Igreja/IA: «É do interesse de todos que a inteligência artificial seja um instrumento de participação, de democracia» – Andrea Tornielli

Diretor editorial do Dicastério para a Comunicação sublinha «apelo à responsabilidade» do novo documento do Vaticano

Foto Agência ECCLESIA/PR, Andrea Tornielli

Cidade do Vaticano, 28 jan 2025 (Ecclesia) – O diretor editorial do Dicastério para a Comunicação (Santa Sé) disse hoje à Agência ECCLESIA que o novo documento do Vaticano sobre a inteligência artificial (IA) é um “apelo à responsabilidade”, perante ameaças à informação e à democracia.

“É do interesse de todos que a inteligência artificial seja um instrumento de melhor participação, de democracia, para o bem comum e não algo que esteja nas mãos de poucas pessoas ricas, que podem fazer o que quiserem”, refere Andrea Tornielli, a respeito da nota nota ‘Antiqua et nova’ (antiga e nova), sobre a relação entre a IA e inteligência humana.

O texto é assinado pelos cardeais D. Víctor Fernández, prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé, e D. José Tolentino Mendonça, prefeito do Dicastério para a Cultura e Educação, bem como pelos secretários destes organismos da Cúria Romana.

Tornielli sublinha que o desenvolvimento tecnológico coloca questões “sobre qual é a peculiaridade do ser humano”.

“É por isso que o apelo à responsabilidade é tão interessante. Nenhuma decisão pode ser exigida, deixada à decisão de uma máquina, de uma inteligência artificial, tem de haver sempre um pensamento humano”, observa.

O desenvolvimento de novas tecnologias, acrescenta, faz com que seja “muito difícil compreender e discernir o que é verdadeiro do que é falso”

Para o diretor editorial do Dicastério para a Comunicação, “o bom jornalismo, profissional, é essencial para a democracia”, oferecendo elementos para as tomadas de decisão.

Segundo o jornalista, a reflexão da Igreja Católica surge como uma “ajuda ao diálogo, para fazer avançar a humanidade em direção ao bem comum”.

“A inteligência artificial é um instrumento, que pode ser bem ou mal utilizado. Por isso, não devemos demonizá-la nem apaixonar-nos por ela, como se deixássemos tudo para o próprio instrumento”, adverte.

A inteligência artificial pode processar os dados que já tem, ajuda a calcular, faz coisas que a mente humana não consegue fazer em tão pouco tempo, mas falta-lhe a intuição criadora do homem e a verdadeira capacidade crítica”.

Andrea Tornielli admite que a IA pode ajudar no trabalho jornalístico, exemplificando com “a forma como são feitas as transcrições, as traduções”, mas admite limitações e perigos, como as técnicas de “morphing”, que podem apresentar um discurso numa língua diferente da originalmente pronunciada, mas também criar conteúdos falsos.

D. Paul Tighe, secretário do Dicastério para a Cultura e Educação, refere ao portal de notícias do Vaticano que a nota visa “oferecer às pessoas algumas perspetivas a partir das quais elas possam começar a pensar criticamente sobre a IA e os seus possíveis benefícios para a sociedade”.

O especialista, que nos últimos anos participou em várias edições da Web Summit, em Lisboa, admite que o documento da Santa Sé apresenta “um certo elemento de cautela”.

“Muitos de nós, com o advento das redes sociais, fomos rápidos em abraçar o seu extraordinário potencial, mas talvez não tenhamos percebido as desvantagens em termos de polarização, fake news e outros problemas”, alerta.

PR/OC

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