Monsenhor Joaquim Carreira foi declarado «justo entre as nações», um exemplo de humanidade em tempos de «barbárie»
Lisboa, 16 abr 2015 (Ecclesia) – O sacerdote português Joaquim Carreira (1908-1981) foi distinguido pela Embaixada de Israel e a Comunidade Israelita de Lisboa com a entrega da medalha e do certificado de honra ‘Justo entre as Nações’, do Instituto Yad Vashem à sua família.
A distinção foi entregue na Sinagoga de Lisboa pela embaixadora de Israel em Portugal, Tzipora Rimon, durante um ato solene em homenagem às vítimas do Holocausto, em que considerou uma “honra” distinguir quem se distinguiu na defesa dos mais fracos.
A responsável citou um depoimento do bispo emérito do Funchal, D, Teodoro de Faria, que conviveu com o homenageado em Roma, segundo o qual monsenhor Joaquim Carreira não só ajudou judeus e outros refugiados no Pontifício Colégio Português mas também na preparação de viagens de judeus para Lisboa, a caminho da América.
O ‘Yad Vashem’ decidiu em 2014 outorgar o título de ‘Justo entre as Nações’ ao padre Joaquim Carreira, vice-reitor e reitor do Pontifício Colégio Português entre 1940 e 1954.
A medalha e o diploma de “Justo entre a Nações” do Memorial do Holocausto e centro de pesquisa com sede em Jerusalém, foram entregues a um sobrinho do homenageado, o padre João Carreira Mónico, religioso espiritano.
Esta é a maior distinção para não-judeus que pode ser emitida em nome do Estado de Israel e do povo judeu e foi atribuída, até hoje, a mais de 25 mil pessoas, incluindo outros três portugueses: Aristides de Sousa Mendes, Sampaio Garrido e José Brito Mendes.
“Concedi asilo e hospitalidade no colégio a pessoas que eram perseguidas na base de leis injustas e desumanas”, escreveu o padre Joaquim Carreira no relatório referente ao ano letivo de 1943-1944.
A história foi contada pelo jornalista António Marujo, que enviou ao Yad Vashem vários dados que incluíam o depoimento de um sobrevivente judeu, Elio, da família judaico-italiana Cittone.
“Esse foi o momento em que, de alguma maneira, a história ficou completa”, confessou, no final da cerimónia, em declarações aos jornalistas.
Os refugiados incluíam “ilustres conhecidos” da cidade de Roma, e revelam que também houve portugueses “a lutar contra a barbárie”, acolhendo quem era “visado só porque tinha outra religião ou simplesmente uma atitude de oposição política” ao fascismo.
O padre João Carreira Mónico fala em 40 pessoas apoiadas pelo seu tio, entre opositores e perseguidos pelo nazismo, apresentando-o como um “exemplo de humanidade sacerdotal”.
Esta ação levou monsenhor Joaquim Carreira a suportar “problemas de toda a ordem” para levar por diante uma “ação humanitária e caritativa”.
Monsenhor Joaquim Carreira nasceu em 1908 numa aldeia próxima de Fátima, foi ordenado padre em 1931 e em 1940, já em plena II Guerra Mundial, mudou-se para Roma, que viria a ser ocupada pelos nazis em setembro de 1943.
OC