Afirma Fabrice Hadjadj
Lisboa, 19 jan 2015 (Ecclesia) – O ensaísta Fabrice Hadjadj, conferencista principal do II Encontro Nacional de Leigos, que decorre este sábado, afirmou que a evangelização não deve ser uma “especialidade clerical” e que os leigos têm de mostrar um “cristianismo não espiritualista”.
“Os leigos podem muitas vezes manifestar melhor para o nosso tempo um cristianismo não espiritualista, que assume plenamente a sexualidade, restaura a cultura e reabre a história”, disse o filósofo e dramaturgo francês em declarações publicadas na página da internet da Conferência Nacional das Associações de Apostolado dos Leigos (CNAL).
O II Encontro Nacional de Apostolado dos Leigos (ENL) decorre no Centro de Congressos da Alfândega do Porto, sábado, dia 24, sobre o tema “Recolocar o Homem no centro da sociedade, do pensamento e da vida".
Para Fabrice Hadjadj, o que está a acontecer na atualidade não é um “simples tempo de crise”, mas uma “mudança de era”, uma “revolução radical pelo menos comparável à do neolítico”.
“O sinal desta mutação é o colapso do humanismo e da sua fé no homem e no progresso. O humano já não é central”, referiu.
“Perguntamo-nos mesmo em quê ele é legítimo, depois dos horrores do século XX. Ou mesmo em que consiste, depois das reduções da ciência. Porque no lugar do homem coloca-se o indivíduo do liberalismo, o ‘cyborg’ do tecnologismo, o bonobo da ‘deep ecology’ ou o jihadista do fundamentalismo”, susteou.
Fabrice Hadjadj considera que “estas quatro figuras afrontam-se entre si mas estão na verdade de acordo para rejeitar o homem nascido de uma genealogia, de uma história, com uma língua, um sexo, um nome de família significativo”.
Para o ensaísta, director do Instituto Europeu de Estudos Antropológicos Philanthropos, na Suíça, “há uma urgência” de reagir “colapso do humanismo”, mas não com as categorias antigas, que “já não funcionam”.
“Parece-me, que a primeira urgência é a da evangelização – quer dizer esperar contra toda a esperança, abrir um caminho no meio do mar. A época é tão sombria que nós não podemos mais contentar-nos com a lógica do fermento na massa: é preciso também colocar a luz no candelabro”, afirmou.
Fabrice Hadjadj defende que os católicos têm muitos meios para a “urgência” da evangelização, porque interessa lutar contra “uma espécie de desencarnação generalizada”
“O internauta e o jihadista são ambos produtos da mundialização. Perderam o sentido de proximidade. Combatem por «perfis» ou por «ideias», não por rostos. Eis porque, mais do que nunca, é preciso pregar o amor do próximo tornando-se próximo, anunciar o mistério da Encarnação, sendo nós próprios encarnados, de próximo para próximo”, sustenta.
“É esta exigência de encarnação que faz com que a evangelização não deva ser uma especialidade clerical”, refere Fabrice Hadjadj.
O Segundo Encontro Nacional de Leigos vai iniciar com a comunicação de Fabrice Hadjadj sobre o desafio antropológico da centralidade da pessoa humana, a que se segue um diálogo com a jornalista Paula Moura Pinheiro.
O tema do encontro “Recolocar o homem no centro” é analisado depois em seis ateliers, com comunicações de Henrique Leitão, Prémio Pessoa 2014, o juiz José Souto Moura, o professor universitário Joaquim Azevedo, o escritor Pedro Mexia e o campeão paralímpico Bento Amaral, entre outros.
A inscrição para participar no II ENL pode ser feita até ao dia 21 de janeiro, na página da internet da CNAL.
PR