Igreja/Media: Documentário «O padre das prisões» reflete sobre Deus, excluídos e reclusão

Irmãs Inês e Daniela Leitão apresentam trabalho do coordenador nacional da Pastoral Penitenciária

Lisboa, 28 jan 2015 (Ecclesia) – As irmãs Inês e Daniela Leitão, respetivamente argumentista e realizadora, vão apresentar o seu novo documentário, "O padre das prisões", a 20 de fevereiro, Dia Internacional da Justiça Social.

O trabalho, com imagem de Ricardo Vieira, parte do trabalho do padre João Gonçalves, da Diocese de Aveiro, coordenador nacional da Pastoral Penitenciária da Igreja católica.

A argumentista Inês Leitão revelou o interesse no tema da pastoral das prisões onde mostra o trabalho de um “sacerdote visitador” há mais de 40 anos e alerta para a realidade prisional portuguesa e a falta de condições.

“O que não vês não está presente na tua vida, então mostro pessoas que vivem nas prisões. É preciso ver como vivem, ter atenção porque estamos a fazer um trabalho sobre pessoas e às vezes esquecemos isso”, explicou hoje à Agência ECCLESIA.

Inês Leitão revela que até conhecer o coordenador da Pastoral Penitenciária desconhecia esta realidade, bem como o serviço que a Igreja Católica desenvolve nesta área.

O padre João Gonçalves, segundo a argumentista, tem sido “um microfone”, a “voz dos mudos, das pessoas reclusas”.

Neste contexto, destaca que descobriram pessoas com “muito boas intenções” a tentar fazer um “trabalho maravilhoso” que se revela “insuficiente”, porque os presos “não” são tratados com a “dignidade que merecem” e há “sobrelotação” no sistema prisional português, observa sobre a realidade que foi lhes foi permitida conhecer na prisão de Sintra e de Aveiro.

“Não podes pedir a uma pessoa que se regenere se lhe dás coisas más, um cubículo para viver, isso aumenta o ódio e a raiva”, alerta.

Para Inês Leitão, a linha entre a pena e o castigo “é ténue” e “ninguém está livre” de um dia ir para uma cadeia: “Ninguém faz a ideia do que é uma reclusão, o que é viver numa cadeia portuguesa”.

A interlocutora destaca que a companhia do padre João Gonçalves para a realização do documentário «O padre das prisões» ensinou-a a ser uma católica “mais misericordiosa” e a ver Deus nos reclusos.

“Era uma católica que achava que quanto mais tempo um preso estivesse na prisão melhor”, acrescenta revelando que agora acredita “numa máxima” do coordenador da Pastoral Penitenciária portuguesa – “Prisões, quantas menos melhor, com melhor qualidade possível e o menor tempo possível”.

A lei 252/2009 permite que os sacerdotes prestem assistência religiosa a pedido dos presos que “acolhem com facilidade” uma presença da Igreja que “não se impõe”, conta Inês Leitão que observou uma aproximação que se faz “devagar”.

O padre João Gonçalves visita a cadeia de Aveiro à segunda-feira para a celebração da Palavra e receber individualmente os reclusos.

Para a argumentista, o momento mais marcante e que lhe deu o “discernimento” que o documentário tinha de ser apresentado foi um recluso com cerca de 70 anos, quase analfabeto, que “juntava as sílabas com muita dificuldade” para ler a Palavra de Deus.

O documentário vai ser lançado simbolicamente no Dia Internacional da Justiça Social, porque as autoras consideram que é necessário “pensar nas prisões com justiça e igualdade”, algo que na sua opinião “não existe”.

Para além dos protagonistas, o padre João Gonçalves e os reclusos, o documentário conta com participações especiais de Francisco Moita Flores, escritor, investigador e antigo inspetor da Polícia Judiciária, e o juiz e político Álvaro Laborinho Lúcio.

Em 2014, Inês e Daniela Leitão entregaram em mão ao Papa o documentário ‘O meu bairro’, sobre a vida de missionários no bairro do Zambujal, “dos mais problemáticos da zona suburbana de Lisboa”, e depois do novo documentário estar concluído também o vão enviar ao Vaticano.

CB/OC

 

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