Igreja francesa adere aos jornais gratuitos

«Nada substitui o papel», considera uma responsável dos vários projectos que estão a surgir

À primeira vista, nada distingue «Vivre Noël» de outros jornais gratuitos: um formato compacto, várias secções, títulos apelativos e artigos ágeis, tudo num visual cuidado… Nada? Na verdade, trata-se do primeiro “gratuito religioso” publicado em grande escala na França.

O jornal, lançado a 10 de Dezembro pela editora Bayard e pela diocese de Marselha, teve uma tiragem de 55 mil exemplares. A publicação foi distribuída nas estações do metro, na principal estação ferroviária, nos mercados natalícios e às portas das igrejas.

Segundo Frédéric Fonfroide, responsável da editora, o objectivo “é dar sentido à festa do Natal” e levar uma “palavra de esperança ao grande público”.

O arcebispo de Marselha, D. Georges Pontier, é sensível ao facto de a iniciativa, que classifica de “audaciosa”, ultrapassar o universo cristão.

Ao longo das suas 24 páginas, a publicação reserva parte significativa do seu espaço à vida local, religiosa e cultural.

A expectativa é grande, mesmo nos não praticantes

A diocese de Paris também se prepara para aderir aos gratuitos. “O nosso semanário diocesano «Paris Notre-Dame» (seis mil assinantes) não é um jornal para o grande público, mas uma ferramenta para acompanhar os actores da missão”, explica Marie Baudouin, do departamento de comunicação diocesano.

No entanto a Igreja parisiense sente que também precisa de dirigir-se às pessoas que não circulam na órbita eclesial. E se a Internet pode ser uma resposta, “nada substitui o papel”, assegura aquela responsável.

A primeira tentativa será um número extraordinário do semanário diocesano, com uma tiragem entre 75 e 100 mil exemplares. A distribuição desta edição natalícia será feita nas paróquias, ao contrário do projecto da diocese de Marselha, que se apoia em empresas profissionais.

Marie Baudoin considera que esta opção contribuirá para estimular os católicos a “entrar numa dinâmica missionária”, num período do ano onde “a expectativa é forte, mesmo nos não praticantes”. O conceito deverá ser repetido na Quaresma e no início do novo ano pastoral, em Setembro.

A par destas edições pontuais e localizadas, estão a ser concebidos outros projectos com objectivos mais vastos. É o caso de «Teomag», que deverá ser editado a partir de Janeiro em toda a França, com uma tiragem de 200 mil exemplares, chegando aos 500 mil, assim se espera, antes do fim de 2010.

Evitar concorrer com boletins paroquiais

«Teomag» quer ser “um gratuito missionário” que leva à “descoberta da fé cristã através da actualidade, da psicologia, da espiritualidade e da cultural, articulando informação local e nacional”, sintetiza Jean-Baptiste Fourtané.

O jornal incluirá secções comuns e outras variáveis, em função do contexto local. A mobilização das dioceses e paróquias é um dos principais eixos deste projecto: “Nós propomos-lhes páginas especialmente dedicadas, em troca de financiamento”. A redacção ajudará as instituições católicas a “hierarquizar as suas informações e a reescrever os seus artigos”, explica aquele responsável.

Mas será que estas publicações conduzirão ao fim dos boletins paroquiais e diocesanos? Seria lamentável, responde o arcebispo de Marselha: “É preciso evitar que estes novos gratuitos não concorram com as publicações paroquiais, que não têm o mesmo objectivo e a mesma periodicidade, e cuja vocação é unir a comunidade local e servir a vida interna da Igreja”.

Modelos económicos diferentes

Para D. Pontier, a experiência do «Vivre Nöel» foi um “modelo de sinergia” entre a Bayard, grupo de imprensa com experiência reconhecida, e uma estrutura eclesial. Mais do que tudo, sublinha o prelado, “a pedagogia utilizada respeitou todos”.

Ainda que haja algumas cambiantes, estes projectos pretendem propor um conteúdo cristão a pessoas que estão afastadas da Igreja. “A nossa ideia é de falar com o máximo de pessoas sobre questões essenciais que temos em comum: família, educação, trabalho…”, afirma o P. Jean Rouet, vigário geral da diocese de Bordéus, que se prepara igualmente para lançar um gratuito na Primavera, com uma tiragem de 100 mil exemplares.

Outra diferença entre estas publicações reside nos modelos económicos. «Teomag», que pretende ter uma periodicidade regular, baseia-se num financiamento repartido (45% de publicidade, 35% da paróquia ou diocese e 20% de assinaturas de apoio).

A editora Bayard conta essencialmente com os anunciantes, apostando nos tempos fortes do ano, como o Natal, Páscoa e Todos os Santos. D. Pontier recorda que “as festas religiosas fazem parte dos momentos que marcam a vida das pessoas. Muitas procuram encontrar referências nessas alturas”.

Com Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura

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