Igreja/Jovens: «Carlo Acutis é um sinal de que a santidade é para todos os tempos», afirma padre Ricardo Figueiredo

Biógrafo português do futuro santo destaca que «é normal haver santos de calças de ganga, de computador debaixo do braço, telemóvel, a jogar Playstation»

Foto: Agência ECCLESIA/CB

Lisboa, 05  set 2025 (Ecclesia) – O padre Ricardo Figueiredo, autor do livro ‘Não eu, mas Deus – Biografia Espiritual de Carlo Acutis’, explica que a canonização do primeiro santo ‘millennial’, este domingo, “é um sinal de que a santidade é para todos os tempos”.

“Muitas vezes aconteceu, ao longo da história da Igreja, quem está num determinado tempo achar que os santos são uma coisa do passado. Basta pensarmos em São Gregório Magno quando escreve os diálogos sobre São Bento, exatamente a mostrar como no tempo dele havia histórias de santidade”, disse o sacerdote do Patriarcado de Lisboa, em entrevista à Agência ECCLESIA.

Carlo Acutis  (1991-2006) nasceu em Londres, onde os seus pais estavam a trabalhar, e faleceu aos 15 anos de idade, vítima de leucemia, na cidade de Monza (Itália); o padre Ricardo Figueiredo salienta que é testemunha de alguém que “vive nesta transformação com o computador, com a informática, numa escola, num grupo de amigos, a jogar Playstation, com os jogos típicos de quem nasce naquela altura, desde as figuras do Pokémon e tantas outras figuras”.

“E o Carlo Acutis mostra-nos que a santidade é possível precisamente aí. No meio das dificuldades, no meio das lutas, no meio de tudo aquilo que são os paradoxos de cada tempo, mas uma resposta de que a santidade é possível em qualquer época histórica; o Carlo Acutis é, antes de mais, um sinal de que a santidade é para todos os tempos”, acrescentou o autor da ‘biografia espiritual’ em português do adolescente italiano.

“A santidade é para todas as idades, para todas as épocas, e cada um dos jovens, e nós temos de ter consciência,  quando vemos a difusão da vida do Carlo Acutis, sobretudo desde o reconhecimento das virtudes heroicas, em 2018.”

O Papa Leão XIV vai canonizar Carlo Acutis, juntamente com o beato Pier Giorgio Frassati, este domingo, dia 7 de setembro, na Praça de São Pedro, no Vaticano, e, segundo o sacerdote de Lisboa, a Igreja Católica reconhece esta santidade porque ele, e “é o comum de todos os santos, procurou fazer a vontade de Deus”, que “é o primeiro passo fundamental”.

“O segundo ponto, e aquilo porque ele é mais conhecido, é a devoção à Eucaristia. Verdadeiramente, a amizade com Jesus, a intimidade, a comunhão de vida com Jesus, era o grande sentido que ele soube encontrar na existência para se ultrapassar, para corresponder, cada vez mais, a Jesus Cristo”, indicou, o padre Ricardo Figueiredo, acrescentando, em terceiro lugar, que foi alguém que “verdadeiramente viu aquilo que é próprio dos santos, que é a missão”.

Carlo Acutis, o primeiro santo ‘millennial’ – pessoas que nasceram entre 1981 e 1996 -, conhecido também como o “padroeiro da internet”, viu como o mundo digital “precisava desta palavra do Evangelho, desta vida nova de Cristo, precisa deste Evangelho verdadeiro que transforma”, e “foi capaz de levar aí essa realidade”.

“É normal haver santos de calças de ganga, é normal haver santos de computador debaixo do braço, telemóvel, a jogar Playstation. É normal. Nisto tudo, é possível fazer caminho de santidade.”

O autor do livro ‘Não eu, mas Deus – Biografia Espiritual de Carlo Acutis’, publicado em 2019, destaca a dimensão solidária do jovens adolescente que vive na cidade italiana de Milão “com tantos pobres e com tanta pobreza”, e ele é capaz de poupar da mesada, “ou estar à espera da mesada para comprar um saco-cama para um pobre”, dar os seus sapatos, “e chegar sem os sapatos a casa, ir sempre dando, dando, dando”.

