Igreja/Luto: «Temos de passar pela morte, não temos é de ficar nela» – Padre Carlos Azevedo (c/vídeo)

A dias da solenidade litúrgica de Todos os Santos e da comemoração da memória litúrgica dos Fiéis Defuntos, o capelão do Hospital D. Estefânia, em Lisboa, aborda o conceito de perda

Lisboa, 29 out 2024 (Ecclesia) – O capelão do Hospital D. Estefânia, em Lisboa, padre Carlos Azevedo, disse à Agência ECCLESIA que é importante fechar “bem” um ciclo da morte para avançar na vida.

“A boa gestão das nossas mortes, abrir bem um ciclo, terminar bem um ciclo, é fundamental para que depois possamos avançar e que a cruz das nossas mortes não nos esmague necessariamente. Temos de passar pela morte, não temos é de ficar nela”, afirmou o sacerdote, na emissão desta terça-feira, na RTP2.

A poucos dias da solenidade litúrgica de Todos os Santos (1 de novembro) e da comemoração da memória litúrgica dos Fiéis Defuntos (2 de novembro), o capelão hospitalar refere que a morte representa para muitos “o fim de tudo”, mas na realidade apenas termina o corpo, porque a “dimensão relacional” e “afetiva” mantém-se e conserva-se.

“A perda não é tanto só a ausência física. A perda é não saber ‘o que é que eu agora faço com este mesmo amor que perdura e que continua, com estes vínculos, com estes laços’ que nós fomos capazes de criar entre nós e as pessoas. E aí é importante uma das dimensões que está muito presente neste dia, que é celebrar”, assinala.

O padre Carlos Azevedo lembra “inúmeras vezes” às pessoas que acompanha no luto “a importância de continuar a celebrar”, salientando qua a “grande morte chama-se esquecimento”.

“Essa é a grande morte que, às vezes, até nos mata em vida. Porque, às vezes, quando nos sentimos um bocadinho abandonados, isso faz-nos sentir quase como que mortos. E cada vez que, às vezes, já alguém se conecta connosco, voltamos à vida”, menciona.

Na entrevista, o padre Carlos Azevedo abordou ainda a dificuldade de fazer o luto da morte de uma criança, referindo que essa perda tem de ser “vista com muito respeito e com muita delicadeza”.

“Eu costumo dizer, a doença e a partida de uma criança são os problemas da vida. São os problemas maiores”, sublinha o capelão hospitalar, acrescentando que esta perda, “dura” e “difícil”, é “muitas vezes recentradora daquilo que é o essencial e fundamental” da vida.

Sobre estratégias para o luto ser bem vivido, o padre Carlos Azevedo nomeia o “respeito” e a importância de não queimar etapas.

“Há um tempo para nós também digerirmos [a morte], e esse tempo é que cada um terá o seu. O que é importante é acompanhar. E eu acho que esta é uma das dinâmicas mais importantes da vida humana, que é um bom acompanhamento. O estar, às vezes, é só o ouvir, só o acolher”, ressalta.

O capelão hospitalar considera que um dos aspetos mais graves na vivência do luto é não haver “alguém que colha as coisas, às vezes, mais ilógicas, mais absurdas” que cada um tem para dizer.

“É legítimo. A dor é tamanha que não há palavras que devam ser proibidas de serem ditas naquela hora. Muitas vezes, depois, temos que deixar as coisas ir fluindo também com o seu próprio tempo”, indica.

O padre Carlos Azevedo destaca que o ser humano lida com diversas mortes relacionadas com as etapas da vida como “o deixar de ser bebé”, criança, adolescente e jovem, enfatizando que também a perda do emprego é uma forma de morte, sendo hoje em dia uma das que mais afeta.

Para o capelão hospitalar, uma das coisas mais bonitas para gerir a perda de alguém é pensar o que se pode fazer com o amor que se nutre pela pessoa.

“Pode-se fazer obras”, disse o padre Carlos Azevedo, dando o exemplo do Hospital D. Estefânia, que nasce depois da morte da rainha, quando D. Pedro V pensa no que fazer para honrar o amor que tinha à esposa, concretizando o sonho de construir um hospital só para crianças, em Lisboa.

Segundo o padre Carlos Azevedo, existem duas obras que se podem fazer de forma a integrar e canalizar o luto.

“Primeiro, fazermos com que ele [luto] nos torne melhores pessoas. Porque o amor, quando é verdadeiro, acrescenta”, referiu.

“A segunda coisa é fazer boas obras em nome desse amor. E as boas obras começam, antes de mais e acima de tudo, por cuidarmos muito bem de nós próprios. Porque esse é o descanso dos nossos que partem. Eu acredito que se o amor não termina para nós, também não termina para os que partem”, defendeu.

PR/LJ

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Agência ECCLESIA

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