Eucaristias celebradas em isolamento nas várias dioceses refletiram sobre o sentido da Misericórdia e da participação na comunidade cristã
Lisboa, 19 abr 2020 (Ecclesia) – A Igreja Católica viveu hoje o II Domingo de Páscoa, a Festa da Divina Misericórdia, convocada pelo Papa São João Paulo II, que acontece, no contexto de pandemia, com restrições às celebrações comunitárias.
Na liturgia deste domingo, o tema central das homilias das Missas foi o comentário ao tema da Misericórdia e ao episódio do Evangelho que narra o o encontro de Jesus Ressuscitado com o apóstolo Tomé.
No oratório da casa episcopal do Algarve, D. Manuel Quintas, disse que a “pertença à comunidade paroquial é imprescindível”, ainda mais neste tempo de isolamento social, lembrou que os “apóstolos estavam confinados, de portas e janelas fechadas”, mas juntos.
“É esta participação na comunidade que faz com que a fé nasça, cresça, se fortaleça, que a comunidade partilha o que tem, tem em conta os mais necessitados e frágeis, que cada um olhe para si mesmo e ver o modo como participa na própria comunidade paroquial e saber que é difícil viver a fé sem nos inserirmos na comunidade cristã, sem este sentido de pertença”.
Nos Açores, D. João Lavrador começou por saudar “a lutar pela saúde, pelo bem-estar”, contra a atual pandemia, evocando profissionais de saúde, governantes, as famílias afetadas e os doentes.
O bispo de Angra recordou que os primeiros cristãos sentiram uma “transformação pessoal”, numa vida nova que abre o “futuro”, com “sentido de comunhão com todos os outros, que são seus irmãos”.
“Façamos esta oração a Jesus Cristo para que nos livre desta pandemia, que nos impede de estar presencialmente uns com os outros, de podermos em conjunto celebrar os mistérios da fé”, acrescentou.
Na arquidiocese de Braga, D. Jorge Ortiga, afirmou “o muito caminho ainda a fazer” para mostrar ao Mundo o Cristo vivo, que sem misericórdia, não há amor e sem amor Cristo continua encerrado no túmulo” e fez um agradecimento a todos os que colocam as obras de Misericórdia em prática.
“Devo agradecer a tantas instituições, Misericórdias, às IPSS que vivem concretamente as 14 obras de misericórdia, é benemérito o trabalho ao longo dos anos, a pandemia tem agitado a sua ação, as direções merecem que a sociedade vejam a sua dedicação, os trabalhadores superam-se todos os dias e arriscando a vida.. Que cada um sinta um abraço de muito afeto e gratidão, a Igreja, a Arquidiocese de Braga está eternamente grata”, referiu.
Em Coimbra, o bispo diocesano, D. Virgílio Antunes, a partir do Evangelho deste domingo sublinhou a “dificuldade de acreditar” e as “provas de fogo” necessárias para a fé, como o caso do isolamento que se vive devido à pandemia do Covid-19.
“Ao longo da vida, e, de modo especial também neste tempo que passamos, estamos a encontrar estas provas de fogo para a fé, a esperança, o amor, a solidariedade e a capacidade que a sociedade tem de se refazer, de se reconstruir, que as familias hão-de ter para se reerguer, estamos a passar por muitas, não sendo a da fé a menor de todas elas”.
Na diocese do Funchal, D. Nuno Brás, na Missa transmitida pela RTP Madeira, destacou o sacramento do Batismo e pediu para todos se “deixarem maravilhar com essa marca” que convida a “viver e testemunhar” a Ressurreição.
“Viver em Cristo ressuscitado significa aceitar e contar com Deus ao nosso lado, em cada momento da nossa vida. Significa aceitar e contar com a sua força e com a coragem que dele recebemos para O mostrar a quem ainda não O conhece ou não é capaz de contar com Ele”.
Já na diocese da Guarda, D. Manuel Felício recordou que cada um tem de viver a Misericórdia no dia a dia, para não se “afastarem dos ideais da verdade e do bem de todos” e evocou a “esperança da Ressurreição”.
“E particularmente, neste tempo de pandemia, são muito visíveis para todos nós, que estamos limitados na nossa liberdade de movimentos; são ainda mais visíveis nos que se encontram infetados, fora e dento dos hospitais; e são-no principalmente no sofrimentos dos que enfrentam a morte como no das suas famílias. Lembra-nos ainda esta sua carta que a provação é também oportunidade para fortalecermos a nossa Fé e sobretudo aperfeiçoarmos as atitudes de serviço e esmerada atenção a todos os que precisam”.
Por Lamego o bispo diocesano, D. António Couto, publicou uma reflexão sobre a liturgia deste “O percurso de Tomé, chamado Gémeo” no blog ‘Mesa de palavras’, afirmando que os discípulos “trocaram o medo pela alegria”, destacando o percurso de Tomé e exaltando a “identidade do Ressuscitado”.