Carlo Acutis foi beatificado em outubro de 2020, em Assis, a cidade italiana onde repousam os restos mortais, as virtudes heroicas foram aprovadas em julho de 2018, e foi um dos patronos da edição internacional da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), em Lisboa, em 2023, o que “foi um dos momentos de expansão, ficou ainda mais conhecido”, o padre Ricardo Figueiredo recordou que realizaram uma conversa com a mãe de Carlo Acutis “e a lotação do auditório foi esgotadíssima”.

O futuro santo da Igreja Católica também passou por Portugal, e esteve em Lisboa, no Mosteiro dos Jerónimos, na igreja do Santíssimo Milagre de Santarém, no Santuário de Fátima, e em Alcobaça, “um sinal importante” porque os portugueses, “muitas vezes”, não conhecem “as riquezas e como Deus faz chover tantas bênçãos sobre o país”.

“O Carlo Acutis, quando vem a Portugal, era não só para conhecer o Milagre Eucarístico Santarém, era também na visita a Fátima, porque ele estava a começar a realizar uma exposição sobre as Aparições de Nossa Senhora, e idealiza mais duas, sobre Anjos e Demónios e sobre o Inferno, o Purgatório e o Paraíso na vida dos santos”.

A entrevista ao padre Ricardo Figueiredo vai ser emitida no Programa ECCLESIA, este sábado, 6 de setembro, pelas 06h00, na rádio Antena 1, e fica disponível em agencia.ecclesia.pt, integrou também o Programa ‘70X7’, é dedicado a Carlo Acutis, do dia 31 de agosto, na RTP2.

CB/OC

Foto: obidosdiario.com

No livro ‘Não eu, mas Deus – Biografia espiritual de Carlo Acutis’, publicado em Portugal, em 2019, o padre Ricardo Figueiredo, do Patriarcado de Lisboa, apresentou a história de vida do jovem que descobriu quando foram aprovadas as suas virtudes heroicas, em julho de 2018.

“Eu tinha escrito um livro sobre um jovem exemplo de santidade, estava a trabalhar nas Paróquias de Peniche e foi sobre o santo surfista [Guido Schäffer]. Sempre pensei que a minha carreira de autor tinha ficado aí, o que é verdade é que, passado um tempo, apareceu uma notificação sobre decretos de virtudes heroicas e dou-me conta da publicação de um jovem italiano, Carlo Acutis, nascido em 1991, e este foi o primeiro choque para mim, é um ano mais novo que eu, e já é santo”, explicou o entrevistado.

O padre Ricardo Figueiredo interrogou-se se andava “a corresponder à vontade de Deus”, e foi aí que achou “interessante”, encomendou alguns livros e começou a ler e a estudar a vida do Carlo Acutis e fez a proposta à Editora Paulus de escrever um novo livro.

“Ao ler os livros que encomendei de Itália via que contavam a história dele, eu queria, sobretudo, sublinhar aquilo que era a sua vida espiritual, como é que ele procurou corresponder à vontade de Deus, como é que verdadeiramente a sua existência foi trabalhada, e como é que ela cresceu com esta amizade com Jesus Cristo”, explicou.

O escritor destaca que foi convidado para ir falar sobre o Carlo Acutis a vários sítios, “à medida que ele ia sendo conhecido”, e sentiu-se “um bocadinho um embaixador” desse adolescente “em Portugal, os PALOP, quer também para o Brasil”, e “chegaram sempre muitos testemunhos de como o Carlo Acutis toca corações em todo o mundo”.

“Testemunhos de jovens que voltaram a aproximar-se da Igreja com o testemunho do Carlo Acutis. Isto é fundamental para a Igreja mostrar estes exemplos, e termos estes exemplos, porque muitas vezes corre-se o risco de pensar que a fé é algo do passado, ou, desculpem-me a expressão, que a fé e a Igreja é uma coisa só para velhos. E o Carlos Acutis vai mostrar que não, a Igreja é para todos os tempos”, desenvolveu o padre Ricardo Figueiredo.

O livro ‘Não eu, mas Deus – Biografia espiritual de Carlo Acutis’ apresenta também uma memória fotográfica do futuro santo onde mostra a sua passagem por Portugal.

 

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