Igreja: Frei Mário Rui Marçal reconhece que quanto «mais difícil é a situação» em cenários de missão, «maior é a cooperação» entre as pessoas

Assistente espiritual da FEC e Joana Peixoto, da mesma organização, antecipam Dia Mundial das Missões e recordam participação no Jubileu 2025

Lisboa, 27 out 2025 (Ecclesia) – O frei Mário Rui Marçal, frade dominicano e assistente espiritual da Fundação Fé e Cooperação (FEC), destacou a importância da “cooperação” e “entreajuda” em cenários de missão, recordando as experiências que já realizou.

“As situações de missão em muitos locais do mundo são extremamente difíceis”, afirmou o religioso, lembrando que viveu em Angola em tempo de guerra e que “quanto mais difícil é a situação, maior é a cooperação, a solidariedade entre as pessoas”.

Na entrevista emitida hoje no Programa ECCLESIA (RTP2, 15h), a propósito do Dia Mundial das Missões, no domingo, o frei Mário Rui Marçal lembrou um provérbio africano, relacionando com o modo de ser Igreja: “Se queres ir depressa vai sozinho, mas se queres ir longe vai com os outros”.

“A experiência de Igreja é esta, se queremos caminhar e ir longe temos de ir uns com os outros e reforçar esta cooperação”, realçou.

Joana Peixoto, da Fundação Fé e Cooperação, recordou a experiência de missão que teve em Moçambique, contando que “quando as pessoas são olhadas com dignidade”, há “intenção do trabalho em conjunto, porque percebem que realmente há uma equipa”.

“Penso que muitas vezes os missionários são encarados desta forma. Primeiro há uma alegria imensa de quem recebe, porque se sente visitado, acolhido e se sente colocado em primeiro lugar, porque há alguém que chega para trabalhar em conjunto […]”, começa por dizer.

Depois, refere a entrevistada, “há um fortalecimento da relação que vai acontecendo enquanto os trabalhos se vão desenvolvendo”.

“E por isso, eu acho que este olhar com dignidade, que é recíproco, é um ponto de partida muito importante para os trabalhos que são desenvolvidos. Não interessa a geografia, porque quando trabalhamos com pessoas e para pessoas, temos que nos olhar como iguais”, reforçou.

A Fundação Fé e Cooperação participou no Jubileu do Mundo Missionário, inserido no Ano Santo 2025, no Vaticano, que decorreu nos dias 4 e 5 de outubro, tendo estes sido dias, segundo Joana Peixoto, “de grande privilégio” para a organização e para a equipa.

A responsável refere que a experiência foi feita com membros da FEC presentes na sede em Lisboa, mas também do Conselho de Administração, com o frei Mário Rui Marçal e colegas com quem a organização trabalha nos diferentes países.

“Acho que foi mesmo uma grande alegria podermos viver este momento em conjunto. Depois, este jubileu também surge no ano da celebração dos 35 anos da FEC e pudemos fortalecer a nossa equipa, não só na relação, mas também na espiritualidade que nos move”, referiu, indicando que a participação no Ano Santo vai ser “muito benéfica” para o trabalho futuro.

“Fazer esta viagem, que é mais que uma viagem, é uma peregrinação, é, antes de mais, redescobrir o sentido da vida de cada um de nós, mas também da vida da instituição, neste caso da FEC”, ressaltou o frei Mário Rui Marçal.

Questionado sobre o risco de a celebração do Jubileu centrar-se em Roma e não se espalhar aos países de missão, o frade dominicano acredita que esta não é uma questão geográfica e que o Papa Francisco, quando escreveu a bula de proclamação, “pedia que houvesse oito grupos que estão presentes de uma forma ou de outra em todas as sociedades”.

“Eu lembro, por exemplo, doentes, idosos, presos, jovens, os mais pobres e mais vulneráveis. Há grupos que estão presentes em todo o lado. E o jubileu, na Bíblia, no livro do Levítico, no capítulo 25, tem uma dimensão religiosa, mas tem sobretudo uma dimensão social”, disse, referindo que o “grande risco para a Igreja” em todos os países é que esta seja esquecida.

O frei Mário Rui Marçal lembrou os três grandes sinais que o Papa pediu para o mundo na mensagem para o Dia Mundial da Paz, nomeadamente a criação de um fundo para acabar com a fome e, por questões de justiça ecológica, um perdão de dívidas impagáveis.

“E este perdão não é só dizer então não pagam mais e começa tudo outra vez”, sublinha, referindo “que o dinheiro que devia ser reembolsado aos países mais ricos” deveria ser “gasto nos países devedores, em educação, em saúde, em infraestruturas de água, saneamento”.

“Eu creio que nós como cristãos não podemos celebrar o jubileu se esta peregrinação, se posso dizer religiosa, este irmos ao encontro de Deus, não tiver uma dimensão de libertação social concreta na vida das pessoas e em cada comunidade é preciso dar sinais concretos disto”, destacou.

Para o frade dominicano, “Jubileu é libertação, é começar de novo, de uma maneira nova, de uma forma mais justa”

“É isso que temos na escritura, é isso que temos de tornar a atualidade”, frisou.

A FEC – Fundação Fé e Cooperação é uma Organização Não-Governamental para o Desenvolvimento, organismo da Conferência Episcopal Portuguesa, que tem como missão promover o desenvolvimento humano integral, com a visão de construir uma sociedade onde cada pessoa possa viver com dignidade e justiça; criada em 1990, atualmente tem intervenção em Angola, Guiné-Bissau, Moçambique e Portugal.

LS/LJ

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