Presidente do Conselho Pontifício da Cultura apela ao diálogo contra o medo
Lisboa, 30 jan 2015 (Ecclesia) – O cardeal Gianfranco Ravasi, presidente do Conselho Pontifício da Cultura (CPC), organismo da Santa Sé, disse hoje à Agência ECCLESIA que a Europa precisa de um Cristianismo forte para travar o avanço do fundamentalismo.
“Temos no ADN do Cristianismo a capacidade de estabelecer pontes, que é o exato oposto do fundamentalismo, que levanta um muro, isola-se. Em substância, há uma forma de medo quando alguém se isola e prefere o confronto”, referiu em Lisboa, onde foi agraciado com o grau de doutor ‘honoris causa’ pela Universidade Católica Portuguesa.
O ‘ministro da Cultura’ do Vaticano diz que este é um desafio particularmente premente num momento em que se debate a relação entre liberdade de expressão e o respeito pelas religiões, após os atentados de Paris.
“Conheço um pouco da língua árabe, da cultura, da literatura de marca muçulmana. O grande risco, a grande dificuldade de um certo Islão de hoje é o confronto da modernidade, o confronto com o mundo que é diferente, que não está apenas circunscrito ao interior do próprio oásis”, assinalou.
Segundo o cardeal italiano, é preciso mostrar ao mundo muçulmanoque não se pretende contrapor ao fundamentalismo “o medo ou outro fundamentalismo, mas o desejo de compreender, de ver os seus valores”.
Neste sentido, observou o presidente do CPC, é necessário reafirmar a própria identidade face ao outro.
“Nós somos cinzentos. O Cristianismo europeu já não é capaz do diálogo, não só porque tem medo mas também porque não tem os seus próprios valores, não tem confiança em si mesmo, na grandeza da mensagem e da herança cristã”, advertiu.
A entrega das insígnias decorreu esta tarde, durante a sessão académica que antecede o Dia Nacional da UCP, assinalado anualmente no primeiro domingo de fevereiro, em 2015 sob o lema ‘Alargar Horizontes’.
Esta quinta-feira, o colaborador do Papa pronunciou a conferência ‘Parábolas mediáticas e parábolas evangélicas – Comunicar a fé no tempo da internet’.
“Sabemos que hoje, na cultura contemporânea, houve uma mudança radical no uso da palavra”, com a comunicação digital, referiu D. Gianfranco Ravasi à Agência ECCLESIA.
Neste sentido, acrescentou, a “Igreja tem diante de si um desafio”, o de adaptar-se a uma nova comunicação que tem uma “gramática própria”, à imagem do que aconteceu no século I com o Apóstolo Paulo, que “a partir de uma pequena comunidade provincial, com uma língua marginal, periférica, teve de transferir o Cristianismo para o interior do Império Romano, com o inglês da altura, o digital da altura, que era o grego”.
Nascido em 1942, D. Gianfranco Ravasi foi ordenado padre em 1966 na Arquidiocese de Milão, tendo sido nomeado nos anos seguintes prefeito da Biblioteca Ambrosiana, professor de exegese bíblica na Faculdade de Teologia da Itália Setentrional e membro da Pontifícia Comissão Bíblica.
Recebeu a ordenação episcopal em 2007 e foi criado cardeal por Bento XVI, a 20 de novembro de 2010.
OC