Patriarca emérito de Lisboa debruça-se sobre mais um ano jubilar, na rubrica inserida no Programa ECCLESIA

Lisboa, 06 mar 2025 (Ecclesia) – D. Manuel Clemente, especialista na história da Igreja, afirmou que o Jubileu de 1650 contrariou o apagamento da autoridade do Papa e da Santa Sé, numa altura em que estes perdiam proeminência.
“O que é especial do Jubileu de 1650 é ser um contraponto ao apagamento político do papado e aparece sobretudo esta finalidade religiosa que leva tanta gente a Roma neste jubileu de meados do século XVII”, referiu o patriarca emérito de Lisboa, na rubrica sobre a história dos jubileus, inserida no Programa ECCCLESIA desta quinta-feira.
Com a Paz de Vestefália (1648), que designa o acordo entre potências europeias para terminar coma Guerra dos Trinta Anos, “cada um resolve a religião dentro do seu Estado”, explica D. Manuel Clemente, com a Santa Sé a não ser “ouvida nem achada”, contudo este jubileu do século XVIII, com o Papa Inocêncio X, veio alterar essa ideia.
“Entretanto, há uma multidão que acorre a Roma. E acorre a Roma por um motivo especificamente religioso, que é o jubileu, que é para ganhar indulgência, que continua a ter muita premência, no coração dos crentes”, indica.
D. Manuel Clemente fala que esta era um momento em que parecia que o papado perdia autoridade, no entanto as pessoas deslocaram-se a Roma, por motivos religiosos, num tempo de relativa paz.
Ao contrário do Papa Urbano VIII, que presidiu ao jubileu anterior, o Papa Inocêncio era um “Papa idoso para a época” e por isso mais “limitado”, conta D. Manuel Clemente, no enanto quis fazer o Jubileu de 1650 com “tudo aquilo que é habitual”.
No contexto português, contextualiza o cardeal português, esta era uma altura em que Portugal se tinha separado da Espanha e tinha começado a dinastia de Bragança, um tempo “um bocado complicado até para a Igreja”, “porque os reis tinham essa faculdade de indicar o nome dos bispos”.
“Mas qual era o rei de Portugal? O rei de Espanha continuava a dizer que era ele. Estávamos em guerra, a guerra só vai acabar mais tarde, em 1668”, referiu.
D. Manuel Clemente dá conta que “enquanto as coisas não se resolviam” entre reis, não havia nomeações e “Portugal ia ficando sem bispos”.
“Enquanto não houve a paz com a Espanha, que só aconteceu em 1668, portanto 28 anos depois da independência, 1 de dezembro de 1640, Portugal ia ficando sem bispo”, explicou.
O Papa Bonifácio VIII instituiu, em 1300, o primeiro ano santo – com recorrência centenária, passando depois, segundo o modelo bíblico, cinquentenária e finalmente fixado de 25 em 25 anos.
O Ano Santo, 27.º jubileu ordinário da história da Igreja, foi proclamado pelo Papa Francisco na bula intitulada ‘Spes non confundit’ (A esperança não engana) e teve início no dia 24 de dezembro de 2024, com a abertura da Porta Santa na Basílica de São Pedro, e termina no dia 6 de janeiro de 2026.
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