Painel de especialistas debateu desafios levantados ao jornalismo, a partir de mensagem do Papa Francisco
Lisboa, 30 mai 2019 (Ecclesia) – A sociedade cada vez mais “conectada”, virtualmente, mas sem sentido de relação, foi hoje apresentada em Lisboa como um desafio para a Igreja e os media, a partir de uma mensagem do Papa sobre as comunidades digitais e humanas.
Nelson Ribeiro, professor da Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica Portuguesa (UCP), referiu no auditório da Rádio Renascença, que as empresas que gerem os media sociais têm como objetivo o “lucro”, pelo que é preciso torna rentável, por exemplo, o combate às “fake news”.
“Nós trabalhamos gratuitamente para o Facebook”, acrescentou, num debate promovido pelo Secretariado Nacional das Comunicações Sociais sobre o tema ‘Esta é a rede que queremos’, apresentando o Dia Mundial das Comunicações Sociais (DMCS) 2019, que se celebra este domingo.
O docente da UCP destacou a crescente interação com a “inteligência artificial” e algoritmos construídos para responder às “próprias necessidades”.
Para Nelson Ribeiro, são os utilizadores, no essencial, que determinam o uso da internet e os conteúdos que se disseminam.
“É uma opção que fazemos, enquanto sociedade”, precisou.
Nello Scavo, jornalista e escritor, aludiu, por sua vez, a “uma comunidade em conexão, mas não em relação”.
“isso é um grande problema”, observou.
Para o repórter italiano, é necessário construir uma “comunidade de pessoas” e não uma “opinião pública”, sujeita a “manipulação de informações” e à “desumanização” das figuras de quem não se gosta.
Nelson Ribeiro observou que o Papa Francisco tem ajudado a problematizar “a forma como a comunicação humana se opera”, nos media sociais, realçando que os jovens são hoje “inesperáveis” da tecnologia.
A mensagem do pontífice alude mesmo à figura de “eremitas sociais”.
“Estar aqui e noutro lugar, ao mesmo tempo, não significa que se faça parte de uma comunidade”, declarou o docente da UCP.
Irina Shev, jornalista da SIC, falou de uma mensagem papal que faz sentido num momento em que o “modelo económico” da Comunicação Social se baseia nas redes sociais, “uma ferramenta”.
“As redes sociais espelham aquilo que acontece”, observou.
A jornalista indicou uma situação de dependência das redes sociais, por exemplo, em termos de financiamento.
“Sem uma boa base económica, não se consegue ter um jornalismo independente”, advertiu.
O encontro, no auditório da Rádio Renascença, em Lisboa, incluiu apresentação do livro ‘Fake Pope’, de Nello Scavo, para quem “o jornalista, hoje, é jornalista se tiver como objetivo ir onde está a notícia, a pessoa”.
A abertura da sessão esteve a cargo do presidente do Conselho de Gerência da Renascença, D. Américo Aguiar, bispo auxiliar de Lisboa; o presidente da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais, D. João Lavrador, bispo de Angra, fez a apresentação da Mensagem do Papa para o DMCS 2019.
Antes do encerramento, feito por Isabel Figueiredo, diretora do Secretariado Nacional das Comunicações Sociais, foi entregue o Prémio de Jornalismo Dom Manuel Falcão ao vencedor da edição 2018 – a reportagem ‘É como se a Mãe descesse à terra’, da TVI – e o prémio honorífico ao jornal Diário do Minho, por ocasião do seu centenário.
A mensagem do Papa Francisco para o DMCS 2019 apela à redescoberta do sentido de comunidade como forma de superar os desafios levantados pelo recurso crescente às redes sociais e internet.
O Dia Mundial das Comunicações Sociais foi a única celebração do género estabelecida pelo Concílio Vaticano II, no decreto ‘Inter Mirifica’, em 1963; assinala-se no domingo antes do Pentecostes (2 de junho, em 2019).
OC