Igreja: História e consequências do Vaticano II ainda estão por definir, diz teólogo francês

Hervé Legrand abordou atualidade do Concílio em jornadas de estudo promovidas pela Universidade Católica

Lisboa, 09 mar 2012 (Ecclesia) – O teólogo francês Hervé Legrand disse esta quinta-feira, em Lisboa, que a Igreja Católica deve “recorrer às ciências humanas” para fazer uma “reflexão adequada” sobre si própria, 50 anos após o começo do Concílio Vaticano II (1962-1965).

Este especialista proferiu uma conferência intitulada ‘Do aggiornamento conciliar ao novo “lugar” de presença e ação da Igreja no mundo de hoje’, durante as XXXIII Jornadas de Estudos Teológicos, a decorrer na Universidade Católica Portuguesa, de quarta-feira até hoje.

Legrand realçou que a reflexão sobre a Igreja “implica recorrer à História, mas também à Sociologia”.

Este esforço, acrescentou o professor do Instituto Católico de Paris (França), permite “discernir o que vem dos enunciados da fé” e compreender porque é que “certas expressões se tornaram espinhosas e, sobretudo, tratá-las mais serenamente”.

Neste contexto, Hervé Legrand enumerou alguns casos: “O estatuto das mulheres no cristianismo, a sua não ordenação, e muitas outras atitudes cristãs, herdadas da História, que persistem até ao princípio do século XX, e até mesmo aos nossos dias, como as atitudes face ao judaísmo, à sexualidade, ao celibato eclesiástico e… a lista está longe de ficar concluída”. 

Para o teólogo dominicano – especialista em eclesiologia e ecumenismo – a história dos anos pós-conciliares “ainda não foi feita de forma verdadeiramente académica”, ainda que existam “alguns dados factuais sólidos”, considerando que o “espírito histórico ajuda sempre a compreender o presente”.

Ao falar sobre a secularização, o conferencista apontou três processos que mudaram o lugar das religiões na modernidade: “A diferenciação das esferas sociais, a privatização das crenças e o seu declínio”.

Nas jornadas, com o tema central ‘O Concílio Vaticano II na vida da Igreja: a condição crente, hoje’, o orador convidado salientou que as sociedades se modernizaram, “distinguindo-se, pouco a pouco, umas das outras, nos campos da religião, da economia, da política, das organizações, do alto saber”.

O conferencista alertou, no entanto, que “se a religião não representar mais do que uma esfera de atividade entre tantas outras, perde assim a prioridade e a centralidade que lhe davam as sociedades tradicionais”.

Numa sociedade complexa e em rápida mutação, Hervé Legrand apela para que se continue a “aprender a sinodalidade” visto que o “modelo ordem/execução do século XIX se tornou inoperante” e “é necessário que o maior número possível tenha um amplo acesso às mesmas informações para se poder debater” o futuro.

Se tal não acontecer, alertou, “os media organizarão o debate, segundo as suas regras” e só restará “um cristianismo cultural”.

LFS

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