Mmissionário da Boa Nova relata de que forma a missão se realiza num contexto e cultura diferentes da europeia, numa geografia em que menos de 1% de população é católica
Lisboa, 19 ago 2024 (Ecclesia) – O padre Nuno Lima, missionário da Boa Nova no Japão, afirmou que a evangelização no país asiático se faz através da palavra, mas sobretudo da presença, da qual faz parte o “silêncio”.
“A evangelização faz-se, por palavras também, mas sobretudo pela nossa presença e aí, às vezes, é preciso estar também em silêncio”, afirmou o pároco da Catedral de Osaka (Japão), em entrevista ao programa ECCLESIA, transmitido esta segunda-feira, na RTP2.
Dos 25 anos de presença no Japão, em que menos de 1% da população é católica, o sacerdote destaca que aprender uma nova língua e uma cultura tão diferente obriga a estar muito tempo em silêncio e que é nesse tempo de escuta que o “espírito vai trabalhando” na cultura japonesa.
“Estava a pensar exatamente no cuidado que as coisas têm no Japão, a gentileza das pessoas, esse cuidado que há na cultura japonesa, essa atenção ao outro, que se manifesta em diversas coisas, pode ser um modo também de entrar em contato e em diálogo com as pessoas”, referiu.
Apesar do silêncio e do respeito pelo tempo serem características do mundo oriental, o padre Nuno Lima sublinha que “o Japão não é uma cultura idílica”.
“Os stresses da sociedade quotidiana, da sociedade moderna, estão presentes também no Japão, mas, de facto, se nós estivermos atentos a essas dimensões vemos aí possibilidades de fazer silêncio e para ir ao encontro”, salienta.
Para o sacerdote, o tempo altera muito o modo como as pessoas se relacionam com as outras e até como rezam.
“Quando celebro em português, a missa é mais rápida em português do que em japonês, o ritual é o mesmo, mas a missa celebrada em japonês, eu pessoalmente quando celebro em japonês celebro de um modo mais tranquilo, mais lento”, confidencia.
O padre Nuno Lima é o atual pároco da Catedral de Osaka, que considera ser “bastante interessante em termos arquitetónicos, porque é uma igreja construída com linhas ocidentais”.
“A imagem da Nossa Senhora que é venerada na Catedral é um painel grande, de dimensões grandes, feita por um pintor japonês com uma imagem de Maria com traços japoneses, com kimono. É próprio aquilo que nós gostaríamos que acontecesse, esta junção do cristianismo com uma alma japonesa”, ressalta.
Estando a paróquia de Osaka situada no centro da cidade, junto ao castelo, por onde passam muitas pessoas, o sacerdote fala que o objetivo é que o espaço proporcione o “encontro de diversas culturas”.
“A nossa própria pastoral agora é muito mais multicultural do que há uns anos, porque há muitos mais estrangeiros no Japão”, indica o padre Nuno Lima, que realça que as missas ao domingo são rezadas em japonês, inglês, vietnamita e coreano.
O pároco da Catedral de Osaka dá ênfase ao facto de a Igreja no Japão, sendo minoritária, sempre foi “aberta às outras realidades religiosas e culturais”.
“Depois da II Guerra Mundial é uma sociedade pacífica em que não há grandes confrontos, foi fácil fazer caminho de diálogo entre as diversas tradições religiosas no Japão, e a nível institucional, se quisermos dizer assim, há um caminho feito e depois há o caminho também que é feito na vida do dia-a-dia, entre nós com os amigos, com as pessoas que nos encontramos e as famílias”, adianta.
A cidade de Osaka vai acolher a próxima Exposição Universal, de 13 de abril a 13 de outubro de 2025, sob o tema ‘Projetando a sociedade do futuro para as nossas vidas’ e o padre Nuno Lima vai ser o vice-comissário do pavilhão do Vaticano.
“Estamos a trabalhar, de facto, para que a presença do Vaticano, da Igreja neste evento […] não seja apenas no terreno da Expo, mas seja também na Catedral ou noutras igrejas da Diocese, para que este movimento da esperança, que será do próximo ano santo, seja também uma mensagem que possamos transmitir à sociedade japonesa neste momento”, assinala.
Questionado sobre que oportunidade pode ser a Jornada Mundial da Juventude Seul 2027 (Coreia do Sul), que se realiza no continente asiático, o padre Nuno Lima diz olhar “com expectativa” para o encontro, uma vez que se realiza “bastante próximo” do Japão.
“Esta participação numa Jornada da Juventude, em que podem encontrar jovens da mesma idade, de diversas culturas, de diversos países, é para eles também um modo de experienciar esta Igreja universal que é feita de diversas culturas e de diversos povos. Por isso, vamos tentar que mais jovens de Osaka e de Japão estejam presentes na Coreia [do Sul]”, assegurou.
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