Mesa-redonda nas Jornadas Nacionais de Comunicação Social destaca impacto da evolução tecnológica
Fátima, 27 set 2024 (Ecclesia) – O padre Miguel Neto, doutorando do Doutoramento Interuniversitário em Comunicação da Universidade de Huelva (Espanha), disse hoje que a literacia mediática é uma “habilidade importante” no mundo atual, onde a informação está disponível “em larga escala”, através da Internet.
“A literacia mediática é essencial para uma melhor qualificação de todos os cidadãos e para uma sociedade mais inclusiva e o desenvolvimento de competências de literacia mediática é essencial para o cidadão do século XXI”, disse o sacerdote da Diocese do Algarve na conferência ‘Literacia mediática para todos, todos, todos’, nas Jornadas Nacionais de Comunicação Social.
A iniciativa está a decorrer desde quinta-feira, em Fátima, com o tema ‘Jornalismo e Inteligência Artificial’.
O primeiro conferencista da mesa-redonda sobre o tema ‘Jornalismo Artificial?’ sublinhou que a presença “no ambiente digital não se mede pela quantidade de informação que retemos”.
O padre Miguel Neto realça que a religião é uma realidade da vida humana e ocupa um “espaço significativo no ambiente digital”.
“É necessário transpor os valores judaico-cristãos, que estão na base da ética e do humanismo das nossas sociedades, para o ambiente digital, para que possamos ler e viver os mesmos valores humanos, tanto no ambiente físico como no digital”, apelou.
Neste contexto, o sacerdote da Diocese do Algarve defende o contributo da Igreja católica neste ambiente “não de uma forma meramente instrumental, mas como um espaço de vida e testemunho, onde a fé tem um lugar central e pode ser transmitida, partilhada e fazermos melhores cristãos e seres humanos”.
Para desenvolver uma “presença digital robusta”, acrescentou, a Igreja deve “promover iniciativas e projetos que fomentem a colaboração entre influenciadores digitais” e “criar grupos de estudo para investigar as implicações do ambiente digital e desenvolver estratégias pastorais apropriadas”.
Estas iniciativas ajudam “a fortalecer a rede de evangelizadores e a criar um espaço digital inclusivo e acolhedor”, concluiu o padre Miguel Neto
‘Verdade entre confrontos de certezas’ foi o tema que Isadora Ataíde Fonseca, docente da Faculdade Ciências Humanas da Universidade Católica Portuguesa (FCH/UCP).
A docente universitária assinalou que nas plataformas digitais existem “constrangimentos colocados pelos grupos de interesse” e “promovem desigualdades entre elites e cidadãos”.
O jornalismo, recordou, é tradicionalmente visto como “o cão de guarda” da sociedade e “tem também um papel facilitador junto dos cidadãos”, situações que são colocadas em causa pela “mudança tecnológica”.
“A tecnologia é o elemento central do jornalismo digital devido às narrativas interativas”, declarou Isadora Ataíde Fonseca.
Em relação à ética e a inteligência artificial, a docente da UCP realçou que a moral se “situa nas interações entre humanos e tecnologias”, defendendo o desenvolvimento de “uma aproximação construtiva em ética aplicada”.
Joana Beleza, subdiretora de áudio e multimédia no grupo Impresa, falou sobre ‘Inteligência Artificial e Jornalismo: uma Carta de Princípios’ começando por afirmar que “quanto mais” aprofunda estas temáticas “mais gosta de humanos”.
A conferencista realçou que a Inteligência Artificial “não substitui o trabalho dos jornalistas”.
“Qualidade e responsabilidade pelo conteúdo”; “a utilização da IA em tarefas de suporte”; “a transparência”; “a propriedade intelectual”; “privacidade e confidencialidade” e “fontes de informação” são alguns pontos da carta de princípios sobre a utilização da IA no jornal ‘Expresso’.
As Jornadas terminam com uma homenagem ao padre António Rego, por ocasião dos 60 anos de ordenação sacerdotal e de exercício do jornalismo, que vai participar num debate, que conta também com a presença de Carlos Liz, antigo diretor de Marketing da TVI, e José Lopes Araújo, natural dos Açores e que trabalhou em várias áreas da RTP.
LFS/OC