“A identidade do Ressuscitado não é do domínio da fotografia. Vem de dentro. Reside na sua vida a nós dada por amor até ao fim, aponta para a Cruz”.
O cardeal D. António Marto, a partir da casa episcopal da diocese de Leiria-Fátima, no seu comentário ao encontro de Jesus com o apóstolo Tomé, “o cético, o incrédulo”, evocou a confissão de fé “Meu Senhor e Meu Deus” e, nesta fase de pandemia, destacou as ações de misericórdia, “que devem caracterizar a vida de cada dia”.
“No sofrimento tem vindo ao de cima o que há de melhor no coração humano, no testemunho de homens e mulheres, cristãos ou não, crentes ou não, que têm dado o melhor de si mesmo, das suas energias e afetos, profissionais de saúde, cuidadores, voluntários, encarregados de transportes e de manter sempre os serviços indispensáveis à vida de doentes e da restante sociedade a quem quero dar graças aqui e graças a Deus pela ação de misericórdia”.
Em Lisboa, na Missa transmitida pela TVI a partir da Igreja da Senhora dos Navegantes, no Parque das Nações, o cardeal-patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente apontou que agora é quando o “Mundo necessita mais de ressurreição” e no isolamento social, “que tanto limita as vidas habituais”, a experiência de comunidade tem sido valorizada.
“O grande local da experiência do Ressuscitado é a comunidade cristã, ‘apresentou-se no meio deles´, hoje não podemos reunir as assembleias habituais mas reúnem em vossas casas e por isso reunidos há o lugar de excelência da presença do Ressuscitado;e este tempo de isolamento tem levado muitas famílias, pequenos grupos em cada habitação, a serem cristãos mais presentes”.
D. Manuel Clemente referiu ainda que lhe tem chegado por “telefone e internet” feedbacks de “famílias, lares, estabelecimentos de saúde, Misericórdias, sítios onde se reparte a caridade, o onde tem crescido o sentimento e a experiência de Deus na partilha que se faz”.
Na diocese de Santarém o bispo emérito, D. Manuel Pelino, presidiu à celebração na Catedral e citou a passagem do Evangelho, de uma “comunidade fechada e com medo” e convidou os fiéis a “viver a fé com alegria” a serem “mensageiros da Misericórdia”.
“Era uma comunidade com medo, fechada, leva-nos a examinar as nossas comunidades, agarradas ao passado, sem dinamismo para levar o Evangelho da Misericórdia, e o meio que temos para rejuvenescer é dar prioridade a Jesus Ressuscitado, colocá-lo no meio da comunidade, no seio da família e no coração de cada um”.
Em Setúbal, na Igreja São Sebastião, D. José Ornelas afirmou que o tempo de isolamento social, “das igrejas vazias” vai fazer com que haja uma “reconstrução do mundo” e se aprenda com este tempo de dor e dificuldade.
“Esta misericórdia que vem ao encontro de cada um, nos lares, hospitais, nossas casas, Jesus Cristo está presente muitos não querem crer como Tomé, alguns vão aproveitar a crise para saltar para cima do outro, para aumentar a divisão e exploração, vai haver gente que se esquece do caminhos da fé… Temos de fazer um caminho novo, oxalá aproveitem este caminho da dor e dificuldade, aprendam dos erros mas aprendam também dos esforços deste tempo que vai ser necessário para criar este mundo novo”.
Em Vila Real o bispo diocesano, D. António Augusto, disse na sua homilia que ao “longo de gerações de crentes” foram sentindo a alegria de ter fé, a “fé pascal”, e em dias difíceis como nestes de isolamento social muitos cristãos têm “descoberto o lugar e a necessidade da fé” e pediu atenção e cuidado nas famílias que cada um tem à sua volta e que podem “passar ou passarão dificuldades”.
“Nesta situação excecional dirijo-me às famílias cristãs para convidar a serem um espaço onde a fé tem lugar, desafio cada uma a ser mais espaço de oração conjunta, por exemplo antes das refeições, a ser capaz de conversar sobre fé, organizar a participação na Eucaristia em família, para já em casa e, logo que possível, na igreja da sua paróquia”.
Na diocese de Viseu D. António Luciano pediu, neste “domingo de Pascoela”, o “dom maravilhoso” que é a Misericórdia, nas “horas difíceis e sombrias que a Humanidade vive”, e destacou as “respostas de solidariedade, presença e amizade” neste isolamento devido à pandemia que podem ser “oportunidades no anúncio do Evangelho”.
“Ao longo deste mês todo o mundo e como portugueses temos olhado para as respostas que são dadas para conter esta epidemia, quantos gestos de misericórdia e solidariedade, no voluntariado, na presença, amizade e desejo que tudo mude, esta é a face mais bela e visível da misericórdia divina no nosso mundo”.
SN
(Notícia atualizada às 17h10)