também a cultura do país que o acolhe, como forma de “ultrapassar o medo”, de parte a parte, deixando votos de que a universidade seja palco de “diálogo nas diferenças”.
Entre as pessoas que deram o seu testemunho, antes do discurso de Francisco, estava Nour Essa, de 31 anos, formada em Agricultura na Síria, inscrita no terceiro ano de Biologia na ‘Roma Tre’.
Francisco tinha-se encontrado com ela no campo de refugiados de Lesbos, na Grécia, tendo a mulher, com o marido e o filho, viajado para Roma a pedido do Papa, juntamente com vários outras pessoas ali instaladas.
“Penso que, três dias depois, as crianças já iam à escola. E três meses depois, quando os 25 foram almoçar comigo, os mais pequeninos já falavam italiano”, contou o Papa.
A ‘Roma Tre’ é conhecida pela sua atenção aos problemas sociais da cidade e conta com cerca de 40 mil estudantes; em 2002, o Papa João Paulo II tinha visitado o local.
OC