Igreja/Menores: Novos programas para crianças reforçam aposta na «prevenção primária»

«Prevenção deve ser transversal e gostaria muito que a nossa sociedade civil seguisse o caminho e o exemplo que a Igreja Católica em Portugal está a mostrar» – Rute Agulhas

Lisboa, 30 set 2025 (Ecclesia) – O Grupo Vita, organismo de acompanhamento das situações de violência sexual na Igreja Católica em Portugal, apresentou hoje em Lisboa dois programas de “prevenção primária” para crianças, com atenção ao mundo digital.

Rute Agulhas, coordenadora do grupo, disse que a Igreja Católica assume um “papel pioneiro”, destacando que os mais recentes dados da PJ que mostram que o fenómeno “não é residual”.

A Polícia Judiciária contabilizou 711 crimes de abuso sexual contra crianças nos primeiros seis meses do ano.

“Está na família, sobretudo, na escola, no meio digital e também na Igreja, que é um meio onde as crianças se movimentam”, assinalou a coordenadora do VITA, falando no Externato de São José, no Restelo.

O grupo, acrescentou, já recebeu mais de 140 vítimas desde 2023, “cuidando do passado, mas também do presente e sobretudo no futuro”, com aposta na “prevenção primária”, para evitar que estas situações se repitam ou sejam identificadas “o mais rapidamente possível”.

Para Rute Agulhas, os programas destinam-se a ajudar as crianças a “reconhecer, reagir e revelar” as diferentes situações, capacitando-as para “resolver dilemas”.

“A prevenção deve ser transversal e gostaria muito que a nossa sociedade civil seguisse o caminho e o exemplo que a Igreja Católica em Portugal está a mostrar”, apelou.

Joana Alexandre, do Grupo VITA, disse por sua vez que os programas têm uma “lógica sequencial”, ajudando a “trabalhar a tomada de decisão responsável”.

“Consideramos muito importante que qualquer adulto que queira dinamizar as atividades faça uma formação”, indicou.

Os programas foram pré-testados com um grupo de 19 crianças dos seis aos nove anos de idade e 32 crianças dos 10 aos 14 anos de idade.

O Programa ‘Lighthouse Game’ é um jogo digital para a prevenção da violência sexual contra crianças, para menores dos 10 aos 12 anos de idade, sendo sugerido que seja feito por equipas de duas a seis pessoas.

Iara Conceição, finalista do programa de mestrado em psicologia comunitária, proteção de crianças e jovens em risco do ISCTE -Instituto Universitário de Lisboa) esteve ligada ao desenvolvimento deste programa, precisando que o mesmo conta com um manual do “adulto dinamizador”, apresentando objetivos e atividades; são também sugeridas diversas atividades complementares, de natureza não-digital.

Os temas abordados são “internet segura”, “relações saudáveis e comunicação”, “emoções, corpo e segredos”, “estratégias contra a pessoa agressora” e “comportamentos de ajuda”.

Já o ‘Programa Girassol’, de prevenção primária da violência sexual contra crianças, no contexto da Igreja Católica em Portugal, destina-se a menores dos sete aos nove anos de idade.

Tatiana Pinto, também do mestrado do ISCTE -Instituto Universitário de Lisboa, explicou as propostas, com um caderno de atividades, abordando temas como as “emoções”, “relações saudáveis”, “o corpo e a privacidade”, com recursos para “navegar em segurança na internet”.

Para cada tema, são apresentados um conjunto diverso de atividades, que devem ser dinamizadas ao longo do tempo por um “adulto significativo” (professor, catequista, dirigente dos escuteiros), capacitado para o efeito pelo Grupo VITA, e envolvendo também a família.

Os materiais foram revistos por “embaixadores”, isto é, catequistas, padres, professores de Educação Moral e Religiosa Católica e dirigentes do Corpo Nacional de Escutas, após dois anos de trabalhos que envolveram iniciativas com cerca de 4 mil pessoas.

A implementação dos programas será monitorizada pelo Grupo VITA durante o ano letivo 2025/2026, com ações formativas sobre os programas, em formato online já a partir de outubro, destinadas a todos os adultos que, no contexto da Igreja Católica em Portugal, os desejem implementar.

No início da sessão, o padre Manuel Barbosa, secretário da Conferência Episcopal Portuguesa, agradeceu o “trabalho imenso” desenvolvido pelo grupo na prevenção e na formação de agentes católicos.

O sacerdote saudou o esforço envolvido nos dois projetos, que considerou iniciativas “preciosas para a vida da Igreja e da sociedade”

CB/OC

Desde janeiro de 2021, a Igreja Católica em Portugal tem novas diretrizes para a “proteção de menores e adultos vulneráveis”, sublinhando uma atitude de vigilância nas várias atividades pastorais e de colaboração com as autoridades.

Durante o ano de 2022, a CEP pediu um estudo sobre casos de abuso sexual na Igreja em Portugal nos últimos 70 anos a uma Comissão Independente, que validou 512 testemunhos relativos a situações de abuso, que seria apresentado em fevereiro de 2023.

A 22 de maio de 2023, a Conferência Episcopal Portuguesa criou o Grupo Vita para acolher denúncias de abuso, trabalhar na prevenção e acompanhar vítimas e agressores.

Os pedidos de ajuda dirigidos ao Grupo de Acompanhamento das situações de abuso sexual de crianças e adultos vulneráveis no contexto da Igreja Católica em Portuga podem ser encaminhados para a linha de atendimento telefónico 915 090 000 ou através do formulário para sinalizações disponível no site www.grupovita.pt.

 

 

Igreja/Proteção de Menores: «Neste momento já não se faz marcha atrás» – Rute Agulhas

 

Partilhar:
Scroll to Top