Igreja/Media: Papa vai escrever mensagem sobre «riscos» e «oportunidades» da inteligência artificial

«Preservar vozes e rostos humanos» é o tema do Dia Mundial das Comunicações Sociais 2026

Cidade do Vaticano, 29 set 2025 (Ecclesia) – O Papa vai dedicar a mensagem do Dia Mundial das Comunicações Sociais 2026 aos “riscos” e “oportunidades” da inteligência artificial, com o tema ‘Preservar vozes e rostos humanos’, anunciou hoje o Vaticano.

“Nos ecossistemas comunicativos de hoje, a tecnologia influencia as interações de maneira nunca antes conhecida – desde os algoritmos que selecionam conteúdo nos feeds de notícias até à inteligência artificial que redige inteiros textos e conversas”, adianta uma nota divulgada pelo Dicastério para a Comunicação (Santa Sé).

O organismo da Cúria Romana responsável pelo setor dos media destaca que “a humanidade hoje tem possibilidades impensáveis há apenas alguns anos”.

“Embora essas ferramentas ofereçam eficiência e alcance, elas não podem substituir as capacidades unicamente humanas de empatia, ética e responsabilidade moral. A comunicação pública exige julgamento humano, não apenas esquemas de dados”, indica o comunicado.

O desafio é garantir que a humanidade continue sendo o agente orientador. O futuro da comunicação deve garantir que as máquinas sejam ferramentas a serviço e à conexão da vida humana, e não forças que corroem a voz humana.”

O Dia Mundial das Comunicações Sociais é a única celebração do género estabelecida pelo Concílio Vaticano II, no decreto ‘Inter Mirifica’, em 1963; assinala-se, em cada ano, no domingo antes do Pentecostes – 17 de maio, em 2026.

A mensagem para a celebração é tradicionalmente publicada a 24 de janeiro, dia da memória litúrgica de São Francisco de Sales, padroeiro dos jornalistas.

O Dicastério para a Comunicação indica que a “inteligência artificial pode gerar conteúdos envolventes, mas enganosos, manipulativos e prejudiciais, replicar preconceitos e estereótipos presentes nos dados de treinamento, e amplificar a desinformação ao simular vozes e rostos humanos”.

“Temos grandes oportunidades. Ao mesmo tempo, os riscos são reais”, aponta o organismo da Cúria Romana.

O Vaticano entende que “uma dependência excessiva da IA enfraquece o pensamento crítico e as habilidades criativas, enquanto o controle monopolista desses sistemas levanta preocupações sobre a centralização do poder e as desigualdades”.

“Torna-se cada vez mais urgente introduzir a alfabetização mediática nos sistemas educacionais, ou até mesmo a alfabetização no campo da IA (MAIL, ou seja, Media and Artificial Intelligence Literacy). Como católicos, podemos e devemos dar a nossa contribuição, para que as pessoas – especialmente os jovens – adquiram a capacidade de pensar criticamente e cresçam na liberdade do espírito”, conclui a nota.

Na primeira grande entrevista do pontificado, divulgada a 18 de setembro, o Papa alertou para os desafios levantados pelo desenvolvimento da inteligência artificial, sublinhando a centralidade da dignidade humana na Igreja e na sociedade.

“Vai ser muito difícil descobrir a presença de Deus na IA. Nas relações humanas, podemos encontrar pelo menos sinais da presença de Deus”, disse ao ‘Crux’, portal de informação religiosa dos EUA.

A entrevista à jornalista norte-americana Elise Ann Allen faz parte de uma biografia publicada pela editora ‘Penguin’ no Peru, país onde Leão XIV foi missionário, enquanto religioso agostiniano, e depois bispo, por nomeação de Francisco.

Segundo o Papa, um dos perigos é que “o mundo digital siga o seu próprio caminho”, transformando as pessoas em “peões”, assinalando que o desenvolvimento que está a acontecer “a um ritmo incrível também é preocupante”.

“Se perdermos de vista o valor da humanidade e pensarmos que o mundo digital é o mais importante, e depois pensarmos nas pessoas extremamente ricas que estão a investir em inteligência artificial, ignorando totalmente o valor dos seres humanos e da humanidade, acho que a Igreja tem de levantar a voz nessa questão”, declarou.

Leão XIV diz ter sido convidado a autorizar a criação de uma versão digital de si próprio, “para que qualquer pessoa pudesse entrar num site e ter uma audiência pessoal” com o Papa.

“Esse Papa criado por inteligência artificial daria respostas às suas perguntas. Eu disse: ‘Não vou autorizar isso’. Se há alguém que não deveria ser representado por um avatar, na minha opinião, é o Papa”, justificou.

Lembrando que a escolha do nome para o pontificado, após a eleição de 8 de maio, se liga à figura de Leão XIII, autor da encíclica ‘Rerum Novarum’, em 1891, considerada um marco da Doutrina Social da Igreja, o atual pontífice sublinha que “a dignidade humana tem uma relação muito importante com o trabalho”.

OC

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