Carta publicada na revista «Praça de São Pedro» sugere «caminho de acompanhamento» para recuperar relação
Cidade do Vaticano, 12 mar 2025 (Ecclesia) – O Papa respondeu à carta de uma mulher traída pelo marido, que lhe pergunta sobre a possibilidade de perdão, numa relação, sublinhando que perdoar “é a coisa certa”, mas que é preciso compromisso das duas partes.
“Pede um sinal para compreender que perdoar o imperdoável é a coisa certa. Sim, é a coisa certa, mas não é a única coisa a fazer”, refere, num texto escrito antes do seu internamento no Gemelli e divulgado hoje na revista mensal ‘Praça de São Pedro’, que explora temas de fé, espiritualidade e vida quotidiana.
Depois de, em fevereiro, ter escrito a uma mãe que perdeu um filho jovem, Francisco responde agora a Cátia, que lhe pergunta: “O meu marido está a trair-me, é correto continuar a perdoar-lhe?”.
“Descobri que o meu marido me anda a trair há mais de um ano com uma mulher mais nova. O motivo? Ter-lhe pedido um filho para o qual ele diz hoje não estar preparado”, explica a mulher.
Na sua carta, Cátia relata que o seu marido começou a rezar consigo todos os dias e a acompanhá-la à Missa todos os domingos, após ter confessado a traição, mas continuou a “mentir”, durante esses meses.
“Sinto-me magoada, enganada, humilhada e perdida”, escreve.
O Papa reconhece que “não é fácil perdoar, principalmente quando se é traído no amor, nas palavras, na confiança”.
“Deus perdoa-nos sempre e quer que façamos o mesmo. Cada história, porém, é sempre especial, diferente, única”, acrescenta.
Francisco distingue entre o ato de perdoar e a “dinâmica positiva de uma história de casamento.
“Estes aspetos podem estar interligados (um é bom para o outro, e vice-versa), mas é preciso também prestar atenção ao percurso pessoal do perdão, que cura as feridas e se desfaz de todo o ressentimento e julgamento sobre a vida do outro, por oposição à verificação matrimonial do estar juntos na caridade e na verdade, e que tem a sua própria autonomia, independente da capacidade de perdoar”, pode ler-se.
A carta cita o capítulo 6 da exortação apostólica ‘Amoris laetitia’ (2016), escrita após as duas assembleias sinodais dedicadas aos temas da família e do casamento, na qual o Papa defende que “a consideração da própria dignidade e do bem dos filhos impõe um limite firme às exigências excessivas do outro, às grandes injustiças, à violência ou a uma falta de respeito que se tornou crónica”, reconhecendo que “há casos em que a separação é inevitável”.
Francisco cita ainda o quarto capítulo da ‘Amoris laetitia’, realçando que, quando existe amor, este é “capaz de paciência, de remendar, de reparar”.
“Nesta procura de um amor verdadeiro com paciência, bondade, benevolência, reciprocidade, pode pedir ao seu marido para fazerem juntos um caminho de acompanhamento, por exemplo alguns encontros com um casal cristão empenhado em apoiar casais feridos, partilhando experiências de vida, dificuldades, perdão, reconciliação”, recomenda.
“Com a oração e o perdão, que constroem e reforçam a conversão de cada um, o bem cresce e pode vencer qualquer mal. Para Deus, nada é impossível. Esperemos que o seu marido aceite este novo caminho, porque – se há amor num casal – o amor pode curar todas as feridas e ressuscitar o casamento”, conclui o Papa.
OC