«O mundo que atravessamos parece todo escuro, desencantado, sem Deus e sem profetas, sem amor, sem pais nem mães, filhos e irmãos, sem namorados» – Comissão Episcopal do Laicado e Família
Lisboa, 14 fev 2024 (Ecclesia) – A Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) deseja que os “jovens enamorados” sejam “felizes”, incentiva-os a acolher “o amor de Deus, e, no meio de tantas guerras” que se empenhem na “luta do amor”, numa mensagem por ocasião do Dia dos Namorados.
“Amar é uma sucessão de atos em cadeia: uma guerra, portanto. Não é por acaso que agápê (amor) e agôn (luta) podem ter a mesma etimologia. Paradoxo do amor, que é uma luta, a luta do amor, do amor novo, que não é contra ninguém, mas a favor de todos: o amor faz-te feliz, matando-te! Quanto mais amas, lutas, e te matas a amar, mais te encontras”, lê-se na mensagem da Comissão Episcopal do Laicado e Família (CELF), organismo da CEP.
A nota assinala que “amar não é só estar apaixonado” e estar apaixonado “não significa necessariamente amar”, porque “estar apaixonado é um estado” e “amar é um ato” e explica que se “sofre um estado; decide-se um ato”.
“É, por isso, que o Deus da Escritura manda amar. Se amar fosse simplesmente apaixonar-se, tal mandamento seria um absurdo, pois ninguém pode exigir a alguém que se apaixone”, refere o texto.
Sede felizes, jovens enamorados! Acolhei o amor de Deus, e, no meio de tantas guerras, empenhai-vos vós na guerra do amor!”
Os membros da Comissão Episcopal do Laicado e Família alertam que se atravessa “uma cultura solipsista e narcisista”, que traz consigo, como obsessão dominante, “viver cada um no seu naco de tempo e para si mesmo”, descurando as gerações precedentes e as seguintes, por isso verifica-se uma “acentuada perda de sentido de integração” numa sucessão de gerações, numa família, numa comunidade, numa Igreja.
Em termos cristãos e eclesiais, acrescentam, qualquer dinâmica pastoral ou mensagem pastoral tem de ter sempre “como trampolim” a Palavra de Deus recolhida na Escritura Santa, e salientam que “é preciso urgentemente trazer de volta a Palavra de Deus” – «Tu és bela, minha amada/terrível como um exército em ordem de batalha» (Cântico dos Cânticos 6,4) -, que não deixa na presença de “um amor banal, de plástico, de bolso, enlatado, mas de um amor que faz estremecer e implica o risco de morrer”.
“O amor verdadeiro é agónico. Implica luta, porque implica decisões a todo o momento. Quando o amor não é agónico, então é egoísta. E, sintomaticamente, no mundo bíblico, a nascente do mal não reside na paixão, no coração que bate forte, mas no coração duro, empedernido, empedrado, esclerosado, um «coração de pedra», oxímoro vertiginoso que o profeta Ezequiel usou para classificar o coração empedernido e embotado de Israel”, desenvolve.
A mensagem para o Dia dos Namorados lembra também a história entre a tartaruga, que sai do seu esconderijo para um passeio noturno, e do sapo, que a adverte que a ‘hora não é muito aconselhável sair’: “A tartaruga ensina que não nos podemos contentar em viver mais ou menos tranquilamente com a cabeça enterrada na areia do céu ou da terra”.
Os membros da Comissão Episcopal do Laicado e Família observam que a humanidade “não está destinada a morrer por falta de conhecimento, mas por falta de assombro e de maravilha”, e o mundo “parece todo escuro, desencantado”, sem Deus e sem profetas, sem amor, sem pais nem mães, filhos e irmãos, sem namorados, “só com armas e soldados”.
Liturgicamente, 14 de fevereiro é o dia da festa de São Cirilo e de São Metódio, mas a Diocese de Terni, na Itália, celebra o seu padroeiro, São Valentim – primeiro bispo desta localidade, que morreu como mártir, provavelmente no século IV.
Este nome está ligado a algumas lendas, segundo as quais Valentim teria morrido decapitado por se ter recusado a renunciar ao Cristianismo e por, secretamente, ter celebrado o casamento entre uma jovem cristã e um legionário, apesar da proibição de Cláudio II (século III).
CB/OC