Igreja/História: 1450 representou «jubileu de transição entre o mundo medieval e o mundo moderno» – D. Manuel Clemente (c/vídeo)

Patriarca emérito de Lisboa evoca Ano Santo interrompido por causa dos surtos de peste

Lisboa, 09 jan 2025 (Ecclesia) – D. Manuel Clemente, especialista em História da Igreja, referiu que o Ano Santo de 1450, convocado pelo Papa Nicolau V, representou um “jubileu de transição entre o mundo medieval e o mundo moderno”, no Renascimento e na expansão marítima.

“O jubileu chega no tempo do Papa Nicolau V, estamos em 1450, e tem todos aqueles elementos que fazem parte do jubileu, – a procura da indulgência, a peregrinação, a visita às basílicas -, é, digamos assim, a essência dos jubileus católicos e, nesse sentido, distinta do que era a velha doutrina, a inspiração do jubileu bíblico, do Levítico XXV, como tempo com uma grande dimensão social, porque a motivação é da salvação da alma, é espiritual”, explicou o patriarca-emérito de Lisboa, em entrevista à Agência ECCLESIA.

D. Manuel Clemente recorda que Nicolau V é, a vários títulos, “o último Papa medieval e primeiro Papa do Renascimento”, na conversa semanal sobre a celebração dos jubileus, pelo Ano Santo de 2025.

O entrevistado contextualiza que, em 1450, é a época que tem o nome de ‘Renascimento’ e “o mundo estava a alargar”, com a expansão marítima dos portugueses, de espanhóis, e “ganhou-se uma outra dimensão do mundo, que não se tinha, na Idade Média”, quando pensava-se que o “mundo acabava nesta pontinha da Europa”.

“Agora, descobre-se que há mundos que constantemente são noticiados, encontramos estas espécies vegetais, encontrámos estas qualidades de humanidade, encontrámos isto, encontrámos aquilo, tudo isto é um turbilhão de motivações que está presente na consciência das pessoas, mais numas do que noutras, está claro, mas que fazem deste jubileu do Nicolau V, o jubileu de 1450, um jubileu de transição entre o mundo medieval e o mundo moderno”, desenvolveu.

O cardeal português, especialista em História da Igreja, salienta que o Jubileu de 1450 se realiza “com muita afluência a Roma, vindo de muito lado, um pouco por toda a Europa”, mas é interrompido “atribulado por surtos de peste”, “que é um problema tremendo”.

D. Manuel Clemente explica que a Roma “não tinha nenhuma capacidade de acolher dignamente e com meios suficientes” as multidões que chegavam à capital italiana, naquela altura havia “algumas hospedarias que, rapidamente, ficavam lotadas, não tinha a higiene pública”, e “era muito propício à propagação de epidemias”.

O jubileu do Papa Nicolau V, sublinhou o especialista, foi “especialmente atribulado por surtos de peste”, que “obrigaram, por exemplo, a transformar as igrejas em hospitais”, e, no contexto das figuras que destacam nestes anos, em 1450, foi São Diogo de Alcalá, frade franciscano espanhol, que estava em Roma.

“Foi canonizado, não demorou muito tempo; desdobrou-se nesse cuidado com as pessoas que estavam doentes, e algumas moribundas, com a peste, e no cuidado delas com enorme heroicidade”, acrescentou, no Programa ECCLESIA, espaço televisivo da Igreja Católica na RTP2.

O Papa Bonifácio VIII instituiu, em 1300, o primeiro ano santo – com recorrência centenária, passando depois, segundo o modelo bíblico, cinquentenária e finalmente fixado de 25 em 25 anos.

D. Manuel Clemente explica que foi no jubileu de 1450, do Papa Nicolau V, que começaram “as cadências dos 25 a 25 anos”, e assinala que, em programas futuros, vai falar sobre outros anos “em que não houve condições para realizar um jubileu tal e qual”.

Ainda no sentido do mundo do Renascimento, o entrevistado especialista em História da Igreja, lembra que “a recuperação dos edifícios começa com o Nicolau V”, e com os seus sucessores que vão ser “Papas muito construtores e reconstrutores, em Roma, de igrejas, de palácios, etc”.

Na bula de proclamação do Jubileu 2025, intitulada ‘Spes non confundit’ (A esperança não desilude), Francisco anunciou solenemente o início e fim das celebrações do próximo Ano Santo, entre 28 de dezembro de 2024 e 6 de janeiro de 2026, naquele que será o 27.º jubileu ordinário da história da Igreja.

PR/CB/OC

 

Ao longo da história da Igreja, foram vários os anos jubilares, cuja lista se apresenta em seguida, com referência aos Papas que o convocaram e presidiram

1300: Bonifácio VIII

1350: Clemente VI

1390: Proclamado por Urbano VI, presidido por Bonifácio IX

1400: Bonifácio IX

1423: Martinho V

1450: Nicolau V

1475: Proclamado por Paulo II, presidido por Sisto IV

1500: Alexandre VI

1525: Clemente VII

1550: Proclamado por Paulo III, presidido por Júlio III

1575: Gregório XIII

1600: Clemente VIII

1625: Urbano VIII

1650: Inocêncio X

1675: Clemente X

1700: Aberto por Inocêncio XII, encerrado por Clemente XI

1725: Bento XIII

1750: Bento XIV

1775: Proclamado por Clemente XIV, presidido por Pio VI

1825: Leão XII

1875: Pio IX

1900: Leão XIII

1925: Pio XI

1933: Pio XI

1950: Pio XII

1975: Paulo VI

1983: João Paulo II

2000: João Paulo II

2015: Francisco

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