Dicastério para a Comunicação defende «novos modelos» para transformar um «ambiente digital tóxico»
Cidade do Vaticano, 29 mai 2023 (Ecclesia) – O Vaticano lançou hoje um documento sobre a presença dos católicos nas redes sociais, apelando à construção de novos modelos, que superem a lógica das “bolhas” e transformem um “ambiente digital tóxico”.
“Temos de reconstruir os espaços digitais, para que se tornem ambientes mais humanos e saudáveis”, refere o texto intitulado ‘Rumo à presença plena. Uma reflexão pastoral sobre a participação nas redes sociais’.
A nota do Dicastério para a Comunicação (Santa Sé) fala das “feridas” causadas nos ambientes digitais, propondo “novos modelos fundamentados na confiança, transparência e inclusão”.
O organismo da Cúria Romana assume como objetivo “promover uma reflexão comum a respeito da participação dos cristãos nas redes sociais, que se tem tornado cada vez mais parte da vida das pessoas”, propondo uma cultura de “amor ao próximo” neste campo.
“Numa época em que estamos cada vez mais divididos, em que cada pessoa se retira na sua própria bolha filtrada, as redes sociais tornam-se um caminho que leva muitos à indiferença, à polarização e ao extremismo”, adverte o Vaticano.
Atenção, com um sentido de pertença, reciprocidade e solidariedade são os pilares para edificar um sentido de comunidade que, em última análise, deveria fortalecer as comunidades locais, capazes de se tornar motores de mudança”.
O documento da Santa Sé alerta que a revolução digital criou oportunidades e desafios, falando em “ciladas” a evitar nas “autoestradas digitais”.
“Da redução de utilizadores individuais a consumidores e mercadorias, à criação de “espaços individualistas” para satisfazer indivíduos que têm a mesma opinião ou incentivar comportamentos extremos, o percurso através do ambiente online é uma viagem em que muitos foram marginalizados e feridos”, indica uma nota do Dicastério para a Comunicação, enviada à Agência ECCLESIA.
O texto destaca a importância de reconhecer nos outros “pessoas reais”, que exigem “disposição para escutar”.
“Podemos começar a reconhecer nosso próximo digital, compreendendo que seus sofrimentos nos dizem respeito. O nosso objetivo é construir não só conexões, mas encontros que se tornem relacionamentos reais, fortalecendo as comunidades locais”, pode ler-se.
A transformação antropológica promovida pelas novas formas de comunicação está no centro das preocupações do organismo da Santa Sé, aludindo a uma condição de “sempre conectados”, passando “rapidamente de um assunto para outro”.
Um significativo desafio cognitivo da cultura digital é nossa perda de capacidade de pensar profunda e objetivamente. Analisamos a superfície e permanecemos no baixio, em vez de ponderar profundamente sobre as realidades”.
O documento apresenta uma série de orientações para a presença dos cristãos nos medias digitais, convidando-os a comunicar “informações verdadeiras criativamente, de modo que surja da amizade e construa comunidade”.
“[O cristão] lançará mão de histórias, exercerá sua influência online de maneira responsável, enquanto os cristãos se tornarão ‘tecedores de comunhão’, será reflexiva, não reativa, será ativa na promoção de atividades e projetos que promovam a dignidade humana, e será sinodal, ajudando-nos a abrir o nosso coração e a abraçar os nossos irmãos e irmãs”, indica o Dicastério para a Comunicação.
O documento ‘Towards Full Presence’ (Rumo à presença plena), com versão original em inglês, tem 82 pontos, desenvolvidos em mais de 20 páginas, sendo acompanhado pelo lançamento de um site próprio, para partilha de boas práticas e a “nova alfabetização mediática”.
OC
Quem definirá as fontes com as quais os sistemas de IA aprenderão? Quem financia estes novos produtores de opinião pública? Como podemos garantir que os criadores de algoritmos sejam orientados por princípios éticos e ajudem a propagar a nível global uma nova consciência e pensamento crítico para minimizar as falhas nas novas plataformas de informação? A nova alfabetização mediática deve compreender competências que não só permitam que as pessoas participem nas informações de modo crítico e eficaz, mas que também discirnam o uso das tecnologias que reduzem cada vez mais a lacuna entre humanos e não-humanos.
(Rumo à presença plena. Uma reflexão pastoral sobre a participação nas redes sociais) |